terça-feira, 18 de março de 2025
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quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
E meu diretor favorito morreu: David Lynch (1946 - 2025)
E, nesse janeiro chuvoso, frio, úmido e melancólico, acabei de saber que meu diretor favorito se foi desse mundo cão. O David Lynch morreu.
Lembro-me do primeiro dia que vi Veludo Azul (Blue Velvet/1986). Foi pela televisão, de madrugada. Quando eu ainda tinha sonhos, anseios e uma quase infundável crença numa descarada felicidade. Se eu fechar os olhos, ainda vejo a cor azul balançando ao fundo, as letras em tom de branco e escuto a música de perigo, atenção e despertar. Em contraste, tudo fica negro, e as cercas brancas aparecem: TULIPAS! As crianças felizes, uma mulher que as conduz quase em movimentos robóticos... E depois, no SUBMUNDO, os besouros, a terra, a LAMA: lá estava a orelha - envolta em mofo! E a partir dali o abismo se misturaria aos tons de amarelo, à cerveja, ao "candy-colored clown", às drogas, ao Jeff e Dorothy, todos capturados pela teia profana de Frank Booth. Esse era o cinema bizarro e incrível de Lynch. A minha vida estava ali. Aquele cara, aquela direção, nada... Absolutamente nada sairia da minha mente.
Tratava-se de uma outra existência. Eu não tinha dor. Eu não vivia por ela. Eu me perdi. Flutuei por um tempo que nunca foi meu. As coisas mudaram e tiraram, talvez, muito do melhor de mim. O tempo escorreu como um líquido asqueroso e putrefato, verde, latejante em tom fluorescente. Fui privada dos rostos que amava e que tinha um prazer enorme em contemplar. O agora é jovem e superficial, roubou as conversas agradáveis, um pouco da verdade, o amor utópico, o frio na barriga, o gosto bom do café... E agora o David Lynch.
Eu adio o psiquiatra. Adio meus afazeres... Adio o meu êxtase em viver. E só me sobram os sonhos, indecifráveis, esquisitos, desconfortáveis – eu não durmo! Provavelmente, somente ele, o Lynch, poderia compreender e transformá-los em uma arte irretocável, como tantas vezes fez com seus próprios demônios; e me colocar de novo nesse mundo que teima em dizer que eu já não sei mais quem eu sou e qual o meu propósito.
Lynch tinha um estilo único, assim como seus personagens: todos chamativos por fora e atormentados por dentro. Essa sou eu. Meu exterior reflete cores. Meu interior é só sombra e nébula. Disfarçá-lo é uma questão de sobrevivência.
Seu eu pudesse gritar, gritaria. Quebraria tudo. Largaria esse mestrado maldito. É um peso tão grande. Enorme, do sentir-se um ser altamente rejeitado e fora de contexto.
E o que me resta? Lembrar do David Lynch. Do ontem. E reassistir aos filmes dele. Ele morreu aqui. Mas tem os acolás. E me pergunto se ele vai encontrar a verdade por trás das suas assombrações.
Ser ímpar é exatamente isso: fazer com que milhares sintam que a própria estranheza é um deleite. E Lynch foi mestre nessa arte. Não haverá outro!
Vá pela sombra, eterno!
terça-feira, 31 de dezembro de 2024
Feliz 2025! E que venham somente coisas boas!
Bem, esse ano eu praticamente não escrevi por aqui. Tenho muito para contar, explorar e debater.
Entrei para o Mestrado de História. E isso criou-me um bloqueio criativo e de escrita.
Entretanto... Desejo um ótimo 2025!
Aguardemos somente o bom, o amável e a calmaria dentro de uma xícara de café!
terça-feira, 25 de abril de 2023
Porque eu não quero mais um Mr. Darcy
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Matthew MacFadyen como Mr. Darcy em Orgulho & Preconceito (2005) |
sábado, 31 de dezembro de 2022
Etarismo e o ano novo... Alegria dos 37 roubados!
Lembro-me da primeira vez que vi o famoso "etarismo" de perto. E eu só tinha 27 anos. E foi assim...
"No auge da minha ilusão com o curso de Física, deixei-me levar pela inocência de que todos adorariam saber sobre os anos 90 e minhas preferências mais saudosistas. Estávamos em uma mesa do refeitório da UFMA. Um rapaz (que tinha no máximo uns 21 anos) fala isso: - Nossa, essa menina é velha demais!."
E ali eu perdi um pouco da minha essência. Melhor, a escondi, passei a suspeitar de mim mesma e das minhas qualidades. O que me causava um sorriso no rosto, um orgulho em falar, transformara-se numa espécie de LETRA ESCARLATE.
Não seria surpresa dizer que cursar Física foi um destino cruel e necessário. Eu precisava ver de perto que aquilo não era para mim, por mais que eu amasse Astronomia. Porém, ainda pergunto-me, como eu estaria se não tivesse passado por esse tipo de violência.
Como seria o meu eu hoje se tivesse passado por experiências mais agradáveis, tivesse os amores que eu desejei e acreditasse que a minha vida valesse algo significativo para o mundo? Melhor? Pior? São só suposições. O que eu sou hoje é o que eu posso oferecer no momento. Isso sim é a realidade fria.
Mudei. Me formei em História. Dei aulas de Contabilidade. Não fui paga. E ainda sinto um gosto do escanteio, da falta de conexões: com esse mundo e com o meu anterior que me mantinha verdadeiramente cheia de vida.
Antes desse ano terminar, eu preciso falar sobre o meu erro do ano passado. Eu mesma procurei isso, por motivos nobres e que foram a minha derrota. Eu falei do roubo da alegria de completar mais um ano a cada temporada. Roubaram a minha alegria de ter 27, de ter 35, dos 36 e, finalmente, dos 37:
"Numa tempestade de palavras hostis, nascida da boca de um homem maligno (e que eu não deveria ter novamente me aproximado), escutei - "Uma mulher de quase 40 anos!". Eu ainda posso sentir o peso, o desprezo, a vontade dele de me atingir e ferir, como em um deleite fervente por fazer exatamente o que pretendia. Eu tinha 35 e ele tinha 33."
Então, uma mulher ter 40 anos é motivo de escárnio? É o fim da dignidade da mesma? E eu nem os tinha ainda e ainda não os tenho. E, mesmo assim, foram-me roubados juntamente com a plenitude futura.
Em outro momento... No mesmo ano... Um rapaz de 26 disse que: "Nossa, tu é mais velha que o meu irmão mais velho!". Em um encontro.
E isso tornou-se rotina. Seriam as companhias? As escolhas de vida? Ou somente eu mesma?
Seria possível ter uma felicidade nunca sentida aos 37? Ou aos 40 anos? Parece bem improvável.
Não tenho mais o vigor anterior de escrever. Por isso essa postagem é para lembrar-me do que me machuca e do que preciso me curar. Aqui redijo com melancolia. Um sabor metálico de tristeza assola-me. E a solução? Não sei. Preciso de um psicólogo? Um psiquiatra? Aceitar a solidão e um mundo perdido para mim? Ou providenciar novos óculos, novos olhos e novos ares para esse novo ano? Quero um emprego fixo e meu tão sonhado mestrado. E também trabalhar em um museu e escutar as vozes silenciadas do passado.
Que seja um ano melhor... Pelo menos um pouco.
domingo, 30 de outubro de 2022
Agora sou licenciada em História: graduação terminada!
E, no dia 26 de setembro de 2022, me tornei Historiadora, ou Professora de História, ou mesmo, simplesmente, Licenciada em História. Foi uma caminhada peculiar em uma área segura para enfrentar os fantasmas que teimam em se fazer presentes.
E por que tudo ainda persiste no cinza? Talvez seja a falta de um emprego, ou exercer a profissão em um Museu ou Arquivo (o ideal), ou mesmo refletir sobre os desejos de um Mestrado e um Doutorado que podem não acontecer tão rápido assim.
Sinto falta de muitas pessoas que se foram. Seria muito interessante contar para as mesmas como é estranha a sensação de conquistar algo e, ao mesmo tempo, sentir-se uma injustiçada ou uma impostora. Como se nenhuma fatia do mundo pertencesse a mim. Avalio, algumas vezes, uma pequena nota de um suicídio imaginário. E endereçaria os meus preciosos livros para aqueles que saíram da minha vida como luzes débeis que se afastaram de um monstro.
Tudo é tão pesado e humilhante. Nos últimos dois anos, deixei de escrever sobre o que eu sentia, pois não há sentimento; nem mesmo a raiva que movia-me como um combustível inesgotável. Inexistem amores das esquinas ou das praças, com seus rostos misteriosos e chamativos, pois meus olhos se fecharam e só enxergam o mal ou o desinteresse. Sou vítima da minha idade, do meu corpo e de mim mesma.
E não os culpo. Afinal, há muitas pessoas jovens e notáveis por aí. Por isso afeiçoei-me ao conhecimento, aos estudos e a um outro universo. Melhor, apeguei-me aos mortos e suas narrativas de anos, décadas e milênios. Eles não podem me esnobar e deixam-me tocá-los gentilmente através das palavras escritas, fotos e outros acervos do passado.
Pudera eu resgatar aquela sensação de gosto de coalhada e maçãs e que, misturadas, criavam uma atmosfera de sabor ansioso e êxtase.
Contudo, não há chance mais para isso.
Assim, conformo-me e volto a pensar em uma nota sobre a morte da minha própria alma: condenada por merecimento.
sábado, 16 de abril de 2022
O Homem Desesperado de Courbet (em essência, eu mesma refletida...)
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Autorretrato de Gustave Courbet: 1843-1845 - Le Désespéré ou O Homem Desesperado (The Desperate Man) |
Paralelamente, se, por muitas vezes, vejo-me nesse Courbet, por outras, sinto-me como o homem solitário de Der Wanderer über dem Nebelmeer (Caminhante Sobre o Mar de Névoa ou Wanderer above the Sea of Fog) de Gaspar David Friedrich. É uma outra face do mesmo eu perturbado, apenas num tom de Romantismo e poesia do pintor alemão, num mergulho horizontal nas próprias escolhas da vida.
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Der Wanderer über dem Nebelmeer ou Caminhante Sobre o Mar de Névoa (Wanderer above the Sea of Fog) - Gaspar David Friedrich - 1818 |
terça-feira, 5 de abril de 2022
Mirabella
Galego e Português encontram-se como parentes separados por um oceano. E conversam, às vezes, sobre as suas nobres origens do Latim. E não muito distante disso, Ariano Suassuna disse, certa vez, ao grande Carlos Núñez, músico galego, que gostava muito do som de sua língua. E numa prosa muito frutífera, puseram-se os dois frente à frente, entre toques de gaita, num entendimento perfeito. Eis aí um pouco do meu amor por esse idioma, que inspirou também Garcia Lorca, em Seis Poemas Galegos, de 1935.
Não vou me por a fazer um tratado sobre a língua galega a uma hora dessas da madruga. Aqui só quero expressar um pouco desse sentimento saudosista, de cheiros, gostos e do por vir. Esse último tão promissor e amedrontador por ser, também e agora, um não acontecer.
Para lá, depois do imenso mar, tem-se o Caminho de Santiago, místico e destino. E para cá, no sertão, também assim se chama; herança dos tempos coloniais de ganhos, perdas e transformação.
E a cada nome que eu descubro e que leio nessa língua, vejo a vastidão das possibilidades imaginárias. Assim é um mirar belo, de Mirabella, da canção que traz o conto melódico do amor e do temor do descaminho. É ela um ser do maravilhoso, numa narrativa dentro do mirabillis, que, no final, é o próprio Latim.
Um ótimo nome que guardarei, bem como as jornadas galegas de Ariano e Carlos e a voz sussurrante e calma de Rosa Cédron.
domingo, 3 de abril de 2022
O meu eu de promessas e ruínas em uma cidade feita de decadências
A São Luís de hoje não me promete mais nada. Porém a de tempos imemoriais é tudo: estranhamente inquietante, fantasmagórica, doente, pueril, bucólica, campestre e em ruínas; longe do meu eu físico e perto dos meus sonhos. Oferece-me histórias e deixa que eu crie rostos e corpos, que trace suas moradias e suas vidas. Ela não pode ferir-me como a cidade de agora, em que cada face é um inimigo, uma intriga, um olhar de desdém. Deixo-me envenenar por suas promessas não cumpridas.
Vislumbro um enorme vazio, cinza e bolorento, uma sordidez sem precedentes. Tenho um sentimento de apatia, de desesperança e de escárnio travestido em roupas chamativas, discursos vazios e pautas esquecíveis de todas as cores.
A minha infelicidade aqui é a pura fome: de pessoas, de ânimo, de sentimento. Bebo o insípido cotidiano urbano. Olho o contraste entre os apartamentos luxuosos, dos homens e mulheres na pequenez da atrasada burguesia, e o Reviver, com seus humilhados e explorados, igualmente esquecidos e somente notados através das folhas de algum panfleto partidário, de alguma secretaria do estupor.
Preocupo-me com o respeito que eu não possuo e com a dignidade que me falta, e que vem somente com o barulho de muitas moedas. Eu sou um produto das oportunidades natimortas e roubadas. Fui violentada com palavras pelos filhos daqui: pelos homens-crianças de todas as classes: da elite fétida e improdutiva até aqueles que hoje reivindicam algum posto de alicerce cultural.
Sinto há muito tempo o vento frio do descontentamento. Tenho sede e fome de unicidade, que não cessa e só aumenta. E sabe o que mais eu tenho? Uma coleção de conversas tediosas, de seres fracos e deprimentes, que não me servem nem mesmo para um amor casual e despreocupado em uma madrugada de qualquer dia do calendário. São todos eles sujos. Incapazes de suprir o mínimo e merecedores de uma nota de assassinato a sangue frio, numa revista feita do cheiro pútrido da decadência intelectual e moral que ecoa no ar. São as falas pornográficas, devassas e com gosto de plástico que mais enojam-me.
Malditos sejam aqueles livros e filmes que me criaram! Deram-me o melhor para, no final, eu ter somente o mundo cão.
E se for para ser sempre assim... Que eu abrace de vez a solidão. Pelo menos ela é autêntica e sua promessa de prazer triste é confiável.
sexta-feira, 11 de março de 2022
Não... O seu filho não é um bom rapaz!
terça-feira, 15 de fevereiro de 2022
O espírito sem as paixões inquietantes & a tragédia da quietude
Liv Ulmann e Edward Albert em 40 Carats/1970 |
Porém esse sentimento de quietude é angustiante. O coração começa a cicatrizar, mas, paralelamente, ele caminha para uma não intensidade assustadora. Com 36 anos, eu gostaria de estar em um tipo de enredo em que as paixões não cessam, só mudam o foco e o objeto desejado e consumido, numa perspectiva feminina mais intimista, prazerosa, longe dos anseios e ardência juvenis e muito, muito distante da morte decretada do sentimento, como no filme 40 Carats com a Liv Ullmann (Deus, que filme delicioso!), em que posso resumir a um gosto de cafezinho quente em um final de tarde do frio tropical.
Estou perto de ser uma historiadora (e professora de História). Sinto bastante segurança nisso. Diferente da Astronomia e Física, que deixavam-me a sonhar, motivada, para depois terminar num fosso escuro e sem volta. Só que, em minha vida inteira, eu sonhei com os telescópios do Deserto do Atacama e não com museus em casarões de pedra e cal. E essa constatação faz-me suspeitar da ligação disso com essa minha falta de paixão pelo outro. Contudo, eu não posso decretar o fim da minha alma assim. Tudo bem... Eu tenho dores crônicas e fibromialgia. Não é fácil manter-me como antes nessas condições. Uma parte dessa apatia é própria da tristeza que eu acumulei. Tenho culpa, é claro. Medos e um gosto amargo me possuem. Não sou mais aquela que viu a constelação de Órion abrir-se como um cego que volta a enxergar. Nem por isso tenho que me condenar a marchar para o destino de uma vida de uma nota só, com medo da fome e da pobreza do corpo e do espírito.
De vez em quando, pego-me a pensar no rapaz dos olhos azuis da cor do oceano tempestuoso. Eram momentos em que eu era mais interessante para mim mesma. E, mesmo assim, eu não quero voltar no tempo. Preciso de cafeína, analgésicos, ópio e um psiquiatra.
Mia Farrow e Jeff Daniels em A Rosa Púrpura do Cairo/1985 |
Espero, ao menos, continuar a escrever por aqui. Quem sabe, com uma diferente inspiração. Mesmo que seja do mundo bizarro de David Lynch.
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segunda-feira, 18 de outubro de 2021
Voltando... Aos poucos...
O ano de 2021 caminha para ser um dos mais enfadonhos que já vivi. Tenho trinta e cinco anos, quase trinta e seis, e se tivesse seguido o percurso mais retilíneo, poderia achar-me jovem por demais nesse exato instante. Como vivo pulando gerações (foi assim no curso de Física), sinto-me em um limbo, não jovem e não velha. Entretanto os que me cercam divertem-se cruelmente em afirmar que depois dos trinta, só resta esperar a morte.
Não tenho algo para chamar de meu propriamente. Tudo parece passageiro, enlutado, cinza e sem sorrisos. Continuo a achar que a melhor companhia em um final de tarde é um belo café quente de frente para a Beira-Mar, que, nesses dias quentes, não me deixa ver as bonitas nuvens de chuva.
Foi também um ano de descobertas desagradáveis. Das dores crônicas que relato aqui há anos, evoluí para um quadro preocupante: a Fibromialgia. Acerca desse assunto... Preciso de algo mais detalhado. E vou deixar para depois. Entretanto adianto que existem dias de muitas lágrimas, desespero e infelicidade. São dores que se espalham como tentáculos de uma tortura indescritível. Receitaram-me pilates, remédios, psicólogo e diversão. Às vezes tenho vontade de rir sobre isso tudo, pois o pilates não me emociona, tampouco os remédios, cujo o último, que estava indo bem, fez-me mal recentemente. O psicólogo preciso ir urgentemente e são muitos assuntos pendentes: diversos traumas, violência psicológica e muitas decisões erradas. E... bem... Diversão... Essa sim é a mais difícil de todas. Parece inatingível, como a mais distante das estrelas.
Tentei reviver amores e encontrei somente machismo, loucura, opressão e melancolia. Tentei ajudar pessoas que confundiram as coisas e tornaram-se, posteriormente, motivo de dor de cabeça e ataques de ansiedade. Procurei novas perspectivas... E lá estava encarando-me o tédio e as situações bizarras. Se pudesse materializar uma canção, seria aquela do The Smiths, There is a Light Never Goes Out, na parte em que diz: "Me leve para sair esta noite, onde haja música e pessoas..." e eu poderia viajar a noite inteira em abraços, sorrisos e beijos.
Só gostaria de me sentir viva novamente, despretensiosamente, amando intensamente, mesmo que por um dia, um brevíssimo dia... Sentindo o vento suave ou a vibração de acordes sufocantes joviais. No final, eu só gostaria que alguém me fizesse rir de verdade... Como um certo alguém um dia fez, em um tempo distante. Um alguém que se foi para sempre e que, vejo hoje, foi o único que um dia chegou perto de entender o meu verdadeiro eu. Que em uma tarde, em um banco, olhei e vi um semelhante e minha imagem no espelho... E, muito provavelmente, não haverá mais alguém assim; pelo menos não nessa existência.
Depois de todo esse tempo, consegui responder e publicar as mensagens que me mandaram. Fiquei contente em perceber que muita gente ainda não desistiu de ler esse blog e que lembra dos bons tempos em que a escrita era uma forma saudável e promissora de comunicação. Sim... Gostaria de saber como estão todos... Espero que bem melhor do que eu.
E assim retorno à escrita. O único exercício humano em que eu ainda acredito, que tenho prazer e que não me abandona.
Por enquanto sou metade do que já fui. Muitos pedaços de mim estão pelo chão. E se vou conseguir me restaurar... Somente o tempo, nesse quesito, pode ser meu oráculo. E nele posso confiar. Verdadeiramente... O único.
sábado, 6 de junho de 2020
Um olhar sobre o antigo eu: esperançoso, juvenil e cheio de amor.

sábado, 9 de maio de 2020
Covid-19 e seus desafios: muito mais do que manter a própria vida
O tempo passou. A infelicidade tornou-se tão presente quanto as decepções. A morte não está somente lá fora, com o corona vírus, a nova peste, o divisor de águas para o fim do século XX; o ceifeiro anda lentamente dentro da minha própria casa. O mundo está em crise. Já o meu desmanchou-se há tempos.
Eu estava tentando a minha reconstrução através do curso de História. E jamais imaginei que pudesse amá-lo muito mais do que a Astronomia. Sinto-me nele mais segura intelectualmente. Pois antes enterrava a minha própria inteligência e sanidade num profundo mar de desapontamento. Contudo é uma batalha árdua, complicada. Eu não sou um homem, que, infelizmente, é privilegiado pela maioria dos professores. Falo e desafio os professores em suas desinformações sobre os conteúdos em geral. Tenho coragem, curiosidade e foco. Mas abandona-me a sorte por buscar o meu reconhecimento merecido.
Lentamente vou perdendo as esperanças mais brilhantes e que tinham a potência de um ecstasy. A vida é ameaçada de todas as formas - socialmente, intelectualmente, politicamente e, principalmente, fisicamente. Não luto apenas contra fascistoides ou machistas que impregnam as universidades em altos cargos e pequenos estudantes. Do outro lado há as falsas feministas que defendem professores opressores baseadas no alinhamento dos planetas, cirandeiros que são contra o EAD porque não são capazes de sair de seu próprio mundo de vícios e de preguiça. É como estar entre Cila e Caríbdis. Não quero nenhum e nem outro. São extremistas complementares. Prefiro mesmo morrer se for para escolher entre o impossível para o meu caráter.
Ficar em casa não se compara a ficar doente. Isso é uma medida de sobrevivência. Também não é um oásis de tranquilidade. Estou com picos de dores na coluna (a dor crônica que é minha sombra) e mais irritada do que o normal. Às vezes eu só queria as conversas de anos atrás. Hoje nada faz mais tanto sentido no lado das interações sociais. Não gostar de absolutamente ninguém é uma calmaria muito monótona. É ser um pouco morto.