sábado, 9 de maio de 2020

Covid-19 e seus desafios: muito mais do que manter a própria vida

Quando eu era mais nova, lembro-me de assistir diversos filmes na Tela Quente da Globo. Um deles foi o Epidemia (Outbreak/1995). Naquela época, o mundo tinha medo do Ebola (considerada a doença mais mortal, mas não mais mortal que a Raiva, por exemplo!). A vida era cheia de um imaginário distante. Enquanto o cinema mostrava-nos um cenário catastrófico apenas como uma obra intelectual, o meu universo particular estava triste, porém cheio de desejos e amor platônico. O céu leitoso salpicado pela Via Láctea era o começo de uma felicidade utópica. O engraçado é que sinto saudades dessa alegria ilusória e tola e da melancolia real juvenil - um campo de ópio de verdade.

O tempo passou. A infelicidade tornou-se tão presente quanto as decepções. A morte não está somente lá fora, com o corona vírus, a nova peste, o divisor de águas para o fim do século XX; o ceifeiro anda lentamente dentro da minha própria casa. O mundo está em crise. Já o meu desmanchou-se há tempos.

Eu estava tentando a minha reconstrução através do curso de História. E jamais imaginei que pudesse amá-lo muito mais do que a Astronomia. Sinto-me nele mais segura intelectualmente. Pois antes enterrava a minha própria inteligência e sanidade num profundo mar de desapontamento. Contudo é uma batalha árdua, complicada. Eu não sou um homem, que, infelizmente, é privilegiado pela maioria dos professores. Falo e desafio os professores em suas desinformações sobre os conteúdos em geral. Tenho coragem, curiosidade e foco. Mas abandona-me a sorte por buscar o meu reconhecimento merecido.

Lentamente vou perdendo as esperanças mais brilhantes e que tinham a potência de um ecstasy. A vida é ameaçada de todas as formas - socialmente, intelectualmente, politicamente e, principalmente, fisicamente. Não luto apenas contra fascistoides ou machistas que impregnam as universidades em altos cargos e pequenos estudantes. Do outro lado há as falsas feministas que defendem professores opressores baseadas no alinhamento dos planetas, cirandeiros que são contra o EAD porque não são capazes de sair de seu próprio mundo de vícios e de preguiça. É como estar entre Cila e Caríbdis. Não quero nenhum e nem outro. São extremistas complementares. Prefiro mesmo morrer se for para escolher entre o impossível para o meu caráter. 

Ficar em casa não se compara a ficar doente. Isso é uma medida de sobrevivência. Também não é um oásis de tranquilidade. Estou com picos de dores na coluna (a dor crônica que é minha sombra) e mais irritada do que o normal. Às vezes eu só queria as conversas de anos atrás. Hoje nada faz mais tanto sentido no lado das interações sociais. Não gostar de absolutamente ninguém é uma calmaria muito monótona. É ser um pouco morto. 

Depois de tanto tempo voltei a escrever. Uma vontade que oscila por essa época. Porém preciso. Tentarei mais. Posso falhar. Contudo é o que resta. 



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