segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Céu crepuscular de dezembro, com Vênus à sudeste e Cassiopeia ao Norte

Foram-se o aniversário de trinta e quatro anos e outras particularidades. Sobraram-me demasiadas perguntas: posso considerar-me ainda uma pessoa atrevida ou sou agora a decadência de um espírito desvairado que é averso às delicatesses juvenis? O amor e os desejos nesse campo tornaram-se navios longínquos, banhados pelos raios rubis do Pôr do Sol que servem apenas para serem apreciados ou relatados em livros com capas de tecido.

Anseio por uma viagem a Irlanda. Por quê? Ao certo, não sei dizer. Apenas acredito que lá há alguma dessas respostas que parecem fragmentos de vivências marcantes. Pela Galiza tenho o mesmo sentimento. E esse vazio que reside em mim assemelha-se muito mais a uma busca que não pode ser iniciada e que possui o temor de transferir-se para uma nova existência, em um outro corpo.

Permaneço presa, longe de algo que nunca será encontrado aqui. É uma sensação cortante de perda constante de alegrias genuínas, de amores puros e de uma paz nunca antes experimentada.

Pessimismo, sim. Eu admito. E com razão.

Deixei de escrever por longos dois meses. Isso não é uma displicência. Trata-se mais de cansaço e de uma leve e crônica tristeza. Entretanto o curso de História tornou-se um horizonte mais instigante e que permite uma certa liberdade de estudos. Ultimamente é um conforto e um consolo. É uma das poucas esperanças que tenho para começar a investigar o meu próprio eu.

Não deixei de pensar na Astronomia. Ela estava em algum lugar. Porém causava uma dor suave e uns batimentos mais acelerados. Portanto tive que usar um truque mental e trancá-la no fundo da minha própria mente. Metade de mim morreu depois da perda da batalha. Porque eu tinha construído uma vida inteira baseada em ser feliz através dela.

E foi assim... Que meu primeiro grande (e talvez) único amor juntou-se a esse imaginário: com os os olhos azuis de um céu crepuscular de dezembro, com Vênus à sudeste e Cassiopeia ao Norte. Por muito tempo felicidade era simplesmente tecer a colcha de promessas e de vontades de viver intensamente os prazeres intelectuais e carnais.

Todavia a iconoclastia veio furiosa e estraçalhou tudo. Não passavam de sonhos infantis e devaneios. As paixões jamais serão como antes e só tiveram sentido naquela época.

Guardei os pedaços em um baú. E vivo agora só pela metade. Reinventei-me. E tenho prazeres momentâneos que se desfazem pelo dissabores passados. Não envelheci só pela idade.

Condenei-me a sentir pesar a qualquer momento. A satisfação irá embora com a aurora. Se não desejo-me, então estão todos proibidos de tentarem-me.

Minha metade morta jaz na realidade. E a restante trasportou-se para um novo lugar imaginário.

A fantasia é a minha única salvação: meu sangue, meu oxigênio.