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terça-feira, 1 de maio de 2018

Crítica da Semana - Cargo/2013 - O curta

Cargo é um curta competente no que se propõe, deixando de lado os diálogos para dar vez a ações e expressões que falam diante do inevitável. É preciso salvar a carga mais preciosa de todas das garras da besta iminente - a irracionalidade do próprio eu.

Fazer um curta é de uma nobreza ímpar e, ao mesmo tempo, uma tarefa ingrata - a história deve ter seu começo, meio e fim em minutos e precisa ser eficaz como canal de comunicação entre o diretor e o telespectador.

Hoje há muito mais público para essa parte do Cinema e os festivais especializados já fazem questão de colocá-los gratuitamente. E este é o caso de Cargo (Cargo/Austrália/2013), um filme curto de horror com a temática do apocalipse zumbi, dirigido por Ben Howling e Yolanda Ramke.

Entretanto não espere que tenha mais do mesmo aqui. Você, caro (a) leitor (a), não verá muito sangue, gritos, vísceras, carnificina e outros recursos.  Seu foco é estritamente no essencial da relação humana - os sentimentos. E neste caso, teremos o amor de um pai pela filha.

O enredo é basicamente este...

Um homem, após acordar de um desmaio provocado por um acidente de carro, descobre que sua esposa morreu e tornou-se um zumbi bem ao seu lado. Desesperado, ele deixa o carro e pega sua filha, que ainda é um bebê. Ele percebe que foi mordido enquanto estava inconsciente. A partir desse momento seu destino já é certo. Contudo, antes dessa tragédia, ele precisa garantir que sua filha sobreviva.

O destaque maior é a atuação de Andy Rodoreda, o pai protetor. Ele, juntamente com Ruth Venn (a pequena Rosie), é responsável pela carga emocional do filme. Também vale destacar a bela fotografia apresentada. 

Cargo foi feito para o festival de curtas-metragens Tropfest, no qual foi finalista.

Só a titulo de curiosidade: Cargo, em inglês, é carga, assim como conhecemos mesmo, a definição para aquilo que se transporta. Pelo cartaz do filme, o nome não poderia ser mais adequado, além, óbvio, de todo o simbolismo que traz. 

Se eu fosse você, assistiria logo! Vale muito uma conferida. E faça isso antes de ver Cargo da Netflix, com o maravilhoso Martin Freeman (meu querido Dr. Watson). 

Deixo o curta, na íntegra, aqui embaixo.

Recomendadíssimo!


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Crítica da Semana: Alma Gêmea (Soulmate/2013)

Altamente despretensioso e baseado, praticamente, na interação entre dois personagens. Mas não se engane por sua simplicidade - é um filme bem interessante.

O senso comum quase sempre aponta a coqueluche do terror e do suspense para as produções americanas. Entretanto, há alguns poucos anos, esse cenário vem mudando. Trabalhos independentes de vários outros países ganham mais destaque. Foi assim, recentemente, com os ótimos Boa Noite, Mamãe (Ich Seh Ich Seh/Áustria/2014) (crítica do CQeSherlock aqui) e Invasão Zumbi ( 부산행 Busanhaeng/Coréia do Sul/2016). Também pode-se dizer, com propriedade, que as produções de língua espanhola, no circuito Argentina-México-Espanha, possuem grandes méritos e são uma escola de referência.

E junta-se a essa lista os britânicos, com seus filmes não muito longos, com cenários modestos, campestres, usando o próprio cotidiano e um orçamento baixo que dá muita ênfase as boas atuações e a roteiros de qualidade. Vide o excelente Extermínio (28 Days Later/2003) (crítica do CQeSherlock aqui). E é nesse âmbito que aparece-nos Soulmate (Reino Unido/2013), uma grata surpresa para quem não prende-se somente ao famoso jump scare (a tão banalizada técnica do susto a qualquer custo).

Anna Walton
Temos uma construção de enredo até bem simples - Audrey (Anna Walton), uma mulher devastada pela perda de seu marido em um acidente de carro, tenta o suicídio. Entretanto é salva por sua irmã Alex (Emma Cleasby). Depois desse fato, ela decide que o melhor é isolar-se por um tempo no campo. No primeiro dia, Audrey encontra dois moradores locais, Theresa (Tanya Myers) e o marido, Dr. Zellaby (Nick Brimble), que falam sobre o proprietário anterior da casa, Douglas (Tom Wisdom), que suicidou-se há 30 anos. Logo a nova residente do imóvel começa a ouvir ruídos estranhos e percebe uma porta trancada. Ao conversar novamente com o Dr. Zellaby, ela descobre que essa está fechada desde a morte de Douglas. Eventualmente os ruídos tornam-se mais fortes. Então, ao abrir a porta, Audrey encontra vários pertences do antigo morador, incluindo as cartas de sua noiva Nell (Rebecca Kiser). Neste ponto, Douglas começa a manifestar-se dentro da casa, revelando-se a Audrey. Os dois são capazes de conversar um com o outro, estabelecendo um vínculo emocional, mesmo que não possam interagir fisicamente. No entanto, com o passar dos dias, surgem dúvidas sobre as verdadeiras intenções de Douglas - ele pode ser apenas uma alma parecida com Audrey ou uma manifestação sinistra e maquiavélica.

Tom Wisdom
Confesso que assisti, a princípio, por causa do Tom Wisdom, um ator muito bom, requintado e que tem uma bela presença cênica (ele é mais conhecido, injustamente, pela série do canal Sci-Fi, já cancelada, Dominion). Foi complicado conseguir uma cópia, pois é considerada rara aqui no Brasil. E não para por aí - dublagem ou legendas (mesmo em inglês) não estão disponíveis em parte alguma deste planeta. Tentei, depois de saborear a minha cópia do submundo, comprar o streaming com legendas na língua inglesa pela Amazon Prime dos Estados Unidos e não deu certo de jeito nenhum - precisa-se de um cartão de crédito e endereço de lá. Mas importar o DVD está nos meus planos.

Finalizo com uma certeza: um horror britânico, de classe, que recomendo firmemente!


***

Trívias sobre o filme Alma Gêmea (Soulmate /2013)


Cena removida do filme!
A versão britânica do filme teve a cena de abertura original, em que Audrey (personagem de Anna Walton) tenta se matar, retirada. Isso ocorreu por conta da British Board of Film Classification - BBFC achar que isso poderia ser um incentivo ao suicídio.

A película levou quatro anos para ficar pronta. Mas as filmagens deram-se em apenas 24 dias.

O ator que interpreta o marido morto de Audrey é o Fotógrafo da Produção.

Nick Brimble (que interpreta o Dr. Zellaby) só se juntou à produção uma semana antes dela começar a ser rodada, substituindo um ator que foi contrato anteriormente.

O Diretor de Fotografia original abandonou o projeto um mês antes das filmagens.

O papel de Audrey foi escrito tendo Anna Walton em mente.

Diversos diretores passaram pelas etapas de filmagem.

Nick Brimble filmou seu papel em 6 dias.

Nick Brimble ficou perplexo com os aspectos do personagem do cachorro.

O cachorro, à proposito, chama-se Anubis e sua dona é a diretora Axelle Carolyn.

Emma Cleasby (que interpreta Alex) filmou seu papel em 2 dias.

Neil Marshal (Produtor Executivo e sim, esse mesmo, diretor dos filmes Centurião/2010, Abismo do Mesmo/2005, o novo Hellboy e de muitos episódios de séries famosas, como Game of Thrones...) fez uma breve aparição na película (o famoso termo cameo).

Neil Marshal, na época, era casado com a diretora/escritora do filme, Axelle Carolyn (estão, neste momento, em processo de divórcio).

Tom Wisdom juntou-se, após um breve comunicado, ao elenco. A escolha original havia desistido.

A escritora/diretora Axelle Carolyn tinha uma coluna regular em uma revista americana dedicada aos fãs de Terror, a Fangoria.

Muitos membros do elenco juntaram-se a produção em diversas etapas das filmagens, para desistirem de participar logo em seguida.

Trailer



Cena, na íntegra, removida do filme 
ATENÇÃO: IMAGENS FORTES!
TENTATIVA DE SUICÍDIO!



Fontes

Alma Gêmea (Soulmate) - Wikipédia em Inglês
Alma Gêmea (Soulmate) - Rotten Tomatoes - Site em Inglês
Alma Gêmea (Soulmate) - IMDb - Site em Inglês
Alma Gêmea (Soulmate) - Filmow - Site em Português
Cena de abertura de Alma Gêmea (Soulmate) é retirada pela BBFC - Artigo em Inglês
Axelle Carolyn - Wikipédia em Inglês
Neil Marshall - Wikipédia em Inglês

Outras mídias

Instagram da Diretora Axelle Carolyn
Twitter da Diretora Axelle Carolyn

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Crítica da Semana: Boa Noite, Mamãe (Ich seh, ich seh)/2014

Boa Noite, Mamãe é uma ótima surpresa no gênero terror/suspense. Um filme perturbador, na medida, que há muito tempo não se via.

Boa Noite, Mamãe (Ich seh, ich seh/2014 ), dirigido por Veronika Franz e Severin Fiala, é um filme de terror austríaco genuíno, cuja jornada para o desfecho nos leva a conclusões ambíguas até que a verdade seja revelada.

Poderia ser só mais um filme do circuito alternativo a Hollywood, mas não é! O cinema austríaco é extremamente forte, veja o caso de A Fita Branca (Das weiße Ban/2009), que venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Globo de Ouro de Melhor Filme (estrangeiro), além de duas nomeações ao Oscar de 2010. Boa Noite, Mamãe faz jus, com méritos, a essa safra.

O filme centra-se em três personagens, a mãe (interpretada por Susanne Wuest) e os irmãos gêmeos Lukas (interpretado por Lukas Schwarz) e Elias (interpretado por Elias Schwarz).

A abertura da película apresenta-nos uma fotografia belíssima (essa é assinada por Martin Glasbachita), focada em destacar paisagem onde fica a casa da família. E esse paradisíaco lugar é explorado pelos gêmeos de todas as formas, em suas caminhadas e brincadeiras, demostrando uma ligação muito forte entre os dois. A cena do lago pode passar despercebida, mas ali reside o motivo que desencadeia a história que será narrada. Aliás, os detalhes merecem muita atenção, mostrando-nos, em alusões, sentimentos e fatos.


A mãe, depois de algum tempo afastada, retorna à casa com o rosto coberto por ataduras devido a uma cirurgia. Os gêmeos a recebem com estranheza e nos fazem apostar na ideia de que há algo errado com a progenitora. Aos poucos, eles concluem que aquela mulher não é a mãe deles.

São seus pensamentos e sonhos que conduzem o filme. Eles tornam-se nossos olhos e também formam a nossa opinião.

A suposta mãe, às vezes austera, tenta manter a disciplina e uma rotina. A casa, afastada do resto do mundo, passa uma impressão de isolamento proposital. Tudo é bonito, limpo e claro.

Só que, aos poucos, as revelações surgem. E conduzem a um final inesperado.

Sim, as impressões estão erradas. E a mãe apenas tenta manter o que restou da família. Enquanto os gêmeos mostram-se como antagonistas. Bem... Apenas um, pois o outro é fruto do trauma de um acidente traumático e é nesse ponto que a cena do lago volta a nossa mente. Há certas conexões que não podem ser quebradas - na fantasia do menino é que reside o perigo.

A mãe é realmente a mãe, o filho não, pelo menos não o de antes. Tomado pelas decisões do irmão, agora revelado imaginário, o menino vira um carrasco encarnado e esculpido, torturando e exigindo uma verdade que não existe daquela que acredita ser uma usurpadora.

O fim, a essa altura já deduzido pelo telespectador, chega. Ele é cru e preciso - causa e consequência. A reunião tão esperada pelos gêmeos só pode se realizada no ato da morte.

Boa Noite, Mamãe acerta em um roteiro que prende e instiga para depois nos deixar pasmos. E essa é a fórmula perfeita para um terror digno.

Trailer legendado de Boa Noite, Mamãe


domingo, 4 de julho de 2010

Crítica da semana: Extermínio (28 Days Later)/2002

Extermínio é o tipo de filme de zumbi que não precisa de muita violência, muito sangue e muito menos sexo and rock'n'roll para ser um sucesso. O que temos é uma análise de uma sociedade sem futuro: o caos, o medo e a destruição - e uma ótima e deliciosa surpresa: Cillian Murphy.

Há muito tempo eu sou uma daquelas milhares de pessoas que simplesmente (mesmo sabendo que tem que trabalhar pela manhã) espera aquela apavorante musiquinha do Intercine para saber e, se for bom, ver o filme da madrugada. Eis que numa aventura dessas eu assisti a um dos melhores filmes de zumbis (viva Romero!) que eu já tive notícia: Extermínio (28 Days Later/Reino Unido/2002).

É interessante termos um filme de baixo orçamento, atores (na época) pouco conhecidos, uma proposta batida e Londres como pano de fundo. Essa combinação perigosa deu um grande resultado. E logo nas primeiras cenas você percebe isso.

Qual o diferencial? Ao contrário do que badalados, caros e artisticamente bisonhos filmes do gênero (leia-se Resident Evil e todas as outras franquias) possuem, aqui há um filme que preza pelo conteúdo e ações - esses zumbis correm como um velociraptor!

O diretor Danny Boyle já era conhecido pelo polêmico Transporting de 1996 (e mais tarde ganharia muita fama com o filme, vencedor do Oscar, Quem Quer Ser Um Milionário/2008). Com Extermínio, mostrou-nos que os zumbis não devem ser menosprezados, pelo contrário! Porém não lhes dá mais espaço do que convém: o importante é mostrar a situação de total desesperança e pavor que uma eventual catástrofe pandêmica poderia causar. E quem melhor para transmitir isso do que os atores?

A história é simples - um ataque a um laboratório libera um novo vírus da raiva por Londres. Quase toda a população é atingida e transforma-se em máquina de matar. Poucos escapam. De repente, numa troca de cena, nos deparamos com o abrir de olhos (de magnífico azul) de um rapaz que esteve em coma durante os 28 dias de disseminação do vírus, Jim (Cillian Murphy). Daí por diante é a descoberta de sobreviventes, um modo de salvar-se e acreditar no futuro. Há horas em que você fica encantado com a trilha sonora, com as belas locações em Londres e aquele clima de paz que uma cidade desabitada tem. Em outros momentos, devido ao baixo orçamento, as tomadas de luzes te dizem que realmente faltou dinheiro, fatos que são contornados pela técnica e talento.

E finalmente - Cillian Murphy. Quem viu Batman Begins (2005) sabe de quem estou falando. O então futuro Jonathan Crane/Espatalho despontou para o mundo. Ator fantástico. Ele tem uma expressão muito forte que é ressaltada no filme. Sua voz imponente e seus olhos dão um tom exótico e misterioso aos seus trejeitos.

Extermínio é altamente recomendável. Os fãs de Romero e de seu legado não ficarão decepcionados. Valeu muito a pena dormir depois das três da matina. Quem importa-se em parecer um zumbi no trabalho quando se viu um filme tão bom, emblemático e do nosso tempo? Eu mesma não.

Trailer - Extermínio