sexta-feira, 25 de março de 2016

Quem tem medo da música clássica?

Há muito tempo, em um lugar distante, vivia uma garota que assistia a um programa chamado Quem Tem Medo da Música Clássica...

Quando eu tinha uns 11 anos (há muito tempo, diga-se de passagem), a alegria bateu à porta: uma antena parabólica. O primeiro programa que vi foi na TV Escola, uma linda animação baseada em Romeo &Julieta (1591/1595).

E como nós não tínhamos condições de sonhar com uma TV por assinatura, ter 24 canais, mesmo a maioria tendo mais bois e grills George Foremam do que qualquer outra coisa, era simplesmente espetacular. E no meio dessa salada, com tomates e pepinos, havia o famigerado canal da TV Senado.

Pois bem, surpreendentemente, existia um programa magnífico, sim! E ele chamava-se Quem Tem Medo da Música Clássica, apresentado, pelo já falecido, político (e também escritor, jornalista, advogado...) Artur da Távola.

(Antigamente, bem antigamente, os políticos eram cultos, com formação em Letras, Direito, versados em uma educação erudita. A maioria, corrupta, claro, porém, cultos. Hoje é esse circus, ainda mais corrupto e vulgar...).

O título merece destaque, pois daria uma bela dissertação sobre as dificuldades de entrar no mundo da música erudita. Não pelo ouvidos, que é a parte romântica e bela. Porém pelas pessoas ao redor - as ignorantes (essa música não tem letra!),  as arrogantes (sei tocar piano, dulcimer e equilibrar pratos!), e as piores: as riquinhas e arrogantes (vi um concerto na Bulgária e a Soprano desafinou na Ária); vale também destacar aquelas que só escutaram uma vez na vida um álbum com Tchaikovsky, e, se duvidar, dizem que sabem o Latim todo de Carmina Burana.

Eu tinha medo da música clássica. Era uma paixão secreta, daquelas que movimentam devaneios. E meu instrumento favorito é a Flauta Doce. E, só hoje, bem crescidinha, consegui estudar um pouco, em casa mesmo (e continuo estudando).

Todos temos receios. E um deles é pensar que o erudito é apenas para  as pessoas mais abastardas, aquelas que podem comprar ingresso caros, viajar para ver os grandes balés com grandes regências.

Só que a vida nos deu o bastante para degustarmos o melhor desse gênero: nossa percepção auditiva.

Com um pouquinho de interesse e esquecendo a questão de classes sociais, o deleite causado pela música clássica transcende barreiras: primaveras e outonos cheios de encantamento, onde a única plateia que importa é você mesmo (a).

O Senado Federal tem um site dedicado ao trabalho de Artur da Távola no QTMMC. Ficou curioso (a), quer assistir? Bastar clicar nesse LINK, ir para a parte de VÍDEOS e apreciar!



terça-feira, 15 de março de 2016

Ecos da Natureza (Echoes from Nature) - Flauta Nativa Americana - NAF

Como já havia dito antes em uma postagem anterior, há algum tempo tenho um novo hobby: Native American Flute (Flauta Nativa America). Ainda estou praticando, descobrindo novos sons e novas maneiras de tocar. Eis aqui um pouco de improvisação...

Ecos da Natureza
Flauta (em bambu) Nativa Americana, chave em F, pentatônica
Tocada por T.S. Frank
Música incidental: Relaxation & Meditation with Music & Nature: Amazon Rainforest - Sounds of the Earth.

Echoes from Nature
Native American Bamboo Flute, Key F, pentatonic, 
Performed by T.S. Frank
Incidental music from Relaxation & Meditation with Music & Nature: 
Amazon Rainforest - Sounds of the Earth.


segunda-feira, 14 de março de 2016

Coração secreto...

Bate dentro de mim, todas as madrugadas, um coração a mais. Aquele escondido, liberto, por vezes libertino, dono de incansáveis histórias que caminham em ruas esquecidas no passado e saudoso de um esfuziante futuro do pretérito.

Ele é incansável, destemido, intrépido e aventureiro. Não tem medo, não perdoa e avassala como ventos raivosos que rasgam o véu da noite.

Tem sede infinita de amar e ser amado, corresponder entre linhas e receber cartas adocicadas que poderiam formar livros cheios de cores e paixões.

Feito tão puramente, no abrandar do sono mais profundo e dos sonhos mais íntimos, despiu-se desavergonhado, inocente, tão agora, tão intensamente...

Só que este foge de mim todos os dias, como gotas límpidas que escorrem pelas mãos, sobrando apenas vestígios de sentimentos que poderiam conquistar minha própria confiança.

Ao redor, somente a escuridão disfarçada em sorrisos e gentilezas. Estou farta e cansada disto tudo, um belo teatro! Quero milhas além destes rostos tão duros, tão cheios de si, mergulhados em suas próprias divindades, gananciosos, ríspidos, opressores, indelicados... Ah, mundo cruel e indesejoso, você poderia estar escondido nas profundezas abissais!

Minha vida não passa de tentativas frustradas, barulhos ensurdecedores de vozes irritantes com suas conversas vazias e cheias.. Cheias de números e formas que não dizem absolutamente nada.

E todos os dias entrego-me aos meus próprios pesadelos. Por sorte, algumas vezes, manifesta-se esse rico e inoxidável motor de vida para acalentar minhas próprias lágrimas.

"Ele passou como um raio fulgurante... Desaparecendo em sua própria calmaria. Deixando vazios espaços que tentaram ser abertos por muitas vezes... E, agora, a um passo de desistir, não me resta mais nada a não ser lamentar...".

E esse coração secreto ainda não aceitou tão grandiosa derrota. Recusa-se, inventa teses e dissertações. Só que os números são frios, calculistas e precisos. E, em outra dimensão, assim como toda a desavença entre mecânica clássica e mecânica quântica, este parâmetro não cabe aqui.

De fato, jaz neste lugar a possibilidade de outra história de amor.

Não posso dizer como sinto-me - são as convenções e as precauções de quem já não mais quer escrever sobre corações partidos.

Contudo o coração que esconde-se partilharia e confessaria - sua solidão e seus desejos. E admitindo que não pode deixá-lo e não pode tê-lo, guarda-o para si profundamente...

terça-feira, 8 de março de 2016

Rádio da madrugada, velhos tempos e amores imaginativos - platonismo e suas metáforas

Hilo com uma Ninfa - John William Waterhouse/1883

Há algo místico e infinito no amor platônico, apesar dele frequentar a região da dor, sofrimento, miserabilidade e solidão.

Ele é sempre a inspiração certeira para livros que registram a saga dos desejos não realizados na forma mais humanamente palpável. Só que todos esquecem da sua pureza, delicadeza e liberdade. O amor platônico é a utopia que mantém a mente fértil e o coração vivo e esperançoso. E isso é infinitamente mais consolador do que o desgosto com os amores consumados e que mostraram tão somente o amargo sabor da vida real.

Não há regra que impeça que o amor platônico, um dia, possa tornar-se vívido e bilateral e, quem sabe, tão doce como seus outrora frutos imaginativos. Não se deve duvidar do nirvana amoroso. Porém vivê-lo como se fosse a força eletromotriz da vida é caminhar rumo a tristeza crônica e a mortificação da alma.

Por estes tempos tenho revivido histórias sobre platonismo que estavam na tenra juventude. Naquela época, imaginativamente, o céu não era o limite, o limite rumava ao infinito.

Reviver a dubiedade é angustiar-se à conta-gotas. Não há desespero exagerado e nem tristeza excessiva. Não há culpados, nem nós mesmos, o maquinário do sentimento, e muito menos a nossa criação, os desejados.

[E assim tem sido há um certo tempo.]

Todos os poemas poderiam ser escritos com rimas douradas. Quadros poderiam ser pintados com gotas prateadas de chuva e traços amadeirados das folhas do outono. As rádios da madrugada poderiam tocar madrugada adentro. E ao embalarem danças sob o luar, com seus narradores afoitos, mandando recadinhos, o cenário perfeito estaria formado.

O platonismo deseja o bem, o sucesso, a felicidade, mesmo em outros braços. É livre da ilusão de que acabará inevitavelmente em conquista. Ele nasce regido por poréns.

Os platônicos amam simplesmente a existência do ser admirado, a sua essência e seu modo de vida. É como Pigmalião a admirar sua própria criação.

Este é o mais ingênuo dos amores e que, muitas vezes, é ruborizado na vergonha de admitir o próprio sentimento a si mesmo. Também é o mais humilde, deleitando-se em pequenos sorrisos, gestos e conversas. Franciscano por essência.

Se lágrimas do amor platônico fossem transformadas em vinho, o mais doce deles seria criado.

Posso afirmar que não há nada mais intimista e próprio do que gostar secretamente. E, a cada minuto, mais e mais amores platônicos nascem, tornando-se imortais e rumando a um tempo imemorial em que a vida repousa na mais suave das montanhas.