sexta-feira, 19 de junho de 2015

A eterna fuga da satisfação e felicidade...


"... Ainda que sendo tarde e em vão,
perguntarei por que motivo
tudo quanto eu quis de mais vivo
tinha por cima escrito: NÃO
E ondas seguidas de saudade,
sempre na tua direção,
caminharão, caminharão,
sem nenhuma finalidade." 

(Cecília Meireles - Poema A Última Cantiga)

Sentei-me em uma mesa com um gostoso café, torradinha com geleia vívida, vermelha e todas as explosões de sabores mixadas que podem estar em um pãozinho cor de mel. E ali, naquele instante, minha alma parou o tempo, as angústias e a própria insatisfação com toda uma jornada de vida. Aquela sensação de liberdade e conforto, tão simples e de tão pouca importância para os outros, trouxe-me os momentos (mesmo que instantâneos) de alegria que sempre faltaram-me. 

Caminhei, após, lentamente; assim como uma lesminha faz (para os que sempre andam com pressa, contando as horas, fazendo dinheiro, saibam - nunca acumula-se tempo em tais empreitadas.). E, aquele anoitecer, pintou, mais uma vez, o retrato da minha felicidade perdida [nunca encontrada, melhor dizendo]: Vênus e Júpiter em perfeito alinhamento, a música do céu, a agonia e o êxtase, o prazer máximo. 

Não são dias difíceis, são anos e anos de perdas do meu eu. Cresci acreditando em minha própria inutilidade e não merecimento. Lampejos de felicidade acontecem e, gradativamente, transformam-se em bocejos e insatisfação. 

A vida é injusta (ponto final). De todos os clichês, a desesperança é o veneno mais amargo. 

Esse é meu palco, o palco do fingimento. O que há de pior (no cenário já catastrófico) do que desabafar (ou, a preferida dos próximos, queixar-se) e sentir-se um estorvo? 

Nunca tive a compreensão necessária. Busquei muitas vezes em vão e muitos aproveitaram-se da minha própria carência, dos meus medos e eterna busca para conseguirem respirar fora de suas próprias poças de lama, contudo não antes de me empurrarem mais ainda na minha. 

Extorquiram-me meu físico e meu psíquico. 

Hoje, ao passar, simplesmente digo - "Estou indo...". Quem importar-se? Notícias ruins vendem, notícias boas são agouradas - é apenas o ciclo das migalhas de felicidade (tão efêmero quanto a vida de um mosquito). Todos desejam sorte e acabam cobrando o empenho máximo para manter as amizades e os amores. Tantas vezes escutei que a culpa é somente minha... Por que não agora? A caixa da vida (segundo os expectadores desse show taciturno) encarregou-se de encrustar-me todos os defeitos humanamente possíveis... 

Não precisam se esforçar para conservar-me perto ou para cuidar com carinho da minha afeição - sempre falam o que querem da maneira mais cruel possível. É assim que agem, é assim a vida. 

(mas o contrário sempre gera o sacrilégio mais comentado, lembrado e utilizado como arma branca)

Sou uma pássaro engaiolado, ferido, sem eira e nem beira, pobre com nenhum vintém - o vermelho, o comunismo, a inutilidade da minha própria existência. 

Não tenho sorte e o que existe gera somente problemas e mais problemas, culpa e temor.

O maior de todos os pecados foi querer o que não me é possível: ser feliz. Carrego dentro de mim uma dor antiga... Uma marca de nascença.

Não há nada que possa ajudar-me. O horizonte é só uma linha tênue cinzenta. É a cruz que carrego e a peça teatral que tenho que encenar todos os dias. 

Porém, de madrugada, quando as vozes estridentes calam-se, as injúrias cessam e as acusações terminam, a minha mente voa para um lugar longínquo, onde as procelas e a espuma do mar transformam-se em sinfonia de notas infinitas. 

Todos os dias morro e meus sonhos são arrancados brutalmente, pedaço por pedaço. Sou vítima do próprio mundo que criei: aquele que não existe e nunca será meu.

Mas daria tudo por ele e nada mais.