sábado, 30 de outubro de 2010

Gaudete - alegre-se!

Gaudete é o verbo latino para alegrar, alegrar-se.

Lá eu estava, em mais um devaneio. A Catedral erguia-se diante de mim e seus vitrais eram atravessados por luzes de um azul da cor da morada dos anjos. As pedras eram frias como o coração dos pólos, mas alimentavam o ambiente com o frescor da brisa virginal da madrugada. Estava sozinha e as gotas caíam na fonte, uma por uma, como uma sinfonia celestial. E eu rezava... Rezava para que a sombra que pousara em mim pudesse ir embora. Não havia mais canto e nem alegria. Estava presa em um mundo atingido pelas trevas.

Posso inventar muitos mundos, atravessá-los e até mesmo sentir as sensações que lá fazem-se presentes. Porém a dura realidade puxa-me dia a dia, insistindo, colocando álcool em minha ferida aberta.

Sinto-me culpada, culpada até mesmo por reclamar. Estão todos dementes? Ou estou sendo punida por algum crime do passado? É muito fácil ser louca, basta apenas estar na presença dos ditos sãos.

Onde está o sabor da maçã e do queijo que desfazem-se na boca? Ou esse amargor persistirá? Minha testa está casada de franzir.

Todos os dias escuto os relatos de felicidade, como histórias maravilhosas para colocar as crianças para dormir e sonhar com nuvens de algodão.

Alguém que caminha na praia, sonha, dorme por entre plumas... E eu a ouvir... No meu humilde cubículo... Trabalhando e tendo os sonhos esfacelados. E tendo ainda que aguentar insensatos e incompreensivos.

E aos pobres mortais, como eu, as migalhas são a sobrevivência.

Odeio as manhãs, pois elas lembram-me da labuta diária por algo simplesmente sem coerência. Agora, aos que vivem cercados pelo conforto e esperança, o alvorecer significa o começo de um dia perfeito.

E resta-me a madrugada com seu véu negro e seus gritos de lamentações.

Se eu pudesse, estaria numa casa de repouso, longe de tudo, perto dos insanos que têm muito mais em comum comigo. E sou uma estranha no ninho, esse mundo não me pertence. Eu fui colocada aqui porque a vida é uma atrevida e gosta de escrever em aramaico.

Na verdade, eu não sou de lugar algum. Muito para esse pequeno mundo em que estou e pequena para o outro.

Então... Gaudete, nesse momento, não passa de uma bela música do século XVI para mim.

Alegrar-se, em qualquer língua, é tarefa hercúlea e que está a brilhar longínqua como uma estrela.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Paraíso - descrição de um sonho



E ao som de Caribbean Blue...

Sou transportada a uma praia de águas verdes, com uma arco-íris vibrante ao fundo, um horizonte de céu cinza, com nuvens carregadas.

Eu estava no balanço com meu vestido floral e meu chapéu de fita vermelha e pés descalços. A face estava corada, alegre e com uma expressão calma.

Enquanto caminhava e o vento colocava suas mãos aveludadas em meu rosto, eu contemplava o arco-íris e as nuvens - eram portais de um novo mundo. E as canoas brancas, largadas à beira-mar, davam a sensação final de liberdade.

E ao longe ele vinha, com seus pés também descalços, sua camiseta branca e sua bermuda jeans desbotada. O vento lhe conferia o frescor da maçã colhida no outono e seu sorriso era um campo de algodão.

Os cabelos negros flutuavam... Os olhos da cor da noite ardiam em profundidade.

A fria e branquíssima areia, com seus pequenos grãos de quatzo brilhantes, roçavam meus pés agradavelmente.

Aproximou-se, a bela criatura, e apenas sorriu. Estática eu fiquei, a nortear meus sentidos.

Assim estendeu-me sua mão e caminhamos pela praia. As ondas quebravam em harmonia e as cores do arco-íris ainda estavam lá - mais vibrantes.

De repente, as procelas, longínquas e além das linhas, trouxeram as gotas da chuva para a praia. Nossas faces ficaram molhadas, marcadas por aqueles cristais.

Corremos e corremos... A vida não podia esperar... Duas crianças felizes...

E essa felicidade imprudente, despreocupada e ingênua enchia-nos com todas as notas e todos os nuances.

Abri os olhos.

Era chegado o fim do paraíso.

Terminara Caribbean Blue.


domingo, 17 de outubro de 2010

Crime & Castigo - o livro

"... Nos começos de julho, por um tempo extremamente quente, saía um rapaz de um cubículo alugado, na travessa de S..., e, caminhando devagar, dirigia-se à ponte de K..." (Crime Castigo, Cap. I, pag. 9, Nova Cultural, 2003).

Há sempre um livro especial para os amantes de leitura e, mesmo tendo Sherlock Holmes como um modelo, o meu é Crime e Castigo de Dostoiévski.

Sherlock representa uma espécie de mundo que eu gostaria de estar, pois, mergulhada em suas páginas, eu esqueço de todo o real problemático e consigo divertir-me. Holmes é prático, sagaz e evita qualquer sentimento de cunho nada aproveitável. E é assim que eu gostaria de ser.

Só que Crime e Castigo introduz um personagem mais próximo - um espelho de sensações e modo de vida.

Por isso esse livro de capa azul diz tanto. É uma obra próxima de seu leitor, pois nela está um pouco do seu universo e, principalmente, porque o protagonista, em alguns aspectos, vive as mesmas situações e conflitos do seu público.

Crime e Castigo dispensa mais uma resenha crítica. É um clássico da literatura mundial e de um dos grandes da linha de escritores que a Rússia produziu - Fiódor Dostoiévski.

Se você, leitor (a), já leu o livro, sabe agora o significado das minhas palavras. Se não, um dia, ao ler a obra, poderá compreender tudo na íntegra.

Lembro-me bem quando lia as páginas dessa obra e visualizava Rodion Românovitch Raskólnikov em sua agonia, em seus desvarios, no seu cubículo quente, com seus sentimentos conflituosos, tendo pesadelos e febre. E quanto mais o tempo passa, mais claramente vejo essas cenas.

Por aí acabam nossas semelhanças, pois no âmbito do livro, o seu caminho, ideias e, consequentemente, seu ato levaram-o ao caminho do calvário moral e penal.

Estou aqui sentada no calor, com dor de cabeça, pensando em Ráskol e no livro de capa azul.

Nós compartilhamos a mesma tristeza, dor e devaneios. E ficamos deitados em nossa cela, com nossos corpos febris, a imaginar o porquê de algumas coisas acontecerem. Há muitas coisas para pensar, para analisar - ele não tinha ilusões, tinha delírios. Eu vivo do mesmo jeito.

Por isso gosto de escrever. É melhor para expressar-me sem cair no normal. Existe mais liberdade e não há a pressão do momento. E mesmo vivendo todas as dificuldades imaginadas, Dostoiévski fazia isso de um modo brilhante.

Experimento a desarmonia, essa estranha sensação de estar sempre alguns degraus abaixo. Estou irritada por ter desenhado, em minha frente, esse abismo que separa os que têm tudo com facilidade e aqueles que têm que experimentar o universo da criatura de Dostoiévski.

E, no final, como ele bem falou:

"...Não, de maneira alguma. Divirto-me, mas é à custa da minha imaginação, é uma brincadeira! É isso mesmo, uma brincadeira!" (Crime Castigo, Cap. I, pag. 9, Nova Cultural, 2003)

... Porque a nós, os desprovidos do brilho da lua, dos bens de Minos e do pó de Afrodite, sobra a imaginação, pois ao menos Atenas olhou-nos.



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Aquela velha canção rock'n'roll

São dias cinzas... É a velha rotina. Os planos estão guardados naquele baú com selos de todos os lugares onde meus pensamentos estiveram.

Minha cabeça flutua e imagina, pois dentro dela não há insegurança. É aquele balão vermelho no cenário em preto e branco que quebra a sensação de frio.

São muitas decisões em jogo e tudo que eu preciso é de tranquilidade, ou um ombro que escute, junto comigo, aquela velha canção rock'n'roll.

Sorrisos, despreocupação... E o sol nascendo... A turma, um ônibus... Os pés molhados... E mais sorrisos.

Abraços... E então eu olhei tudo isso tão distante... E é só uma fotografia.

Para a realidade eu voltei. Olhei o céu e todas as constelações fizeram-me companhia. Bem que eu queria dar aqueles passos ousados, mas tenho que esperar. A escuridão ainda está rondando.

Enquanto visualizo todas essas sensações, sinto uma tristeza por não experimentá-las nesse momento.

Lobos solitários tem medo e ficam uivando para lua como seu canto melancólico de dor.


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Selo (part. III)

Estes selos eu ganhei do blog Nova Alexandria.

Obrigada!

E eis minhas indicações (para ambos os selos):

Um Anjo em Minha Vida
Blog do Pena
Cinemeiros News
Peixe Antenado
  Pleonasmos Redundantes