segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Voltando... Aos poucos...

Mais de um ano após a última postagem, cá estou eu, tentando retomar a escrita. Muita coisa aconteceu e muita coisa mudou. Para começar, minha mãe faleceu em 17 de junho de 2020. Não de Covid-19 e sim de câncer de mama, que voltou devastador após oito anos do primeiro episódio. Sobre esse momento, não sei muito o que dizer agora. E acho que poucas pessoas saberiam falar também. Aquele dia foi estranho, caótico, lento e amargo

Instalou-se em mim uma sensação de morte interior, de que sentimentos, prazer e acreditar em momentos melhores foram perdidos para sempre. Desde então, tive que me adaptar a uma nova vida ainda mais solitária: com pessoas incompatíveis, um estágio-emprego, um apartamento pequeno, um quase cubículo de Raskólnikov e um caminhar menos seguro. Tenho agora um pai viúvo que vive perigosamente e não pensa no amanhã. 

Dessa forma, só restou-me a fé no curso de História, que está perto do fim, porém que torna-me uma pessoa enraivecida com aulas remotas que, por diversas vezes, mostram o quanto o serviço público contribui para a falta de estímulo em uma futura historiadora. 

O ano de 2021 caminha para ser um dos mais enfadonhos que já vivi. Tenho trinta e cinco anos, quase trinta e seis, e se tivesse seguido o percurso mais retilíneo, poderia achar-me jovem por demais nesse exato instante. Como vivo pulando gerações (foi assim no curso de Física), sinto-me em um limbo, não jovem e não velha. Entretanto os que me cercam divertem-se cruelmente em afirmar que depois dos trinta, só resta esperar a morte. 

Não tenho algo para chamar de meu propriamente. Tudo parece passageiro, enlutado, cinza e sem sorrisos. Continuo a achar que a melhor companhia em um final de tarde é um belo café quente de frente para a Beira-Mar, que, nesses dias quentes, não me deixa ver as bonitas nuvens de chuva. 

Foi também um ano de descobertas desagradáveis. Das dores crônicas que relato aqui há anos, evoluí para um quadro preocupante: a Fibromialgia. Acerca desse assunto... Preciso de algo mais detalhado. E vou deixar para depois. Entretanto adianto que existem dias de muitas lágrimas, desespero e infelicidade. São dores que se espalham como tentáculos de uma tortura indescritível. Receitaram-me pilates, remédios, psicólogo e diversão. Às vezes tenho vontade de rir sobre isso tudo, pois o pilates não me emociona, tampouco os remédios, cujo o último, que estava indo bem, fez-me mal recentemente. O psicólogo preciso ir urgentemente e são muitos assuntos pendentes: diversos traumas, violência psicológica e muitas decisões erradas. E... bem... Diversão... Essa sim é a mais difícil de todas. Parece inatingível, como a mais distante das estrelas. 

Tentei reviver amores e encontrei somente machismo, loucura, opressão e melancolia. Tentei ajudar pessoas que confundiram as coisas e tornaram-se, posteriormente, motivo de dor de cabeça e ataques de ansiedade. Procurei novas perspectivas... E lá estava encarando-me o tédio e as situações bizarras. Se pudesse materializar uma canção, seria aquela do The Smiths, There is a Light Never Goes Out, na parte em que diz: "Me leve para sair esta noite, onde haja música e pessoas..." e eu poderia viajar a noite inteira em abraços, sorrisos e beijos. 

Só gostaria de me sentir viva novamente, despretensiosamente, amando intensamente, mesmo que por um dia, um brevíssimo dia... Sentindo o vento suave ou a vibração de acordes sufocantes joviais. No final, eu só gostaria que alguém me fizesse rir de verdade... Como um certo alguém um dia fez, em um tempo distante. Um alguém que se foi para sempre e que, vejo hoje, foi o único que um dia chegou perto de entender o meu verdadeiro eu. Que em uma tarde, em um banco, olhei e vi um semelhante e minha imagem no espelho... E, muito provavelmente, não haverá mais alguém assim; pelo menos não nessa existência. 

Depois de todo esse tempo, consegui responder e publicar as mensagens que me mandaram. Fiquei contente em perceber que muita gente ainda não desistiu de ler esse blog e que lembra dos bons tempos em que a escrita era uma forma saudável e promissora de comunicação. Sim... Gostaria de saber como estão todos... Espero que bem melhor do que eu.

E assim retorno à escrita. O único exercício humano em que eu ainda acredito, que tenho prazer e que não me abandona. 

Por enquanto sou metade do que já fui. Muitos pedaços de mim estão pelo chão. E se vou conseguir me restaurar... Somente o tempo, nesse quesito, pode ser meu oráculo. E nele posso confiar. Verdadeiramente... O único.



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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!