sábado, 31 de dezembro de 2022

Etarismo e o ano novo... Alegria dos 37 roubados!


O que é a idade para uma mulher? Um número? Uma marca? Um simbolismo? Bem, depende. No meu caso, tive a felicidade dos meus anos como mulher roubados ano passado. Ou será que começou mais cedo? Talvez. 

Lembro-me da primeira vez que vi o famoso "etarismo" de perto. E eu só tinha 27 anos. E foi assim...

"No auge da minha ilusão com o curso de Física, deixei-me levar pela inocência de que todos adorariam saber sobre os anos 90 e minhas preferências mais saudosistas. Estávamos em uma mesa do refeitório da UFMA. Um rapaz (que tinha no máximo uns 21 anos) fala isso:  - Nossa, essa menina é velha demais!." 

E ali eu perdi um pouco da minha essência. Melhor, a escondi, passei a suspeitar de mim mesma e das minhas qualidades. O que me causava um sorriso no rosto, um orgulho em falar, transformara-se numa espécie de LETRA ESCARLATE. 

Não seria surpresa dizer que cursar Física foi um destino cruel e necessário. Eu precisava ver de perto que aquilo não era para mim, por mais que eu amasse Astronomia. Porém, ainda pergunto-me, como eu estaria se não tivesse passado por esse tipo de violência. 

Como seria o meu eu hoje se tivesse passado por experiências mais agradáveis, tivesse os amores que eu desejei e acreditasse que a minha vida valesse algo significativo para o mundo? Melhor? Pior? São só suposições. O que eu sou hoje é o que eu posso oferecer no momento. Isso sim é a realidade fria. 

Mudei. Me formei em História. Dei aulas de Contabilidade. Não fui paga. E ainda sinto um gosto do escanteio, da falta de conexões: com esse mundo e com o meu anterior que me mantinha verdadeiramente cheia de vida.

Antes desse ano terminar, eu preciso falar sobre o meu erro do ano passado. Eu mesma procurei isso, por motivos nobres e que foram a minha derrota. Eu falei do roubo da alegria de completar mais um ano a cada temporada. Roubaram a minha alegria de ter 27, de ter 35, dos 36 e, finalmente, dos 37:

"Numa tempestade de palavras hostis, nascida da boca de um homem maligno (e que eu não deveria ter novamente me aproximado), escutei - "Uma mulher de quase 40 anos!". Eu ainda posso sentir o peso, o desprezo, a vontade dele de me atingir e ferir, como em um deleite fervente por fazer exatamente o que pretendia. Eu tinha 35 e ele tinha 33."

Então, uma mulher ter 40 anos é motivo de escárnio? É o fim da dignidade da mesma? E eu nem os tinha ainda e ainda não os tenho. E, mesmo assim, foram-me roubados juntamente com a plenitude futura.

Em outro momento... No mesmo ano... Um rapaz de 26 disse que: "Nossa, tu é mais velha que o meu irmão mais velho!".  Em um encontro. 

E isso tornou-se rotina. Seriam as companhias? As escolhas de vida? Ou somente eu mesma? 

Seria possível ter uma felicidade nunca sentida aos 37? Ou aos 40 anos? Parece bem improvável.

Não tenho mais o vigor anterior de escrever. Por isso essa postagem é para lembrar-me do que me machuca e do que preciso me curar. Aqui redijo com melancolia. Um sabor metálico de tristeza assola-me. E a solução? Não sei. Preciso de um psicólogo? Um psiquiatra? Aceitar a solidão e um mundo perdido para mim? Ou providenciar novos óculos, novos olhos e novos ares para esse novo ano? Quero um emprego fixo e meu tão sonhado mestrado. E também trabalhar em um museu e escutar as vozes silenciadas do passado.

Que seja um ano melhor... Pelo menos um pouco.