Afirmo que não há nada menos segregante do que esse arranjo de letras. Suas mãozinhas enegrecidas tocam as almas mais iludidas para que depois personifiquem a figura do horror em trejeitos e linguajar. E por mais que esses corpos banhem-se em ouro e nobres tecidos, a fantasia não tarda a esvair-se, revelando um poço sem fundo do mais desprezível que existe: para pobres e ricos, igualmente.
O mais escandaloso nessa constatação é o quão fácil é cair nessa terra lamacenta. Porque é laborioso começar a raciocinar de forma inteligente e a alimentar-se de ensinamentos que levem a um nível mais sublime, desapegado e menos material.
A vulgaridade não está nem aí se a criaturinha tem riquezas ou vem de um berço de alta estirpe.
Coloco nesse meio aqueles que pensam e agem como intelectuais de taverna, homens e mulheres, às vezes tão jovens, que interpretam pobremente o papel que escolheram para si mesmos. É degradante, porém um divertimento diabólico para os que observam atentamente tais bufões.
O senso comum também tende a achar que a baixeza atinge as classes menos favorecidas apenas porque essas vestem-se com trajes mais baratos e de gosto duvidoso. Contudo, nisso tudo, apenas muda-se o cenário, os atores e a quantidade financeiramente investida. Pegue alguns da elite e analise-os por um certo período. A maioria estará mergulhada na indignidade, mediocridade e obscenidade em formas gourmetizadas. Chega a ser extremamente patético. Já do outro lado, as classes menos favorecidas podem muito bem mostrar exemplos de requinte. E entre esses dois universos, se for para apostar nesse digladiar, prefiro a horda comum, verdadeira e de raiz. Não aguentaria, além do já exposto, presenciar vômitos de uma nobreza aguada que contém uma gente sórdida que se acha a nata do refinamento.
O contemporâneo tornou-se bem raso e incolor. Por isso refugio-me em mundos imaginativos. Porque nessa infame realidade, até mesmo a vulgaridade está sentindo vergonha deste mundo.