terça-feira, 25 de abril de 2023

Porque eu não quero mais um Mr. Darcy

AMOR QUE MORRE

O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Florbela Espanca 
(Poesia de Florbela Espanca. L&PM Editores. Edição do Kindle.)


Quando eu escrevi "Por que queremos um Mr. Darcy?", um dos mais populares textos do meu blog, eu tinha 24 anos, uma escrita simples e uma esperança incomum de que todas as minhas fantasias se tornariam realidade, dentre elas ser uma astrônoma e viver um amor arrebatador e reconfortante. A minha vida com essa idade era bastante estranha, cheia de medos e traumas. Entretanto, movia-me uma incauta chama de um horizonte melhor. Agora, aos 37 anos, sobrevivo entre fantasmas, potencializados pela dor crônica que carrego há 12 anos, em altos e muitos baixos. Não há mais o gosto de coalhas e maçãs, muito menos a Astronomia e meu coração está morto. Portanto, existe uma certa estrada até aqui, para o bem e para o mal, repleta de experiências, das quais muito poucas posso guardar com apreço. E, dessa forma, ao revisitar esse texto, tão ingênuo, percebi que ele necessitava de um Post-Scriptum para explicar o porquê dele não fazer sentindo algum para o meu eu de hoje.

Preciso falar, previamente, que a minha recém profissão de historiadora não me permitiria, jamais, condenar a pessoa que eu era antigamente. O antes pertence ao antes e deve ser analisado nesse contexto, já explicava Michael Baxandall, historiador da Arte: "[...] é impossível compreender a pintura do Quattrocento sem voltar-se para a dança, para o teatro, para os sermões do período – e que formavam um complexo socio-cultural." (Baxandall, L'oeil du Quattrocento, Gallimard, 1985). Não sou uma pintura e nem uma obra de arte. Porém como um sujeito dentro de uma certa sociedade, eu estava em um contexto de época que fazia-me gostar desse personagem de Jane Austen. Dou-me ao direito de mudar e ser diferente neste momento.
 
Naquela época, em 2010, eu tinha sim magníficos sonhos e me alimentava avidamente deles. Minhas crenças sobre o mundo eram outras e meu comportamento condizia com o de uma adolescente tardia que desejava o que tinham-lhe negado veementemente antes. Porque na minha vida tudo foi demorado: por receio, privação sentimental ou mesmo por não me sentir digna. Eu almejava o céu noturno e sentir-me parte das estrelas. Posso resgatar daqueles momentos o grande aperto no peito por esse amor tão grande e que poderia me fazer morrer a qualquer instante. Eu tinha muito definido que uma vida maravilhosa era para os belos rostos, os mais queridos e amados. Eu não possuía nada disso e muito menos hoje. A diferença aqui é que aquele momento produziu um eu que idealizava um Mr. Darcy, a personificação de várias buscas. E, sendo assim, somente aquele período ele cabe. Não há espaços para arrependimentos. 

Em abril daquele ano, ainda não tinha conhecido o homem que foi responsável por destruir muito da minha concepção de paixão real e querer bem do sexo oposto. Depois de todo o trauma envolvido e sentimentos estraçalhados, ano após ano, procurando reconstruir o que foi perdido e trazendo para mim pessoas muito tóxicas, percebi, duramente, que esse conceito que eu carregava de amor, ideais românticos e a completude somente na companhia do outro, muitas vezes dependendo de migalhas, estava a me fazer um mal irreparável. E não pense que isso foi um processo rápido. Estou em 2023 e digo que em 2021 ainda estava tentando compensar o que me foi vendido como "a necessidade de uma mulher". Tive que escutar de um outro homem que, por exemplo, eu era mais velha que o irmão mais velho dele. E eu nem ao mesmo gostava daquele rapaz. Por que diabos eu tinha essa carência? Aliás, era minha essa necessidade? Ou da sociedade ao meu redor? Assim, o Mr. Darcy, que eu afirmei que: " todas (os), no fundo, necessitam de alguém assim por perto.", morreu. Foi esmigalhado pela iconoclastia de uma outra percepção. Esse homem ideal foi tirado de um livro de um outro contexto social bem distante. Ele foi alterado pelo cinema, mais palatável ainda. Só que ele sempre esteve em 1797. Seus defeitos são inúmeros, como todo ser humano, agravados por suas opiniões que são problemáticas hoje. A perfeição dele NUNCA EXISTIU. Fui eu que desejei isso.

Eu amei uma vez. Platonicamente. Irretocável. Belo. Um sopro de um Zéfiro. Com grandes olhos azuis inesquecíveis. E, diferente da paixão destruidora e carnivora, feia, suja, lastimosa e infeliz, o meu único e verdadeiro amor ficou em um tempo ainda mais infante. Não preso, e sim guardado. E desse modo ficará para sempre. 

Hoje eu luto com meus demônios. Luto com um corpo que, por fora, parece bem. Porém, por dentro, sofre com dores que vão e voltam, que causam lágrimas, gritos, sussurros. Eu caminho por picos. Meu corpo é meu inimigo. E isso define metade de mim agora. Almejo alcançar sonhos e não mais pessoas. Não consigo mais que me queiram. No mundo que eu vivo, ninguém vai compreender como a minha carne rasga de dia e de noite, como ela sangra invisivelmente. 

Viver agora é assim. Eu me culpo, às vezes nem tanto. Se eu pudesse... Mas nunca pude. Eu não quero mais um Mr. Darcy. Eu quero me aceitar. Uma luta diária e sem romantismo. 

Matthew MacFadyen como Mr. Darcy em
Orgulho & Preconceito (2005)


sábado, 31 de dezembro de 2022

Etarismo e o ano novo... Alegria dos 37 roubados!


O que é a idade para uma mulher? Um número? Uma marca? Um simbolismo? Bem, depende. No meu caso, tive a felicidade dos meus anos como mulher roubados ano passado. Ou será que começou mais cedo? Talvez. 

Lembro-me da primeira vez que vi o famoso "etarismo" de perto. E eu só tinha 27 anos. E foi assim...

"No auge da minha ilusão com o curso de Física, deixei-me levar pela inocência de que todos adorariam saber sobre os anos 90 e minhas preferências mais saudosistas. Estávamos em uma mesa do refeitório da UFMA. Um rapaz (que tinha no máximo uns 21 anos) fala isso:  - Nossa, essa menina é velha demais!." 

E ali eu perdi um pouco da minha essência. Melhor, a escondi, passei a suspeitar de mim mesma e das minhas qualidades. O que me causava um sorriso no rosto, um orgulho em falar, transformara-se numa espécie de LETRA ESCARLATE. 

Não seria surpresa dizer que cursar Física foi um destino cruel e necessário. Eu precisava ver de perto que aquilo não era para mim, por mais que eu amasse Astronomia. Porém, ainda pergunto-me, como eu estaria se não tivesse passado por esse tipo de violência. 

Como seria o meu eu hoje se tivesse passado por experiências mais agradáveis, tivesse os amores que eu desejei e acreditasse que a minha vida valesse algo significativo para o mundo? Melhor? Pior? São só suposições. O que eu sou hoje é o que eu posso oferecer no momento. Isso sim é a realidade fria. 

Mudei. Me formei em História. Dei aulas de Contabilidade. Não fui paga. E ainda sinto um gosto do escanteio, da falta de conexões: com esse mundo e com o meu anterior que me mantinha verdadeiramente cheia de vida.

Antes desse ano terminar, eu preciso falar sobre o meu erro do ano passado. Eu mesma procurei isso, por motivos nobres e que foram a minha derrota. Eu falei do roubo da alegria de completar mais um ano a cada temporada. Roubaram a minha alegria de ter 27, de ter 35, dos 36 e, finalmente, dos 37:

"Numa tempestade de palavras hostis, nascida da boca de um homem maligno (e que eu não deveria ter novamente me aproximado), escutei - "Uma mulher de quase 40 anos!". Eu ainda posso sentir o peso, o desprezo, a vontade dele de me atingir e ferir, como em um deleite fervente por fazer exatamente o que pretendia. Eu tinha 35 e ele tinha 33."

Então, uma mulher ter 40 anos é motivo de escárnio? É o fim da dignidade da mesma? E eu nem os tinha ainda e ainda não os tenho. E, mesmo assim, foram-me roubados juntamente com a plenitude futura.

Em outro momento... No mesmo ano... Um rapaz de 26 disse que: "Nossa, tu é mais velha que o meu irmão mais velho!".  Em um encontro. 

E isso tornou-se rotina. Seriam as companhias? As escolhas de vida? Ou somente eu mesma? 

Seria possível ter uma felicidade nunca sentida aos 37? Ou aos 40 anos? Parece bem improvável.

Não tenho mais o vigor anterior de escrever. Por isso essa postagem é para lembrar-me do que me machuca e do que preciso me curar. Aqui redijo com melancolia. Um sabor metálico de tristeza assola-me. E a solução? Não sei. Preciso de um psicólogo? Um psiquiatra? Aceitar a solidão e um mundo perdido para mim? Ou providenciar novos óculos, novos olhos e novos ares para esse novo ano? Quero um emprego fixo e meu tão sonhado mestrado. E também trabalhar em um museu e escutar as vozes silenciadas do passado.

Que seja um ano melhor... Pelo menos um pouco.


domingo, 30 de outubro de 2022

Agora sou licenciada em História: graduação terminada!

Tornou-se um tanto incômodo voltar aos assuntos mortos e enterrados. Entretanto, preciso fazê-lo. Não poderia deixar de falar de um ciclo encerrado, sendo que esse mesmo foi iniciado quando um outro teve um final triste. Saí do curso de Física, há quatro anos, e desisti de um sonho de infância. A realidade nua e crua levou-me a um diferente caminho - o curso de História.

E, no dia 26 de setembro de 2022, me tornei Historiadora, ou Professora de História, ou mesmo, simplesmente, Licenciada em História. Foi uma caminhada peculiar em uma área segura para enfrentar os fantasmas que teimam em se fazer presentes.

E por que tudo ainda persiste no cinza? Talvez seja a falta de um emprego, ou exercer a profissão em um Museu ou Arquivo (o ideal), ou mesmo refletir sobre os desejos de um Mestrado e um Doutorado que podem não acontecer tão rápido assim. 

Sinto falta de muitas pessoas que se foram. Seria muito interessante contar para as mesmas como é estranha a sensação de conquistar algo e, ao mesmo tempo, sentir-se uma injustiçada ou uma impostora. Como se nenhuma fatia do mundo pertencesse a mim. Avalio, algumas vezes, uma pequena nota de um suicídio imaginário. E endereçaria os meus preciosos livros para aqueles que saíram da minha vida como luzes débeis que se afastaram de um monstro. 

Tudo é tão pesado e humilhante. Nos últimos dois anos, deixei de escrever sobre o que eu sentia, pois não há sentimento; nem mesmo a raiva que movia-me como um combustível inesgotável. Inexistem amores das esquinas ou das praças, com seus rostos misteriosos e chamativos, pois meus olhos se fecharam e só enxergam o mal ou o desinteresse. Sou vítima da minha idade, do meu corpo e de mim mesma. 

E não os culpo. Afinal, há muitas pessoas jovens e notáveis por aí. Por isso afeiçoei-me ao conhecimento, aos estudos e a um outro universo. Melhor, apeguei-me aos mortos e suas narrativas de anos, décadas e milênios. Eles não podem me esnobar e deixam-me tocá-los gentilmente através das palavras escritas, fotos e outros acervos do passado.

Pudera eu resgatar aquela sensação de gosto de coalhada e maçãs e que, misturadas, criavam uma atmosfera de sabor ansioso e êxtase. 

Contudo, não há chance mais para isso. 

Assim, conformo-me e volto a pensar em uma nota sobre a morte da minha própria alma: condenada por merecimento. 

sábado, 16 de abril de 2022

O Homem Desesperado de Courbet (em essência, eu mesma refletida...)

Autorretrato de Gustave Courbet: 1843-1845 - Le Désespéré
ou O Homem Desesperado (The Desperate Man)

Há tempos que sinto um gosto metálico na boca, uma tristeza profunda fluida que não se permite dissipar nem mesmo com um café sossegado e solitário. E para piorar toda a situação de anos e anos de dor crônica, suspeito que quebrei o dedinho do pé e nada posso fazer a respeito. Enquanto eu puder andar, deixar de calçar meus sapatos é um problema genuinamente minúsculo perto dos outros que possuo. É até cômico (não fosse trágico) pensar que meus ossinhos fraturados podem ser uma boa tradução da desesperança desértica que me atinge sem pudor.

No outro extremo, penso na morte e suas diversas faces, incluindo o suicídio. Quase todos pensam na última como um crime digno de purgatório ou o limbo eterno. Em minha crença, é uma escolha e um direito. E como tal, para a próxima existência, leva-se todas as consequências dessa decisão anterior. Contudo não penso nisso, não dessa forma. Nesse momento em que estou com mais de três décadas de vida, sinto que me percorre uma espécie de trânsito angustiante, uma lenta e dolorosa extinção do meu eu mais jovial e que acreditava em realizações: viver o céu estrelado como profissão e encontrar bocas para tocar e ouvidos para escutar. Agora, não passo de ruínas. 

Um dia, por cá mesmo, descrevi o meu erro fatal e que foi responsável pela piora do meu estado melancólico, taciturno e da quase total falta de um sentimento mais elevado. Aqueles meses de agosto e setembro do ano passado foram decisivos para que eu me sentisse o pó dos fragmentos anteriores. Por que eu escolhi escutar todas aquelas rudes palavras? Por que eu as aceitei sabendo que seriam um veneno que aos poucos mataria a minha própria essência? Por que todos se foram? E por que parece que eu sempre estive nesse estado de miserabilidade, em diferentes níveis, ano após ano?

E um erro leva a outro. Pois eu tenho a incrível tendência de sair com pessoas que não podem me fazer bem ou mesmo me proporcionar o mínimo prazer. Privo-me, então, cada vez mais, do consolo futuro em forma de lembranças. E essas mesmas criaturas, em especial as figuras masculinas, muito mais novas e imaturas, tornam-me refém de memórias amargas, da insatisfação e do sentir-me muito desprezível. E, assim, meus sonhos viram pesadelos, cheios de monstros, lamúrias e aflição, que me acordam com a sensação de ter sido enterrada viva.

E é aqui que entra Gustave Courbet e sua Le Désespéré (O Homem Desesperado ou The Desperate Man). Com seus olhos arregalados, assustados, visivelmente abalados por alguma constatação. Para Courbet, podia ser a fome espiritual, já que a física estava longe, por ser de abastada família. Ou quem sabe foi a ânsia por reconhecimento em sua revolução com o Realismo; ou, por ventura, amores perdidos ou, finalmente, qualquer um desses grandes padecimentos que uma figura oitocentista passava, ao pensar-se individualmente, imerso em medos: morte, dinheiro, doença e a solidão. E por que eu aqui, no distante século XXI, sinto-me como ele nesse quadro? Meus receios são muito parecidos com aqueles que imagino terem inspirado o pintor francês no momento do aprisionamento de sua própria descrença no autorretrato. 


Paralelamente, se, por muitas vezes, vejo-me nesse Courbet, por outras, sinto-me como o homem solitário de Der Wanderer über dem Nebelmeer  (Caminhante Sobre o Mar de Névoa ou Wanderer above the Sea of Fog) de Gaspar David Friedrich.  É uma outra face do mesmo eu perturbado, apenas num tom de Romantismo e poesia do pintor alemão, num mergulho horizontal nas próprias escolhas da vida.

Der Wanderer über dem Nebelmeer
ou Caminhante Sobre o Mar de Névoa
(Wanderer above the Sea of Fog) - 
Gaspar David Friedrich - 1818
Todavia O Homem Desesperado sou eu olhando-me no espelho, percebendo as imperfeições da idade que foram apontadas por um homem demente e cruel do topo de seus castelo dourado de conforto. Tenho as mesmas expressões de horror por cavar o meu próprio túmulo, perceber meu rosto derretendo e ter a impressão de que eu deveria desaparecer de vez para o bem de muitos. A única diferença nesse cenário é que eu ainda vou continuar a ter dúvidas se Goubert teve algum algoz ou se, mais sortudo, apenas contemplou, nesse revérbero, suas próprias conclusões sem ter sido apunhalado por ninguém. Talvez, no fim, eu mereça tudo isso. 

Amargos trinta e seis e confuso e desalentado começo de um novo ano que promete-me um enorme vazio existencial. E eu poderia amaldiçoar o dia que eu o conheci. E muitas vezes eu assim fiz, em pensamentos íntimos. No auto das minhas súplicas, eu pedi o seu sofrimento e, em uma forma alegórica e triste, só vislumbrei o desespero de uma mãe e seus clamores para que seu filho pudesse encontrar-se na vida. E, de fato, esse filho, na surdina, atormenta e maltrata as filhas de outras mães. Trata-se de uma droga de ciclo vicioso.

Dez longos anos de sombra e escárnio porque eu abri a porta e deixei o mal entrar. E eu tenho plena consciência de que devo implorar por perdão pela minha própria alma, que está numa prisão de ódio e mergulhada na lascívia incessante da vingança.

E que as divindades todas tenham pena de mim porque é só isso que me resta por enquanto.

terça-feira, 5 de abril de 2022

Mirabella

Galego e Português encontram-se como parentes separados por um oceano. E conversam, às vezes, sobre as suas nobres origens do Latim. E não muito distante disso, Ariano Suassuna disse, certa vez, ao grande Carlos Núñez, músico galego, que gostava muito do som de sua língua. E numa prosa muito frutífera, puseram-se os dois frente à frente, entre toques de gaita, num entendimento perfeito. Eis aí um pouco do meu amor por esse idioma, que inspirou também Garcia Lorca, em Seis Poemas Galegos, de 1935.

Não vou me por a fazer um tratado sobre a língua galega a uma hora dessas da madruga. Aqui só quero expressar um pouco desse sentimento saudosista, de cheiros, gostos e do por vir. Esse último tão promissor e amedrontador por ser, também e agora, um não acontecer. 

Para lá, depois do imenso mar, tem-se o Caminho de Santiago, místico e destino. E para cá, no sertão, também assim se chama; herança dos tempos coloniais de ganhos, perdas e transformação. 

E a cada nome que eu descubro e que leio nessa língua, vejo a vastidão das possibilidades imaginárias. Assim é um mirar belo, de Mirabella, da canção que traz o conto melódico do amor e do temor do descaminho. É ela um ser do maravilhoso, numa narrativa dentro do mirabillis, que, no final, é o próprio Latim.

Um ótimo nome que guardarei, bem como as jornadas galegas de Ariano e Carlos e a voz sussurrante e calma de Rosa Cédron.




domingo, 3 de abril de 2022

O meu eu de promessas e ruínas em uma cidade feita de decadências

Nada vejo por essa cidade
Que não passe de um lugar comum
Mas o solo é de fertilidade
No jardim dos animais em jejum
(Zé Ramalho - Zé Ramalho II - 1979)


A São Luís de hoje não me promete mais nada. Porém a de tempos imemoriais é tudo: estranhamente inquietante, fantasmagórica, doente, pueril, bucólica, campestre e em ruínas; longe do meu eu físico e perto dos meus sonhos. Oferece-me histórias e deixa que eu crie rostos e corpos, que trace suas moradias e suas vidas. Ela não pode ferir-me como a cidade de agora, em que cada face é um inimigo, uma intriga, um olhar de desdém. Deixo-me envenenar por suas promessas não cumpridas. 

Vislumbro um enorme vazio, cinza e bolorento, uma sordidez sem precedentes. Tenho um sentimento de apatia, de desesperança e de escárnio travestido em roupas chamativas, discursos vazios e pautas esquecíveis de todas as cores.

A minha infelicidade aqui é a pura fome: de pessoas, de ânimo, de sentimento. Bebo o insípido cotidiano urbano. Olho o contraste entre os apartamentos luxuosos, dos homens e mulheres na pequenez da atrasada burguesia, e o Reviver, com seus humilhados e explorados, igualmente esquecidos e somente notados através das folhas de algum panfleto partidário, de alguma secretaria do estupor. 

Preocupo-me com o respeito que eu não possuo e com a dignidade que me falta, e que vem somente com o barulho de muitas moedas. Eu sou um produto das oportunidades natimortas e roubadas. Fui violentada com palavras pelos filhos daqui: pelos homens-crianças de todas as classes: da elite fétida e improdutiva até aqueles que hoje reivindicam algum posto de alicerce cultural. 

Sinto há muito tempo o vento frio do descontentamento. Tenho sede e fome de unicidade, que não cessa e só aumenta. E sabe o que mais eu tenho? Uma coleção de conversas tediosas, de seres fracos e deprimentes, que não me servem nem mesmo para um amor casual e despreocupado em uma madrugada de qualquer dia do calendário. São todos eles sujos. Incapazes de suprir o mínimo e merecedores de uma nota de assassinato a sangue frio, numa revista feita do cheiro pútrido da decadência intelectual e moral que ecoa no ar. São as falas pornográficas, devassas e com gosto de plástico que mais enojam-me. 

Malditos sejam aqueles livros e filmes que me criaram! Deram-me o melhor para, no final, eu ter somente o mundo cão.

E se for para ser sempre assim... Que eu abrace de vez a solidão. Pelo menos ela é autêntica e sua promessa de prazer triste é confiável.



sexta-feira, 11 de março de 2022

Não... O seu filho não é um bom rapaz!

Sentei-me para tomar um café bem quente e refletir sobre os dissabores da vida. Antes, eu estava animada por passar um tempo na minha cafeteria favorita. Só que, depois de olhar-me no espelho e despejar em mim mesma lembranças pavorosas de críticas sobre meu corpo e meu modo de pensar, não houve maneira de tirar o gosto amargo da minha boca. Só restava-me refletir sobre o porquê de chegar a esse ponto. 

Cheguei aos 36 sentindo-me em um mar revolto e conflitante de existência. E quase todos os dias eu percebo que meu rosto derrete como cera quente. Nada basta-me e tudo falta-me. O disforme impera e todos parecem desinteressantes. Não fossem as questões financeiras, preferiria o isolamento. E é muito difícil detalhar essa estrada até aqui. 

Fui vítima de abusos, críticas e gaslighting. E foram alguns anos nisso e, curiosamente, longe de um relacionamento cotidiano ou mesmo sério. Alegoricamente, é como ser assombrada por um fantasma que sempre está ao redor. Ou sendo enfática: eu vi o mal encarnado que disfarça-se para a família e amigos.

Uma visagem é algo que muitos dizem que é puro fruto da imaginação. Assim também é o comportamento de um homem nas sombras. Você sempre será aquela que, incrivelmente, despertou o pior dele, pois poucos viram o outro lado dessa Lua ou mesmo o Mr. Hyde que esteve à tona. Tem-se então somente a figura bucólica do atormentado e bondoso Dr. Jekyll

Anos e anos de Holmes e Poirot não contribuíram apenas para minhas pesquisas historiográficas. Com a ajuda do Google e algumas táticas, é como consultar o Oráculo de Delfos. E não há assombração no mundo que cubra-se por completo se há uma mãe que tende a escrever preces em ambientes virtuais. O quebra-cabeça é muito fácil de montar depois. E assim eu pude ver o histórico quase que inteiro, gratuito e público de um HOMEM MUITO PROBLEMÁTICO, contudo... Que, aos olhos dos pais, é um bom rapaz que apenas perdeu-se (Deus sabe onde!) numa bolha ou pedestal em que sempre foi colocado. 

Como as famílias desses homens são cegas! Ou seriam apenas enganadas? Quantos papéis eles podem executar com a perfeição digna de um prêmio? E pergunto-me se eu fui a vítima ou uma dentre muitas delas. Quantas existem? Quantas ainda pensam que é um homem apenas perdido? E... Por que as mães e pais de filhos problemáticos adultos acham sempre que eles são essas criaturas em uma eterna adolescência? 

Eu poderia fazer um daqueles bilhetes anônimos com recortes de jornais e revistas e causar uma grande confusão. De vez em quando eu pego-me rindo, porque se há uma coisa que essa pessoa não deve saber, é que o seu nome completo (falta apenas o CPF) está em vários canais de oração do YouTube, em que há relatos até mesmo das universidades que não completou. Porém, foda-se! Se querem continuar com suas súplicas em prol de um psicopata narcisista, o problema não é meu!

Só que... É sempre bom ter cuidado, Mr. Hyde! Você não pode ocultar-se por inteiro. Seu histórico familiar e problemático estará sempre à disposição: desde aquele parente muito próximo que cometeu um crime digno de primeira capa de jornais locais até pedidos de intervenção divina para sua dita confusão existencial.

E a vida é mesmo um mar de loucura: cheia de atores!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

O espírito sem as paixões inquietantes & a tragédia da quietude

Liv Ulmann e Edward Albert
em 40 Carats/1970
Quando revejo a frequência com que escrevia por aqui, sempre vem a mim a mesma pergunta: o que mudou? Bem, com o fim do curso de História se aproximando, restando apenas a monografia e o estágio final, parece-me que eu redigi muito para ele e pouco para os meus sentimentos. Concluo, depois de construir artigos e relatórios (que exigem uma grande revisão depois), que a inspiração e o ânimo para fazer o que fazia antes no blog esgotaram-se antes mesmo de eu começar a ter uma ideia. Ou... Há alguma outra coisa? Muito mais profunda? Seria simplesmente porque perdi o estímulo de outrora, da mulher apaixonada por pessoas e por assuntos inquietantes? A intensidade move-me, isso é certo. Preciso de um coração partido, de um amor intenso, vivido e sofrido. De fato, hoje sinto-me sem muito entusiasmo, como em um limbo estranho, azul e pálido. Que esquisito, não é mesmo?! 

Porém esse sentimento de quietude é angustiante. O coração começa a cicatrizar, mas, paralelamente, ele caminha para uma não intensidade assustadora. Com 36 anos, eu gostaria de estar em um tipo de enredo em que as paixões não cessam, só mudam o foco e o objeto desejado e consumido, numa perspectiva feminina mais intimista, prazerosa, longe dos anseios e ardência juvenis e muito, muito distante da morte decretada do sentimento, como no filme 40 Carats com a Liv Ullmann (Deus, que filme delicioso!), em que posso resumir a um gosto de cafezinho quente em um final de tarde do frio tropical.

Estou perto de ser uma historiadora (e professora de História). Sinto bastante segurança nisso. Diferente da Astronomia e Física, que deixavam-me a sonhar, motivada, para depois terminar num fosso escuro e sem volta. Só que, em minha vida inteira, eu sonhei com os telescópios do Deserto do Atacama e não com museus em casarões de pedra e cal. E essa constatação faz-me suspeitar da ligação disso com essa minha falta de paixão pelo outro. Contudo, eu não posso decretar o fim da minha alma assim. Tudo bem... Eu tenho dores crônicas e fibromialgia. Não é fácil manter-me como antes nessas condições. Uma parte dessa apatia é própria da tristeza que eu acumulei. Tenho culpa, é claro. Medos e um gosto amargo me possuem. Não sou mais aquela que viu a constelação de Órion abrir-se como um cego que volta a enxergar. Nem por isso tenho que me condenar a marchar para o destino de uma vida de uma nota só, com medo da fome e da pobreza do corpo e do espírito.

De vez em quando, pego-me a pensar no rapaz dos olhos azuis da cor do oceano tempestuoso. Eram momentos em que eu era mais interessante para mim mesma. E, mesmo assim, eu não quero voltar no tempo. Preciso de cafeína, analgésicos, ópio e um psiquiatra. 

Mia Farrow e Jeff Daniels
em A Rosa Púrpura do Cairo/1985
Eu poderia ser a Cecilia de A Rosa Púrpura do Cairo agora. Só que eu quero um final melhor. Será que eu consigo aceitar esse novo eu que vem mostrando-se ao longo de 11 anos? Os outros podem enxergá-lo na essência? Ou simplesmente só aceitam a juventude, num ciclo sem fim de rotatividade? E por que eu tenho que esperar por eles? Por que eu estou falando disso...? 

Espero, ao menos, continuar a escrever por aqui. Quem sabe, com uma diferente inspiração. Mesmo que seja do mundo bizarro de David Lynch.

...

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Voltando... Aos poucos...

Mais de um ano após a última postagem, cá estou eu, tentando retomar a escrita. Muita coisa aconteceu e muita coisa mudou. Para começar, minha mãe faleceu em 17 de junho de 2020. Não de Covid-19 e sim de câncer de mama, que voltou devastador após oito anos do primeiro episódio. Sobre esse momento, não sei muito o que dizer agora. E acho que poucas pessoas saberiam falar também. Aquele dia foi estranho, caótico, lento e amargo

Instalou-se em mim uma sensação de morte interior, de que sentimentos, prazer e acreditar em momentos melhores foram perdidos para sempre. Desde então, tive que me adaptar a uma nova vida ainda mais solitária: com pessoas incompatíveis, um estágio-emprego, um apartamento pequeno, um quase cubículo de Raskólnikov e um caminhar menos seguro. Tenho agora um pai viúvo que vive perigosamente e não pensa no amanhã. 

Dessa forma, só restou-me a fé no curso de História, que está perto do fim, porém que torna-me uma pessoa enraivecida com aulas remotas que, por diversas vezes, mostram o quanto o serviço público contribui para a falta de estímulo em uma futura historiadora. 

O ano de 2021 caminha para ser um dos mais enfadonhos que já vivi. Tenho trinta e cinco anos, quase trinta e seis, e se tivesse seguido o percurso mais retilíneo, poderia achar-me jovem por demais nesse exato instante. Como vivo pulando gerações (foi assim no curso de Física), sinto-me em um limbo, não jovem e não velha. Entretanto os que me cercam divertem-se cruelmente em afirmar que depois dos trinta, só resta esperar a morte. 

Não tenho algo para chamar de meu propriamente. Tudo parece passageiro, enlutado, cinza e sem sorrisos. Continuo a achar que a melhor companhia em um final de tarde é um belo café quente de frente para a Beira-Mar, que, nesses dias quentes, não me deixa ver as bonitas nuvens de chuva. 

Foi também um ano de descobertas desagradáveis. Das dores crônicas que relato aqui há anos, evoluí para um quadro preocupante: a Fibromialgia. Acerca desse assunto... Preciso de algo mais detalhado. E vou deixar para depois. Entretanto adianto que existem dias de muitas lágrimas, desespero e infelicidade. São dores que se espalham como tentáculos de uma tortura indescritível. Receitaram-me pilates, remédios, psicólogo e diversão. Às vezes tenho vontade de rir sobre isso tudo, pois o pilates não me emociona, tampouco os remédios, cujo o último, que estava indo bem, fez-me mal recentemente. O psicólogo preciso ir urgentemente e são muitos assuntos pendentes: diversos traumas, violência psicológica e muitas decisões erradas. E... bem... Diversão... Essa sim é a mais difícil de todas. Parece inatingível, como a mais distante das estrelas. 

Tentei reviver amores e encontrei somente machismo, loucura, opressão e melancolia. Tentei ajudar pessoas que confundiram as coisas e tornaram-se, posteriormente, motivo de dor de cabeça e ataques de ansiedade. Procurei novas perspectivas... E lá estava encarando-me o tédio e as situações bizarras. Se pudesse materializar uma canção, seria aquela do The Smiths, There is a Light Never Goes Out, na parte em que diz: "Me leve para sair esta noite, onde haja música e pessoas..." e eu poderia viajar a noite inteira em abraços, sorrisos e beijos. 

Só gostaria de me sentir viva novamente, despretensiosamente, amando intensamente, mesmo que por um dia, um brevíssimo dia... Sentindo o vento suave ou a vibração de acordes sufocantes joviais. No final, eu só gostaria que alguém me fizesse rir de verdade... Como um certo alguém um dia fez, em um tempo distante. Um alguém que se foi para sempre e que, vejo hoje, foi o único que um dia chegou perto de entender o meu verdadeiro eu. Que em uma tarde, em um banco, olhei e vi um semelhante e minha imagem no espelho... E, muito provavelmente, não haverá mais alguém assim; pelo menos não nessa existência. 

Depois de todo esse tempo, consegui responder e publicar as mensagens que me mandaram. Fiquei contente em perceber que muita gente ainda não desistiu de ler esse blog e que lembra dos bons tempos em que a escrita era uma forma saudável e promissora de comunicação. Sim... Gostaria de saber como estão todos... Espero que bem melhor do que eu.

E assim retorno à escrita. O único exercício humano em que eu ainda acredito, que tenho prazer e que não me abandona. 

Por enquanto sou metade do que já fui. Muitos pedaços de mim estão pelo chão. E se vou conseguir me restaurar... Somente o tempo, nesse quesito, pode ser meu oráculo. E nele posso confiar. Verdadeiramente... O único.



sábado, 6 de junho de 2020

Um olhar sobre o antigo eu: esperançoso, juvenil e cheio de amor.

A tristeza paira no ar, com seu véu brilhante, cravejado de lágrimas. A pandemia enfiou sua lâmina em milhares de corações. São dias de pouca luz e luto. E aqueles que tentam sobreviver, escondem-se em seus lares como coelhos que fogem do abate. E tornam-se ainda mais taciturnos e desgostosos. E essa é a melhor descrição do que eu sou agora.

Mas, às vezes, lembro-me do que eu quera antes. Se não muito feliz, pelo menos brilhavam em mim os feixes de futuros não realizados e anseios por dias mais saborosos, desses que se observa passarem com uma xícara de café e leite bem quente e uma torta de amora. 

Os pesadelos dominam-me. Eu sei. Todavia quando esses dormem, tento lembrar desse velho espírito que ficou perdido na desilusão. E o que ajuda-me, impressionantemente ou não, são os filmes da infância. É como rasgar esse véu negro por algumas breves horas e olhar limpidamente o horizonte a mostrar um portal que leva-me àquela garota de uns quinze anos, sentada, vendo o arco-íris no céu mais bonito já existente. E, para um pouco mais tarde, imaginar o grande amor platônico de olhos azuis, que poderia ser representado muito bem pela constelação de Cassiopeia no firmamento boreal. 

Eu precisava escrever sobre essa sensação de passageira vivacidade após rever O Jardim Secreto (The Secret Garden/1993). Um breve resgate de uma vida que ficou para trás; melhor, ter novamente contato com um ser jovial que pertence a um doce tempo e só tem sentido nele. 

Trata-se de momentos de uma doçura sem artificialidade, sem tecnologia, sem guloseimas instantâneas e atômicas. Sim, eu sou uma dessas pessoas fascinadas pelos campos, casarões, roupas de renda, longos vestidos, relógios de bolso, jardins, verde londrino e fitas de seda. Remete a romance, poesia, rostos bonitos e afáveis. Aprecio um café da manhã quente contrastando com o frio congelante do raiar do dia. É exatamente como nesse filme que retrata tão bem o ciclo infantil da maneira como deveria ser: saudável e sem traumas advindos de pessoas machistas ou vulgares. 

Quero aproveitar mais essa sensação que logo irá esvair-se. Se pudesse apenas guardá-la em potes para tomar algumas gotas todos os dias, quem sabe eu voltaria a acreditar que a vida é um jardim que a qualquer momento pode se cultivado novamente. Só que a realidade é firme, presente e não deixa abater-se por nada. 

Recordo-me do dia da caçada às borboletas em que saímos da escola para recolhê-las. Era 1996. Elas eram inúmeras e amarelas. Um garoto ficou preso nas grades de um hospital abandonado. Porém ele conseguiu sair. E foram risos e risos. Eu estava feliz, puramente feliz. Eu achava que ia ser tudo o que queria, viajaria para Marte ou Lua. Foi importante, apesar de ser apena um devaneio.

Irei dormir e esperar sonhos melhores. Ou mesmo uma regressão que leve diretamente àquela garota que ficou perdida...
... Entre as borboletas amarelas e o jardim secreto das fantasias intocadas. 



sábado, 9 de maio de 2020

Covid-19 e seus desafios: muito mais do que manter a própria vida

Quando eu era mais nova, lembro-me de assistir diversos filmes na Tela Quente da Globo. Um deles foi o Epidemia (Outbreak/1995). Naquela época, o mundo tinha medo do Ebola (considerada a doença mais mortal, mas não mais mortal que a Raiva, por exemplo!). A vida era cheia de um imaginário distante. Enquanto o cinema mostrava-nos um cenário catastrófico apenas como uma obra intelectual, o meu universo particular estava triste, porém cheio de desejos e amor platônico. O céu leitoso salpicado pela Via Láctea era o começo de uma felicidade utópica. O engraçado é que sinto saudades dessa alegria ilusória e tola e da melancolia real juvenil - um campo de ópio de verdade.

O tempo passou. A infelicidade tornou-se tão presente quanto as decepções. A morte não está somente lá fora, com o corona vírus, a nova peste, o divisor de águas para o fim do século XX; o ceifeiro anda lentamente dentro da minha própria casa. O mundo está em crise. Já o meu desmanchou-se há tempos.

Eu estava tentando a minha reconstrução através do curso de História. E jamais imaginei que pudesse amá-lo muito mais do que a Astronomia. Sinto-me nele mais segura intelectualmente. Pois antes enterrava a minha própria inteligência e sanidade num profundo mar de desapontamento. Contudo é uma batalha árdua, complicada. Eu não sou um homem, que, infelizmente, é privilegiado pela maioria dos professores. Falo e desafio os professores em suas desinformações sobre os conteúdos em geral. Tenho coragem, curiosidade e foco. Mas abandona-me a sorte por buscar o meu reconhecimento merecido.

Lentamente vou perdendo as esperanças mais brilhantes e que tinham a potência de um ecstasy. A vida é ameaçada de todas as formas - socialmente, intelectualmente, politicamente e, principalmente, fisicamente. Não luto apenas contra fascistoides ou machistas que impregnam as universidades em altos cargos e pequenos estudantes. Do outro lado há as falsas feministas que defendem professores opressores baseadas no alinhamento dos planetas, cirandeiros que são contra o EAD porque não são capazes de sair de seu próprio mundo de vícios e de preguiça. É como estar entre Cila e Caríbdis. Não quero nenhum e nem outro. São extremistas complementares. Prefiro mesmo morrer se for para escolher entre o impossível para o meu caráter. 

Ficar em casa não se compara a ficar doente. Isso é uma medida de sobrevivência. Também não é um oásis de tranquilidade. Estou com picos de dores na coluna (a dor crônica que é minha sombra) e mais irritada do que o normal. Às vezes eu só queria as conversas de anos atrás. Hoje nada faz mais tanto sentido no lado das interações sociais. Não gostar de absolutamente ninguém é uma calmaria muito monótona. É ser um pouco morto. 

Depois de tanto tempo voltei a escrever. Uma vontade que oscila por essa época. Porém preciso. Tentarei mais. Posso falhar. Contudo é o que resta. 



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Enterre o meu coração na linha do horizonte


"Se eu pudesse morrer e voltar de imediato..." Com essa certeza, desejaria não mais que quietude e um amor duradouro. Mas não um desses que se consome fervorosamente, desgastando-o com mordidas de rancor e paixão que misturam-se até formarem um só ente. Contentaria-me com conversas, cumplicidade e o querer lento das paixões platônicas.

É um dos mais terríveis tempos de solidão e tristeza, uma mistura angustiante que tira-me os prazeres cotidianos. Talvez eu esteja levemente deprimida e caminhando para uma dessas faltas de reações químicas cerebrais que levam as pessoas à boca do enorme Leviatã. De fato, eu não sei muito agora de mim própria, pois esse eu está quebrado por dentro e tem que sorrir e manter-se como antes para evitar as conversas e as indagações do meu entorno. Esse entorno que faz-me ainda mais taciturna. É uma distância tão grandiosa e que mostra-me um limbo cheio de almas que flagelam-me com suas presenças. 

É extremamente complicado, longe daqueles descritos na Literatura. 

"Se eu pudesse voltar no tempo..." Aproveitaria mais as antigas conversas, os antigos amores e até mesmo as feições juvenis dessas ardentes paixonites dos bancos da universidade. Naquela época, eu era um pouco melancolia e um tanto de esperança. Tinha o coração partido pelos sonhos ameaçados e pelos sentimentos e beijos que ficaram no Verão. Entretanto amanhecia para uma nova sensação e, o mais importante, o meu coração estava aberto para todas as possibilidades. 

Estou às voltas com alguém muito próximo que definha a cada dia. É como se o ceifeiro jogasse uma espécie de xadrez. Pode ser algo muito grave ou mesmo um trauma de uma experiência anterior. Não se sabe, nem mesmo os médicos. Muito dinheiro gasto, nenhuma resposta e o tempo passando. Discussões, lágrimas da madrugada, desespero. Posso não ser a pessoa de 34 anos mais infeliz do mundo, contudo sou muito mais do que esperaria ou mereceria ser. 

Sinto-me pobre e fraca, e bem isolada. Incapaz e inútil. E levo comigo as discórdias. Não posso me calar, todavia deveria. E muito. Outros com a mesma atitude poderiam ser louvados. Eu não posso. Estrago tudo pelo caminho. O que carrego parece uma maldição. 

Os anseios e sonhos viram pó de desvario ou mesmo de petulância. Por que eu deveria ter pensado em um dia ir para a Irlanda ou Galícia? Conhecer muitas pessoas, sorrir e falar e escutar. Seria essa vivência uma penitência por pecadores anteriores? 

Ultimamente tenho lido muito sobre Herman Melville. E como ele só há outro: Van Gogh. Tenho esse interesse por figuras com grandes obras e que em vida viveram na completa miséria ou na linha da pobreza, vivendo à custa de parentes e que perderam tudo por causa de um objetivo. Decepcionaram-se e foram desacreditados. As vidas infelizes atraem-me por serem assim parecidas com a minha. Não é só uma miséria material. É sobretudo a espiritual. 

Melville tem uma frase que mostra o quanto ele sabia de todo o seu infortúnio: “Though I wrote the Gospels in this century, I should die in the gutter.” (Why Read Moby Dick?, Nathaniel Philbrick, Chapter: The Gospels in the Century. E-book, 2011), ou seja: "Embora eu tenha escrito os Evangelhos neste século, eu deveria morrer na sarjeta." E assim foi. Melville só foi reconhecido tempos depois como um grande, um dos maiores. Contudo ele mesmo morreu achando que Moby Dick foi um fracasso. O que parece muito mais do que injusto. Trata-se de um grande horror. Tornou-se imortal só para aqueles que nunca poderá sequer trocar uma palavra. E essa frase dele poderia muito bem expressar toda a dor de quem empolgou-se com uma obra em vida, deu tudo de si e viu o não reconhecimento e também serviria para aqueles que pensam que poderiam ser mais reconhecidos, mas que, por alguma razão, o futuro só oferece o descaso e pouco ou nenhum dinheiro. 

Aliando-se a tristeza e a solidão, soma-se a impressão de não proteção. E é por isso bebo muito café quente: uma das poucas coisas que esquenta o meu peito e o cobre como um cobertor. 

"Se eu pudesse ter um pedido..." Gostaria que o meu então coração fosse enterrado na linha do horizonte - onde o mistério paira sobre os olhos e o maravilhoso esconde-se. Assim, ao voltar como uma outra pessoa, as alegrias fantasiosas estariam intrínsecas no espírito e não permitiriam que o meu ser morresse de tristeza como hoje.


domingo, 2 de fevereiro de 2020

O crônico e mórbido desânimo

Às vezes penso que a vida é um desses infortúnios eternos, que repetem-se em ciclos de existências. Esse parece ser o meu caso.

Dias complicados estendem-se em mim, alcalinos e sem graça. E são tantos os motivos para que eles sejam desse modo. Entretanto não são novos. Trata-se de uma grande árvore de dissabores, já anciã, ganhando novas folhagens com os problemas de cada época e com as respectivas pessoas de cada uma.

É difícil quando alguém importante está doente. Principalmente se esse já passou por uma fase preocupante há muito tempo. Mas dessa vez o diagnóstico demora muito e teme-se por más notícias. Esse definhamento físico é uma parte avassaladora. Sem uma causa detectada, não se pode agir para a cura ou para o alívio, ou mesmo para preparar-se para o mais temeroso. É um limbo.

Acordei hoje pensando no exame que foi feito e que sairá na segunda. Como comportar-se com um resultado devastador? Ou mesmo para um que não diz absolutamente nada e coloca-nos de volta no mistério? E assim vão passando-se os dias imersos em uma profunda tristeza.

Não há ninguém para conversar. Não há ninguém desse momento com que eu queira fazer isso. Talvez as minhas esperanças de viver um pouco mais alegre estão se esgotando e não deveriam sequer ter existido.

Preocupa-me a minha situação financeira. Às vezes penso que nunca vou conseguir um bom emprego nessa cidade. Só há concursos. Só há exploração. Agrava meu estado saber que só serei alguém (no sentido literal mesmo) quando falar que possuo um emprego estável. Ainda há o fator idade. A cada aniversário, é como envelhecer 10 anos, olhando-me no espelho e vislumbrando um ser disforme, derretido, quase repugnante. Tenho medo da miséria. Por isso não consigo mais iludir-me com o melhor. Parte de mim morreu em um tempo imemorial.

Antigamente ficava a pensar nas pessoas que eu poderia conhecer. Isso, hoje, tornou-se um desvario. Todos que olho e converso transformam-se em uma peça que não se encaixa. Alguns irritam-me com assuntos desagradáveis. Também há os jeitos, as bobagens de vida, a pouca idade... Sou tomada por um emaranhado de sentimentos frios como o resto de café do fim da tarde. A solidão é ainda mais sórdida em seu intuito quando joga-me em uma multidão incompatível. Esse sim é um dos piores modos de vivê-la.

A negatividade impera quase o tempo todo. E penso que terei que buscar uma compreensão mais efetiva e profissional sobre esse crescimento de melancolia. Entre altos e baixos, digo, somam-se uns oito anos. De fato, esse blog nasceu desse começo de perda de fé. Por isso tenho que escrever; para registrar sonhos trincados e os desencantamentos com o mundo, com o meu próprio.

Meus problemas com o sono continuam. Durmo muito de dia, às vezes não saio da cama. E isso tem me causado dor na coluna e nos quadris. E acomete-me, pela madrugada, a falta dele associado a uma angústia feroz. Há uns 35 dias apresento vertigem ao mover a cabeça (que começou quando descobri que uma pessoa da antiga escola particular que eu estudava possuía doutorado e um ótimo emprego. E isso me mostrou como custou-me o curso de Física. Possivelmente também a minha vida inteira. Como fui infeliz, parece que nunca vou recuperar-me disso!).

Fui ao oftalmologista. Encomendei um novo óculos. Era um dia chuvoso. E só conseguia sentir tristeza ao ver o meu rosto com aquela armação.

O dia mais próximo do normal (e até um pouco alegre) deu-se quando fui assistir 1917. Uma certa liberdade, longe de casa, e com uma das poucas coisas que ainda gosto. Todavia é um prazer muito caro. E mesmo que eu saia para almoçar ou tomar um café, ultimamente, não consigo afastar-me desse amargor de viver o agora.

Antes pedia remédios para a dor. Hoje sei que nem eles podem ajudar-me.

O mundo real é um mar turvo, cheio de perigos e desgostos.



terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Crítica da Semana - 1917/2019

1917 é uma obra-prima. Feito para ser visto no cinema em toda a sua grandiosidade. Sam Mendes leva-nos a uma viagem em dois grandes atos, cada um sem cortes aparentes. Uma única missão para dois jovens soldados dentro da I Guerra Mundial. As trincheiras nunca foram retratadas de maneira mais fiel e dimensional. É uma imersão dentro de um inferno dantesco e um espetáculo de iguais proporções.

Lanço essa crítica antes de escrever definitivamente sobre Coringa (Joker/2019) e que fui assistir quatro vezes no cinema com o mesmo entusiasmo inicial. Pensei que igual sensação não pudesse mais atingir-me. Que engano! 1917 é um dos melhores filmes que eu já vi em toda minha vida. E digo isso com a premissa de que filmes sobre guerra são difíceis para mim (apesar de ter apreciado muitos deles ao longo da minha vida), pois sou acometida, durante semanas, por um sentimento de que a vida é somente tristeza, morte e sofrimento, no qual reinam a barbárie e as decepções, todas envoltas pela injustiça. É difícil expor isso quando eu estou em um curso para ser uma futura historiadora. Entretanto sim, meus caros (as) leitores (as), enfrentar a Historiografia é uma tarefa que pode causar lágrimas constantes, pois o passado é cheio de sangue.

Só que 1917 traz consigo algo diferente. Primeiro, por ter como base a I Guerra Mundial, a Grande Guerra. Não há muitos filmes do circuito americano especificadamente sobre esse marco historiográfico. As exceções podem ser encontradas no cinema russo, como o bom trabalho Battalion (Батальонъ/2015) sobre as mulheres russas no front da I Guerra Mundial. Segundo, o filme de Sam Mendes é direto e sem rodeios. Começa e termina com uma determinada missão. Não existe mais do que isso: "Em 06 de abril de 1917, o general Erinmore (Colin Firth) informa a dois jovens soldados britânicos, Tom Blake (Dean-Charles Chapman) e William Schofield (George MacKay), que a inteligência, por meio de reconhecimento aéreo, verificou que os alemães não estão em retirada como se pensava antes, mas que um recuo tático havia sido feito para uma nova área de defesa. Com as linhas telefônicas de campo cortadas, Blake e Schofield são obrigados a entregar em mãos uma mensagem ao 2º Batalhão do Regimento de Devonshire, para cancelarem o ataque que poderá custar a vida de 1.600 homens.

Porém o mais impressionante é a parte técnica. Só para efeitos de comparação: se o Coringa de Todd Phillips é o que é pela atuação de Joaquim Phoenix, 1917 é igualmente por causa de seu diretor, Sam Mendes. Vale ressaltar que, apesar de toda a concepção voltar-se para a I Guerra Mundial, o arco central é baseado em histórias que o avó do diretor, Alfred Hubert Mendes (o sobrenome não nega, os Mendes têm raízes em Portugal), contava. Ele foi soldado na Grande Guerra e, muitas vezes, serviu como mensageiro por ser pequeno, rápido e ágil. Então trata-se de uma película ficcional, aprimorada com fatos históricos pela roteirista (junto com Sam Mendes) Krysty Wilson-Cairns. Com a história então em mãos, a monumental construção do cenário procurou reproduzir quilômetros e quilômetros de trincheiras em campos reais, espalhando efeitos feitos na raça e na coragem, indo de explosões, poços de lama, reproduções de cavalos mortos e cadáveres.



O Épico de Guerra de Mendes foi feito em One Shotum grande e já conhecido trunfo do cinema, para que o filme parecesse exatamente uma grande sequência dentro de uma específica linha temporal. É o famoso Plano-Sequência. A definição de AUMONT e MARIE é exatamente essa: "trata-se de um plano bastante longo e articulado para representar o equivalente de uma sequência (Dicionário Teórico e Crítico de Cinema, Campinas: Papirus, 2001, p. 231)." Desse modo, 1917 tem dois aparentes planos-sequência, mas que, de fato, trata-se da junção de alguns costurados em pontos específicos do filme (ao adentrarem lugares escuros). Menciono dois porque você saberá exatamente onde estará essa passagem quando assisti-lo. Curiosidade: em língua inglesa o filme é chamado de ONE SHOT no modo LONG TAKE. E o pioneiro nesse sentido foi Alfred Hitchcock e seu Festim Diabólico (Rape/1948).

Depois de assistir ao filme (e somente após isso!), as várias reportagens e vídeos sobre a produção do filme darão a dimensão do árduo fazer dessa jornada cinematográfica. Você se sentirá dentro da missão de Blake e Schofield graças ao esforço da equipe de filmagem que coloca o telespectador na narrativa em terceira pessoa, em primeira pessoa e em travelings (deslocamento espacial de câmera nos trilhos) sem nunca quebrar a sequência, passando por muros, cercas, subindo e descendo, com gente correndo e andando dentro da trincheira, com carros acima dessa com mais filmadoras e seus operadores. Devido ao ambiente apertado das locações, as câmeras em HD tiveram que ser adaptadas para serem as mais leves possíveis e assim facilitar toda a ação. Em entrevista ao programa do Jimmy Fallon, o ator George MacKay disse que os ensaios antes da filmagem levaram 6 meses. Isso mesmo. O filme é uma grande coreografia!

O filme e tão voltado para o realismo que até os ratos parecem de verdade. Assisti a um crítico falando que a película é tão imersiva que na hora do aparecimento dos roedores ele pensou: "Poxa, deve ter dado um trabalhão treinar esses ratos!" E esse é um pensamento momentâneo que nos acomete ao ver a obra, pois aqui sim os efeitos visuais são utilizados para ajudar e não para deixá-lo com cara somente do jogo Battlefield 1.

A fotografia é um ponto alto. A direção de Roger Deakins, que é um veterano da área com 15 indicações ao Oscar (contando com a de 1917), é um primor. As cenas noturnas captam o horror, a agonia e a beleza envenenada pela destruição, na qual as luzes deslizam suavemente pelas ruínas. É um trabalho deslumbrante. Se a fotografia é assim, a trilha sonora de Thomas Newman, também um veterano com 14 indicações a estatueta (incluindo 1917), é grandiosa e bela. Para se ter uma noção, a cena da corrida final de Schofield pelas trincheiras é acompanhada pela composição de Newman e ela torna-se ainda mais memorável com a sonoridade.

Além disso, as atuações são muitos boas. Das grandes estrelas, temos pequenas e importantes aparições, como as de: Benedict Cumberbatch (Sherlock/Jogo da Imitação), Andrew Scott (Sherlock/Fleabag), Richard Madden (Cinderella/Bodyguard) e o já mencionado Colin Firth (Orgulho e Preconceito/Discurso do Rei). Porém são as ótimas atuações dos garotos principais, MacKay e Chapman, desconhecidos* do grande público, que nos levam com seriedade a essa odisseia (*unknown tem sido mais utilizado nas mídias para falar dos protagonistas e considero um termo bastante complicado, uma vez que quem acompanha a BBC, ITV e mais emissoras britânicas já viu muito trabalho dos dois. Só nesse final de semana assisti dois filmes com MacKay, Amor em Tempos de Ódio/Where Hands Touch/2018 e Capitão Fantástico/Captain Fantastic/2016).

Um alerta! Os cartazes já revelam que uma hora a missão será apenas de um homem só. Portanto é Schofield que nos guiará até o destino final. Outro destaque são os figurantes, extremamente interessantes e que atuam maravilhosamente (pois não há nada mais frustante que um figurante apático olhando o horizonte, fazendo cara de paisagem).

No que diz respeito ao contexto historiográfico, pode preparar-se! Muita gente vai falar besteira sobre a I Guerra Mundial e o filme. Portanto vou citar uma crítica que você DEVE EVITAR, mesmo depois de assistir ao filme: a do canal OMELETE TV. Além das falhas técnicas, eles não sabem nada sobre a história desse período e apresentam argumentos fraquíssimos. Por outro lado, pessoas de peso também terão suas reclamações acerca do roteiro dentro da Grande Guerra. Por exemplo, do Waldemar Dalenogare Neto, que é professor universitário, com formação acadêmica na área de história e pós-graduação em cinema, além de membro da Academia Brasileira de Cinema. Ele mesmo deu nota 7 à obra. A crítica dele eu coloquei abaixo. São argumentos muito bons e bem fundamentados. E como estudante de História, vou deixar dois livros sobre a I Guerra Mundial. São eles de autores renomados e muito indicados dentro do próprio curso.

Sim, 1917 é tudo isso: grande, majestoso, épico. É bem feito, bem dirigido, bem ensaiado. Vale muito a pena assistir no CINEMA, pois é para tela grande, para um ótima poltrona e som de primeira qualidade. Faça um favor a si mesmo esse ano: NÃO PERCA POR NADA! É uma EXPERIÊNCIA inesquecível. Uma obra que ficará para a posterioridade e para ser sempre lembrada. 

NOTA: 
10 cafezinhos


Trailer:



Por trás da produção de 1917, trilha sonora, entrevista e críticas sobre 1917:












Para saber mais sobre as técnicas empregadas em 1917:


Livros para começar a entender a I Guerra Mundial:

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos. O Breve Século XX 1947-1991. São Paulo: Companhia da Letras, 1995.

GILBERT, Martin. A Primeira Guerra Mundial: Os 1.590 dias que transformaram o mundo. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2017.


segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Relembrando o jovem Ismael

Pois é madrugada. Triste. Sonolenta. Inquietante. Dizem que não há descanso para os ímpios. E, talvez, eu esteja entre os piores.

Nesse mar sinistro e taciturno, de águas turvas amargamente esverdeadas, recordei-me de um texto em que descrevi um momento saboroso, com um desses rostos saudosos de outrora. Não poderia ser menos feliz, pois tratar-se de um contexto advindo de Moby Dick. De lá para cá, já terminei de ler o grande clássico mundial e o mesmo tornou-se um dos meus livros favoritos. E para acalmar o meu pesado coração, cheio de mágoas e incertezas, deixo aqui esse escrito. Uma lembrança de um momento simples e delicioso.

P.S: clique abaixo para ler. 

Ismael (Charlie Cox). Moby Dick Minissérie/2011