Anseio por uma viagem a Irlanda. Por quê? Ao certo, não sei dizer. Apenas acredito que lá há alguma dessas respostas que parecem fragmentos de vivências marcantes. Pela Galiza tenho o mesmo sentimento. E esse vazio que reside em mim assemelha-se muito mais a uma busca que não pode ser iniciada e que possui o temor de transferir-se para uma nova existência, em um outro corpo.
Permaneço presa, longe de algo que nunca será encontrado aqui. É uma sensação cortante de perda constante de alegrias genuínas, de amores puros e de uma paz nunca antes experimentada.
Pessimismo, sim. Eu admito. E com razão.
Deixei de escrever por longos dois meses. Isso não é uma displicência. Trata-se mais de cansaço e de uma leve e crônica tristeza. Entretanto o curso de História tornou-se um horizonte mais instigante e que permite uma certa liberdade de estudos. Ultimamente é um conforto e um consolo. É uma das poucas esperanças que tenho para começar a investigar o meu próprio eu.
Não deixei de pensar na Astronomia. Ela estava em algum lugar. Porém causava uma dor suave e uns batimentos mais acelerados. Portanto tive que usar um truque mental e trancá-la no fundo da minha própria mente. Metade de mim morreu depois da perda da batalha. Porque eu tinha construído uma vida inteira baseada em ser feliz através dela.
E foi assim... Que meu primeiro grande (e talvez) único amor juntou-se a esse imaginário: com os os olhos azuis de um céu crepuscular de dezembro, com Vênus à sudeste e Cassiopeia ao Norte. Por muito tempo felicidade era simplesmente tecer a colcha de promessas e de vontades de viver intensamente os prazeres intelectuais e carnais.
Todavia a iconoclastia veio furiosa e estraçalhou tudo. Não passavam de sonhos infantis e devaneios. As paixões jamais serão como antes e só tiveram sentido naquela época.
Guardei os pedaços em um baú. E vivo agora só pela metade. Reinventei-me. E tenho prazeres momentâneos que se desfazem pelo dissabores passados. Não envelheci só pela idade.
Condenei-me a sentir pesar a qualquer momento. A satisfação irá embora com a aurora. Se não desejo-me, então estão todos proibidos de tentarem-me.
Minha metade morta jaz na realidade. E a restante trasportou-se para um novo lugar imaginário.
A fantasia é a minha única salvação: meu sangue, meu oxigênio.