quinta-feira, 13 de junho de 2019

Do que não se pode ter (e nunca se terá)

Houve um tempo em que desejei somente alcançar o meu mundo ideal. Posso dizer que muito da minha vida foi baseada em uma utopia de libertação, com sentimentos avassaladores, aventuras douradas nos confins do espaço, ou, melhor dizendo, de dentro de uma cúpula na qual todo o céu abriria-se perante meus ávidos olhos, num desvelar mortal, um nirvana.

Por isso fui um baú nebuloso, guardiã de sentimentos, ressentimentos, lágrimas, esperanças, um pouco de vingança (talvez até mais do que possa ser relatado), amores não correspondidos, desilusões e muitos pedaços de mim. Esperei justamente pelo triunfo, o final de uma grande saga, a vitória dos humilhados e do coração partido. E foi dessa maneira que não resolvi o que deveria, não revidei, escondi a coragem, sufoquei de amargura. Esperei por um navio, que até veio, branco, grandioso, feito apenas de promessas, e que, mais adiante, naufragou, sucumbiu às rochas além, representantes divinas da realidade esmagadora.

O meu erro foi o de uma jovem mulher que almejou o que não poderia ter. Não era para ser, não me pertencia. Busquei um salvador. Basta deles! Estão mortos como assim quis o destino.

Foi-se o tempo das paixões. E tenho saudades do frisson, do frio na barriga, das madrugadas vistas pelas frestas da janela de madeira. Dos olhos azuis, das nuvens do leste, do céu cortado pelo caminho lácteo, do Arquivo-X, Sky Trackers, Espaçonave Terra...

Mas eu não me queria. Aspirava ter outra carapaça. Sempre infeliz, com quantidades astronômicas de defeitos. Nada de paz e quietude.

Passou-se o tempo e fiz-me por retalhos. Recebi migalhas, muitas. Esperei por conversas minguadas, por telefonemas, por mensagens. Um encontro qualquer. Gostei de muitos, recebi o nada. Enganei outros, disse inverdades, enterrei o asco e desfiz-me desses humanos como quem apenas livra-se de uma pedra no sapato.

Fechei a porta.

Às vezes aparecem os inocentes, patéticos, que não valeriam nem mesmo uma noite qualquer.

Hoje olho-me com mais aceitação, ainda longe do ideal. Engordei e estou tentando desfazer-me da imagem de que pareço um pequeno mostro-bola; o que são 5 quilos a mais? As celulites são apenas celulites.

A História tem-me ocupado por demais. É um desafio prazeroso, cheio de espinhos, de conflitos e que sigo como um cão fiel.

Só posso ter eu mesma, disso agora eu sei. Estou treinando para bastar-me, como deve ser. E, ao final, quem sabe, poderei ganhar um universo cheinho de mim em diversas outras versões.

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