quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Fadó

Em gaélico irlandês fadó significa uma vez. É muito utilizado nos contos de fada da língua irlandesa. E isso lembrou-me de fatum, a palavra latina para destino e que nos dá a fatalidade do Português e o fatality do inglês, por exemplo. E não se pode esquecer, jamais, da fada, que também pertence ao mesmo grupo. Latim, Gaélico Irlandês, Português, Inglês... Todas trazem um radical comum para o imaginário milenar e ancestral dos seres humanos. Carregam, num conjunto de letras, os anseios e as loucuras que interligam povos de culturas diferentes, porém com o mesmo manancial de pensamentos sobre os caminhos misteriosos de nossas vidas. 

Bem... Após essa introdução, tenho que admitir que demorei por demais a escrever. São dias estranhos, parecidos com os filmes de Lynch. Ultimamente preocupo-me mais com os fatores financeiros. Preciso da minha independência o quanto antes. Entretanto estudar para esses fatigantes concursos públicos é uma tarefa enjoativa, emaranhada de pensamentos turvos. O vislumbre de uma futura vida de migalhas tira-me o pouco da paz e, talvez, cause-me essa dor de cabeça que pesa como uma bolota de chumbo. 

Por outro lado, minha vida acadêmica anda bem. Esse é o  futuro que almejo para mim: uma carreira dentro da universidade como historiadora, voltada para o lado intelectual. Porém o meu eu é muito vaidoso, padecendo quando há alguma crítica infundada dos professores. Poderia afogar-me no mar do meu próprio sangue fervilhante e colérico em decorrência desses episódios. Agora (precisamente amanhã) rumo para o terceiro ciclo. E assim faltarão apenas cinco para que eu possa começar minha vida profissional nesse ramo. É claro que ainda há o mestrado e o  doutorado e esses são os cumes da montanha que estou escalando.

Outro dia Júpiter estava alto no céu, ao lado de uma Lua Cheia plena no horizonte sudoeste. Às vezes lembro da Astronomia profissional que deixei em um passado muito doloroso. A última conversa que tive com um astrônomo, ainda no curso, foi péssima. Tratava-se de um homem muito ríspido e de poucos amigos em uma dessas palestras da Física. Usava uma camisa do Doctor Who e que, diante da minha pergunta sobre se ele gostava do Peter Capaldi no papel, comportou-se como um desses bobalhões que veste esse tipo de roupa para parecer um geek.

Semestre passado fui monitora de História Medieval. Foi um ótimo começo e será uma boa referência no meu currículo. Contudo com a enfermidade que acometeu o Professor nas últimas aulas, não sei se poderei ter o meu certificado.

Minhas dores continuam, é a minha cronicidade. Estou na entendiante fisioterapia, com umas moças incompetentes. Queria uma varinha mágica só para pedir que meu corpo fosse refeito. Sou um amontoado de genes mal costurados.

Sinto saudades dos cafés aromáticos do final da tarde e de pessoas que façam-me rir de uma maneira que eu sinta o cheiro do crepúsculo. Sinto falta das nuvens leste que prenunciam as chuvas, carregadas com uma brisa suave de tempestade, raios e trovões, abraçando tudo em volta e compondo um quadro de tons belamente cinzas.

Preciso de conversas inteligentes, de um ser humano para adoração para que assim eu possa devotar meus desejos. Meu templo está vazio e esfacelado.

Quero uma aventura e excitação; escapadas noturnas, densidade de corpo e alma.

E aqui fica o registro que vai além de uma estória. É, de fato, uma prece.


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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!