sábado, 12 de janeiro de 2019

Kidding - uma obra de arte para a TV

Kidding é um magnífico e sublime retrato de que a vida perfeita e esfuziante deságua sempre no abismo cruel da realidade quando as câmeras são desligadas. As pessoas gentis vão sofrer, pois esse é o destino. E não deixe-se enganar: essa brincadeira infantil é para adultos!

Aproveitando que o Globo de Ouro foi por esses dias (e que as indicações ao Emmy desse ano ainda não saíram), trago um dos indicados da noite: Kidding (Showtime/EUA - melhor série de comédia ou musical e melhor ator de comédia ou musical).

Essa é a história de Jeff Piccirillo (Jim Carrey), mais conhecido como Mr. Pickles, um querido apresentador de televisão infantil, apreciado por crianças e pais. Ele tem um verdadeiro império multimilionário, porém enfrenta uma tragédia pessoal e uma vida familiar difícil. Eis que temos, então, um homem sensível em um mundo cão, que recusa-se a acreditar na ignorância, na falta de boas maneiras e na existência de pessoas ordinárias e aproveitadoras. Entretanto tudo tem um limite e ele é uma bomba-relógio que está só esperando a hora de explodir e mandar todos para o inferno. Só que essa pintura nua e crua da natureza humana levará um certo tempo para se concretizar.

E enquanto isso não acontece, somos levados por uma estrada sutil com destino a um colapso inevitável, com lampejos de esperanças seguidos por quedas vertiginosas. E é quando Jeff age como um completo bobo, aceitando de bom grado ser pisado pela vida e tirando sempre o melhor da lição, que os momentos mais reflexivos surgem. Às vezes tem-se uma vontade de dizer: "Ei, cara, acorde para a vida!". Contudo isso dura pouco, pois uma personalidade contida tem muito a mostrar quando atinge um certo nível de desgraça. 

O elenco é de extrema competência, como Frank Langella que faz o pai controlador e que gerencia todos os negócios, que só pensa na marca e na boa imagem que precisa manter de Mr. Pickles. É claro que o destaque fica com Jim Carrey. Seria difícil não falar o quão ótimo ator ele é, sendo um gênio na transição da comédia para o drama (e que só essa semana assisti uns cinco filmes dele). Em Kidding, Jim entrega uma das suas melhores atuações, deixando o pastelão de lado e indo mais fundo em um universo sombrio paradoxalmente colorido. 

[ADENDO: Jim Carrey sumiu por uns tempos e ficou quase um recluso. Tudo começou em 2015, quando sua ex-namorada Cathriona White cometeu suicídio e deixou uma carta com um conteúdo perturbador (os detalhes deixo para a pesquisa de cada um de vocês). Houve muita confusão, o marido da moça tentou processar Carrey, depois descobriu-se que algumas coisas que ela falou poderiam não ser verdade e o processo foi arquivado. Ele está com novos pensamentos e outra filosofia de vida, uns muito bons sobre o lado espiritual e outros muito nocivos (como a velha história de que as vacinas fazem mal). Ele agora faz tirinhas contra o Trump (o que é ótimo) e você pode ver o excelente trabalho dele aqui no twitter oficial. Sugiro que assista Jim & Andy, documentário da Netflix sobre os bastidores proibidos das filmagens de O Mundo de Andy/1999. É incômodo e ao mesmo tempo revelador, principalmente pelo brilhantismo de Carrey e seu depoimento de como mudou após o filme.]

Voltando...

São dez episódios que passam rápido (com trinta minutos de duração). Será fácil maratonar a temporada completa, pois ela realmente induz a isso.

Um lembrete para você, querido (a) leitor (a): essa é uma série para ADULTOS. Tem sexo explícito e nudez. Dado o aviso, não deixe de assistir. É uma das melhores séries de 2018. 

Recomendadíssima!



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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!