sábado, 6 de abril de 2019

A morte de mim mesma

Não posso ter tudo. De fato, nem ao menos possuir o mínimo. E assim passam os dias, cheios de compromissos, pouco dinheiro, desprestígio e uma convulsiva sensação de que o meu tempo foi-se.

E para onde? Talvez, e provavelmente, para um lugar inatingível.

Confesso que a falta do desejo dos outros corrói-me como ácido. E essa fonte de inspiração secou tão de repente que eu mal percebi. A solidão tornou-se um tanto quanto estranha, de um sabor suavemente amargo.

É uma época estressante. Faço muito para alcançar o que, tardiamente, decidi seguir. Muitas vezes parece que não passo de uma dessas caricaturas ingratas, acinzentadas, no meio de um ambiente em que as pessoas não estão sintonizadas comigo.

Quero arrancar minha pele, rasgar os meus músculos e queimar os meus ossos. Almejo recomeçar das cinzas, com uma nova aparência e identidade física. Assim, quem sabe, percebam a minha alma, minha essência, meu próprio eu que, arrisco, é digno de cafés, longos passeios, prazer e risos; histórias, camas, calor e tantas outras coisas essencialmente humanas.

Ontem esforcei-me demais, tive dor de cabeça e ânsias. Imagens de escárnio percorreram meus pesadelos. Através de uma janela vislumbrei a minha própria decadência, eu estava envelhecida em um limbo.

É uma dessas maldições de séculos com gosto de vermelho, tons de azul melancólico e o negro das profundezas.

Estaria eu morta para toda a humanidade?

Não. Estou morta para mim mesma. Eu só preciso reconhecer e aceitar.

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