Todos são de ferro e feitos de palavras agressivas soltas cronometradamente em larga escala. Cenários de disputas, mesquinharias e incompreensão. Ao mesmo tempo, são pálidos e frios, sem mistério, sem sal e muito menos açúcar. É como olhar grandes recipientes vazios encrustados de números e quantidade, fórmulas e desdenhos.
Há assuntos que não gosto de discutir [ou, ao longo do tempo, aprendi a evitar]. São eles, religião e política.
Assim que entrei no curso, foi dada-me a seguinte máxima: "religião não combina com Física.". Fiquei com isso na minha cabeça por muito tempo.
Pensei nos cientistas do Vaticano, Latim, Isaac Newton e todas as possibilidades românticas e poéticas de uma vida que pode ser clara, tranquila, espiritual, buscando o conhecimento sobre o mundo e sobre si mesmo. Contudo parece um assunto proibido, só murmurado em coxias, na calada da noite. Sinto-me numa fábrica ideológica imposta - ser e ser - não é uma questão, é a própria vida.
Dentro do meu próprio mundo, eu sou um paradoxo. Sou católica e acredito em reencarnação. Gosto da propriedade investigativa dos Dr. Ian Stevenson (já falecido) e o Dr. Jim B. Tucker (Psychiatry and Neurobehavioral Sciences - The Division of Perceptual Studies - University of Virginia - School of Medicine). Do outro lado, meu modelo de profissional é o Carl Sagan - cético e divulgador nato da ciência, não a apavorante, e sim aquela de um mundo que não precisa ser complicado, basta amá-lo para entendê-lo (igualzinho a Olavo Bilac que aconselhava a amar as estrelas para compreendê-las...).
Em nenhum momento entrei em conflito com esses dois mundos. A coexistência é a chave para a paz.
Sinto, cada dia mais, que aqui não é o lugar, o meu. Não consegui criar raízes e belas histórias. Não sinto saudade.
Falta-me o sentimento vivo e intenso. E ele existe e viveu ardentemente em mim.
Muitas pessoas alegam ter memórias de outras vidas (geralmente aparecem na infância, antes dos 7 anos). Outras sentem a falta inexplicável de algo que não viveram - um fragmento de uma vida esfuziante de outrora, de outro tempo, imemorial e longínquo.
Revendo Arquivo-X (1993-2001), cada vez mais identifico-me com o Fox Mulder. E, todos que assim se sentem, têm medo de, no meio acadêmico, acabarem com a reputação de estranho, louco e desacreditado.
O assunto vidas passadas também foi abordado na série - os carmas, pessoas que continuam ao nosso lado, as mesmas missões, os mesmos pecados e defeitos, inimigos, amigos e amores.
Hoje sinto-me letárgica. Não há um grande amor ou laços de amizades intensos. E assim é essa caminhada há alguns anos.
As perguntas permanecem abertas e as respostas perdidas. Porém há tantas histórias para serem vividas e redescobertas. Em algum lugar vaga, com a mesma impressão, alguém que também sente que um pedaço dessa vida está ligada a outras que, nesse momento, ocultam-se em labirintos que deixam escapar somente a sensação de que a alma é imortal e imutável.
Não se vive para sempre.
Vive-se várias vezes...
***
Este é o tema do filme para TV Minha Vida Na Outra Vida (Yesterday's Children - 2000/EUA/França). Ele foi inspirado no livro autobiográfico de Jenny Cockell. O Livro de Jenny, Yesterday’s Children: The Extraordinary Search for My Past Life Family (1993), relata suas lembranças de uma vida passada e sua jornada para reunir seus filhos de ontem que deixou ao morrer na Irlanda de 1932. O filme conta com Jane Seymour (a famosa Dr. Quinn e do belo filme Em Algum Lugar do Passado), Clancy Brown (Highlander e Sleepy Hollow) e o grande ator Hume Cronyn (que foi, também, marido de Jessica Tandy).
"Escute o meu coração
E como ele segue um sonho
E ele leva a um lugar
Que somente eu conheço
Para conhecer meu coração
É preciso seguir um sonho
Um sonho que apenas eu posso conhecer."
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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!