Pergunto-me o quão egoísta seria esquecer pessoas, lugares, situações. Apenas recomeçar. Sem passado.
São dias muito complicados, como todos os de tanto tempo. Porém eu realmente peguei-me pensando nisso - esquecer todas as lembranças dos rostos de agora. Muitas vezes crio histórias, cenários conduzidos por músicas delicadas e... Não há um conhecido. Outras pessoas são modeladas, diferentes das muitas atuais (a grande e ingrata maioria) - generosas, gentis, sabias, solidárias, dispostas, interessantes, misteriosas, charmosas... Um universo utópico. Porém, se não fosse por ele, teria sucumbido há muito nesse pequeno e sufocante limbo.
A vida desenha um ciclo - existem épocas em que você conhece alguém regular, em contrapartida, chovem muitos que trarão a dúvida, o dissabor, a desordem, a antipatia, o descaso, o aproveitamento, a desilusão e muitas e ácidas lágrimas.
Não, não seria egoísmo. Concluo agora. Quantos dos mesmos estão pensando nas palavras duras, atos, aproveitamento ou mesmo lembrando-se da mera existência de quem agora escreve?
Faces chateadas, mentes intolerantes, falácias - o gosto podre de cada entonação.
Não sobra tempo: ocupados e ocupados infinitamente - ganhar dinheiro, escrever equações, uma festa, outros compromissos. Ou... Sobrou um espaço ínfimo, vou agendar... - Sim, espere... Preciso ir.,.
E quando ajudam - cobranças e mais olhares ranzinzas... "Eu perdi meu tempo para nada...".
No fim - sou culpada por todos os males. Quem sabe até pelas guerras mundo afora.
O desejo de apagar...
... Um bocado de gente do depois, do outra hora e do não tenho tempo.
... Outras tantas do mal-amada, sozinha, desiludida, idiota.
... E mais tantas do é fácil (quando é difícil), pavoneando sabedoria, é difícil (quando tudo que se precisa é de uma explicação de alguém disposto).
Ao redor há os tons monossilábicos, insípidos, cinzas e marrons.
[e mais um semestre abandonado...]
Sempre, uma vez na semana [talvez duas], aparecem as opiniões: estude mais, não faça isso, não seja polivalente, por que não trabalhar, sério? Que pena...
[tenho memória de elefante para situações e dizeres ruins]
Algumas correntes foram quebradas - as das humilhações do iconoclasta de outrora. Sobraram cacos, feridas abertas. A cicatrização é extremamente lenta. Nunca houve ninguém para ouvir, pois nunca existiu também tempo...
[Todos têm suas prioridades divididas em cem colocações.]
Somaram-se as dores físicas e persistentes com o mundo-cubículo, o descaso cotidiano, as misérias humanas da convivência, o ombro retirado e negado.
Formou-se uma nuvem pesada preta e azulada
Mas no meu martírio, altíssimo, eu preciso encenar, dizer que está tudo bem, pois do contrário, quem liga, ou melhor, as chateações jorrarão, que são tão iguais ao representar - são os biquinhos de desagrado.
Hoje foi um dia de muita dor, a dor física que desgasta dia após dia, sem causa aparente, que teima em procurar explicações materiais para algo que pode ser também da alma. Porém, no meu círculo, nada é levado em conta se não existe a prova comum.
Se eu pudesse esquecer, esqueceria. Não há nada demais em querer suprimir a dor imposta.
Muitas vezes, por várias vezes, desejei apenas conversas e uma sopa quente.
... E esses desejos foram a minha condenação.
**Sobre o vídeo: LOCAL HERO é uma das músicas que mais gosto do Dire Straits. Tema de um filme britânico de mesmo nome (1983). A versão original é mais animada. O que não cabe aqui. Porém a versão do álbum/DVD On The Night (1993) é mais bonita e singela. E esta sim dá-me a sensação de calmaria e esperança. Como os vales verdes cheios de ovelhas em terras para lá de frias (um sonho escocês, irlandês, quem sabe...)
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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!