sábado, 3 de maio de 2014

Levanta e anda!

"Irmão, você não percebeu que você é o único representante do seu sonho na face da Terra? Se isso não fizer você correr, chapa, eu não sei o que vai..." 

Álbum O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve 
Aqui/Emicida/2013
E era mais um dia frio, cheio de dores. Era hora de trabalhar, fazer algo, pensar  e achar soluções... Melhor... Dá motivo, sentido. Parece tudo tão perdido, oscilando harmonicamente no seno do ângulo de uma esperança diminuta.

Meus ouvidos e uma estação de rádio: trânsito, tolices, muita música ruim, uma balbúrdia de palavras mal empregadas e melodias de um doce artificial. Um cenário enjoativo, amenizado por um pequeno cristal reluzente: eis que uma música do Emicida fala justamente sobre a importância de continuar com os sonhos e buscar a motivação, mesmo em meio a dor e as tantas desventuras da vida, pois, afinal, quem pode mover a máquina das realizações e suas engrenagens senão nós mesmos?

"Quem costuma vir de onde eu sou, às vezes, não tem motivos pra seguir. Então levanta e anda, vai, levanta e anda, vai, levanta e anda. Mas eu sei que vai, que o sonho te traz coisas que te faz prosseguir."

Jesus ressuscitando a filha de Jairo
Afresco na Igreja de Chora, em Istambul.
São pequenas porções de reflexão sobre nós mesmos, um pouco aqui e um pouco mais adiante, a história de cada um em cada verso. O cotidiano duro [na proporcionalidade de cada vida], frangalhos de desejos envoltos em lágrimas e descrença. Porém assim como Jesus disse: "Levanta-te, garotinha!" para a filha de Jairo, devemos pegar nossos moribundos sonhos e trazê-los de volta à vida. 

"Eu sei, cansa, quem morre ao fim do mês: nossa grana ou nossa esperança. Delírio é equilíbrio entre o nosso martírio e nossa fé."

Não é fácil encarar a dor física e da alma, a falta de dinheiro e quase tudo esvaindo-se com a fluidez da água. Sonhamos com uma vida melhor, respeito, amor e o reconhecimento. A fase mais difícil é a perseverança - justamente o insistir, continuar e acreditar mesmo em tempos de dificuldade.

"Esses boy conhece Marx, nós conhece a fome. Então serra os punho, sorria. E jamais volte pra sua quebrada de mão e mente vazias."

Muitas pessoas nunca entenderão a dor daqueles que conhecem as amarguras e decepções do cotidiano. Para as mesmas é importante apenas ler e discutir sobre as mazelas da vida dos outros - é a busca do status da intelectualidade envolto na comodidade e nos louros dos mundos esfuziantemente coloridos. E do outro lado, no submundo cinza, partilhar as angústias é como gritar onde não existe ar para estabelecer a comunicação - uma pantomima sem plateia e a surdez da incompreensão.

[E lembrou-me George Orwell que, em suas andanças por Paris e Londres, muito mais do que enaltecer seu intelecto, quis sentir as aflições de uma vida de dificuldade extrema (mesmo que depois tenham sido essas impostas a sua própria vida) antes de relatá-las em seu livro sobre a pobreza.] 

Emicida contextualiza no agora o que Gonçalves Dias proclamou em tempos anteriores na Canção do Tamoio

"Viver é lutar. 
Se o duro combate 
Os fracos abate, 
Aos fortes, aos bravos, 
Só pode exaltar."

E nessa luta por viver nossos sonhos, com pés descalços e feridos, o amanhã melhor é fruto justamente do nosso ato de levantar e seguir em frente. 

Fontes:

O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui - Wikipédia em Português


  

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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!