"Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido." (Charles Chaplin, o último discurso do filme O Grande Ditador)
De todos os dias que posso me lembrar, esses fazem parte do rol dos piores: angustiantes, solitários e sombrios. Minhas lágrimas esvaíram-se pela demanda. Estou vazia. É como apenas levar, dia após dia, um peso invisível, indiferente para as outras pessoas. O ar me falta muitas vezes e crises de pânico se instalam e tomam conta por algumas horas excruciantes.
De todos os dias que posso me lembrar, esses fazem parte do rol dos piores: angustiantes, solitários e sombrios. Minhas lágrimas esvaíram-se pela demanda. Estou vazia. É como apenas levar, dia após dia, um peso invisível, indiferente para as outras pessoas. O ar me falta muitas vezes e crises de pânico se instalam e tomam conta por algumas horas excruciantes.
É uma pequena história... Que se faz, agora, em uma tentativa de arranjo de palavras.
Tenho uma diminuição no espaço discal entre L5 e S1 (degenaração discal) que se arrasta desde 2011 (assim que cheguei a São Luís para o curso de Física). Na época, fiz fisioterapia, RPG - Reeducação Postural Global - e tive uma melhora considerável. O custo foi elevado, afinal, estava mergulhada em uma segunda vida de universitária tardiamente. Passei os dois anos seguintes mais ou menos, com algumas crises que não duravam mais do que dois ou três dias (com gelo ajudando a aliviar um pouco o desconforto).
Como já relatei aqui, nas postagens de 2012, o meio deste ano foi de grande tristeza, perda de semestre e descrença. Tive o primeiro contato com o desespero, a incapacidade e a autoflagelação. As dificuldades que vinha enfrentando tanto no lado pessoal como no universitário, finalizando com um grave problema familiar, resultaram em uma inexplicável falta de ar que arrastou-se por dois meses. Estive por vários dias acamada, impossibilitada de qualquer atividade física e mergulhada em uma profunda apatia. Procurei ajuda médica. O primeiro, um pneumologista, pediu um exame para detectar asma (pois sou asmática). Lembro que ao chegar no local para o mesmo, fui muito maltratada pelo realizador. Já estava bastante frágil nessa altura e fiquei ainda mais triste. Quando o resultado saiu, o pneumologista disse que eu não tinha nada. Ele apenas falou que aquilo poderia ser uma "ansiedade" e ratificou o diagnóstico. Depois estendeu as mãos e se despediu (foi a partir daí que fui perdendo ainda mais a crença na medicina que é oferecida à maioria da população, com consultas a preços exorbitantes e que não há a preocupação em passar exames diversos, ou mesmo verificar o histórico de tristeza e problemas pessoais para, assim, ajudar no diagnóstico de queixas que, a primeira vista, não parecem ter sentido físico.).
Nesta época eu morava eu um pensionato numa parte muito perigosa do centro da cidade, que poderia muito bem ser comparada com o submundo de uma Londres Vitoriana em pleno século XXI - com todos os tipos de crime, pessoas e cenas grotescas que se possa imaginar.
Meu mundo estava completamente fragmentado e eu pensava somente em tristeza e dor. Dois amigos me ajudaram nessa fase. E, talvez, se não fosse por eles, poderia ter definhado naquele lugar, esquecida e desacreditada, pois, como constato hoje, raramente os outros se importam com a dor e o desespero do próximo. É quase um consenso de muitos (incluindo professores) que estes infortúnios são uma mentira, ou uma desculpa para não estudar. É a máxima do mudo instantâneo: você só vale quando está saudável e alegre.
De onde esperei ajuda, esta não veio. E descobri na pele, da pior forma, o clichê mais verdadeiro desta terra: amigos e amores estarão do seu lado quando mais precisar, seja qual for o momento. Assim, mais tarde, foi-me revelado que perdoar é um ato muito complicado e que necessita de muita reflexão. Sou apenas um ser humano que tem todo direito de guardar mágoas (geralmente, por incrível que pareça, até este direito é tido por alguns como algo tão execrável que você passa de vítima a algoz.).
Até esta parte da história, eu já carregava comigo inúmeras decepções com o curso de Física e com pessoas que eu conheci e comecei a gostar. Muitas partiram meu coração, falaram mentiras, ou simplesmente [englobando o mundo machista], por algum motivo, suas vidas se tornaram um tédio e, para escapar disso, momentaneamente, viram em mim o objeto de entretenimento - uma gueixa ávida por encontrar verdadeiros sentimentos, entretanto apenas uma gueixa. E como as estações são efêmeras, o inverno passou. E elas voltaram para sua rotina, usando justificativas fáceis para maquiar o verdadeiro cenário.
Eu estava cansada. Muito cansada. O grande sonho de ser uma cientista começava a se fragmentar e este se desfazia em mais pedaços a cada aula superficial de professores ruins, egocêntricos e iconoclastas, aliado ao fato de colegas que, fazendo jus a frase de Oscar Wilde "A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida." (Pen, Pencil and Poison - Pena, Pincel e Veneno), copiavam os piores exemplos de comportamento e sempre, mesmo falhando, diziam que tudo era muito fácil ou que sabiam o que, às vistas claras, era difícil e mal explicado - um verdadeiro show de gabolice.
Perdi o semestre e voltei para casa. Descobri que tinha gastrite e um probleminha que fazia com que eu tivesse uma alergia respiratória devido a um refluxo (sim, maus hábitos, comidinhas noturnas, estresse, má alimentação, tristeza, café e muitos outros fatores.). Em três meses consegui recuperar a saúde e um pouco de fé. Porém o fato de ter quase 10 anos a mais do que muitos que estão em Física e ainda perder o semestre contribuíram para uma tristeza praticamente inerente.
Assim... Final de 2012 e todo o ano de 2013. Alguns bons acontecimentos fizeram-se presentes. E, em um dia favorável do destino, em uma certa tarde, muito brilhante e ensolarada, eu vislumbrei e tive o que sempre quis. Um pequeno conto de fadas, uma lembrança excelente. E assim, ao cair da noite, tudo desfez-se. Sim, um presente merecido. Eu precisava voltar a acreditar que o mundo, mesmo feio e cruel para alguns, pode oferecer, mesmo que rapidamente, passagens marcantes e edificantes.
Passou-se um certo tempo.... E cá estou em 2014. Mudei de endereço, contudo morando em pensionato ainda. Uma vida muito difícil, onde preciso me anular, baixar a cabeça, chorar quieta. E, claro, encarar a solidão como uma verdade universal. É como estar de mãos e pés atados. Meu cotidiano não é mais do que uma atuação, um palco. Geralmente as pessoas ao redor estão quase sempre chateadas por qualquer fato, ou estão aborrecidas por dinheiro, isso e aquilo outro, reclamando aos montes, fazendo seu direito em cima do meu de também estar triste. Sinto-me obrigada a sorrir e dizer que está tudo bem, afinal, pelas leis naturais, a vida impõe quem deve gritar mais alto para ser ouvido. E, assim, quando volto para a casa provisória, no cubículo que chamo de quarto, posso ver a prisão que me cerca: além do frio desses dias chuvosos, ronda-me a atmosfera fortalecida de muita dor e falta de esperança. O medo é uma presença constante e fiel.
E aqueles dias de dois anos atrás parecem ter deixado resquícios que hoje brotam. As dores lombares voltaram muito fortes. Fui ao médico e o problema se agravou. Descobri que, além da degeneração, tenho osteófitos [os famigerados bicos de papagaio]. Há quatro meses minha vida se arrasta com correntes que fazem um barulho audível só para mim. Tento, ao máximo, amenizar a situação para os outros. Pois sei, com a experiência já adquirida, que serão apenas palavras que não farão diferença alguma na vida dos mesmos. É mais um semestre que será perdido. Somente sinto-me bem nas aulas de Latim.
Hoje faltei mais uma vez na faculdade. Acordei às três horas da manhã com dor. Antigamente considerava dormir uma forma de expurgar a melancolia do dia que passou. Todavia o sono está sendo interrompido. Então, nem isso tenho mais. Minha garganta está seca e causa-se uma agonia misturada com letargia. Tenho medo da volta da falta de ar. Estou esperando que ela se cure... Pelo menos para ter um mal a menos.
(Chove muito... Não recordo de dias tão frios e cinzas... Um clima atípico e estranho: úmido e taciturno.)
Estou fazendo outro tipo de fisioterapia. E não estou sentindo melhoras. Meu castelo desmorona, pedra por pedra.
Tudo que eu queria, agora, era um tempo, um lugar para voltar e me curar das dores do corpo e da alma. Um pouco de aconchego, carinho. Nada de olhares de piedade, pena e bem distantes da ajuda que vem cheia de cobranças e da carga que mostra que eu sou um fardo. Queria estar longe da indiferença. Gostaria de sorrisos, de paz, de estar bem. Desejo o que nunca tive, uma outra vida, um recomeço.
Tive que tomar uma difícil decisão. Alguns sentimentos são tão inexplicáveis ante aos fatos que fazem deles um acesso de loucura e pouco amor próprio que livrar-se dos mesmos é uma tarefa árdua, solitária e martirizada. Hoje percebo o mal que faço a mim mesma insistindo em mudanças que nunca virão, em respeito que nunca se fará presente e na reciprocidade que habita apenas o fantasioso.
Vivo minha agonia e meu pesar. Lembranças de épocas ruins vão e voltam em solavancos. Espero, apenas, daqui algum tempo, contar que algumas feridas cicatrizaram. Enquanto isso, resta-me apenas esperar mais um dia dissipar-se. O tempo, então, é o único que me sobrou por inteiro.
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