terça-feira, 22 de abril de 2014

Notícias do front... Hurts

É uma época bem estranha, talvez muito mais triste do que as outras. Até aqui  uma sucessão de acontecimentos ingratos tem assolado a minha vida. Minha cabeça dói e a sensação de morbidade inebria todo este lugar. É o grande inverno da alma.

[Não me veio nenhuma trilha sonora, não desejaria clichês e nem lugares comuns. Ah, esse comum, o irmão siamês da superficialidade de hoje, da falta de palavras para classificação, do refinamento tão vagabundo quanto o mais vagabundo dos materiais existentes... Sim, lembrei, Ceremony do Joy Division e cantado pelo New Order... This is why events unnerve me, they find it all a different story...]

Bebi chá, bebi achocolatado, todos desceram sem gosto, sem vida. A casa e suas grades, seus problemas vulgares, fria, escura, tão triste como contos de orfanato.

Aflige-me a dor, não a psicológica, companheira inseparável das lembranças que surgem vez e também outra e que espalham um rastro vermelho no cubículo que intitulam de quarto, estou com a dor física dos velhos problemas de saúde que resolveram fazer uma visita.

É estranho até escrever sobre, pois escrever é uma arte tão nobre e agora tão esquecida que penso que deveria ser um ritual, uma purificação, mas neste momento custa-me pensar sobre como organizar as palavras.

O começo de ano veio com as típicas enfermidades de veraneio, mas que amedrontam muito os que moram sozinhos: infecções intestinais recorrentes, talvez, pelas comidas suspeitas e pelos desgostos que aparecem.

Gastei dinheiro que não deveria, investi em viagens que me trouxeram muitos dissabores e alguns dias de cama. Cheguei a conclusões que não queria. E, finalmente, voltei a sentir dores nas costas a ponto de procurar o médico novamente e constatar que minha coluna está muito comprometida.

Passei muito tempo deitada, remoendo muitas lembranças ruins e escolhas ruins. Estando sozinha, fico sem opção alguma e até o céu noturno, muitas vezes, me é negado, pois as grades da prisão intitulada de "casa provisória" não deixam espaço para observação.

Era só o grande sonho de trabalhar com aquilo que eu sempre quis. Mas tornou-se um grande e enorme pesadelo, sem volta, sem chances de recomeçar. Não posso recuar e não posso avançar. É um fígado comido pelo abutre das circunstâncias e que renasce apenas para ser devorado novamente.

Muitas vezes minha tristeza é alvo de escárnio. Sinto-me refém no próprio mundo que eu quis. Tornou-se feio, sujo e cheio de dor, com falsidade, ambições, pessoas erradas, de conversas erradas, de pensamentos tortos: o peixe em um aquário cheio de lodo. 

Compreender as pessoas ao redor está além das minhas possibilidades no momento e muito mais improvável está minha empatia pelas mesmas. Sinto falta de uma compreensão em larga escala. Sinto falta de alguém que diga: "independente do que acontecer, do que resultar, vamos te apoiar e estaremos do seu lado."

Fase, trajetória, estigma, tantas denominações... Dos fatos cômicos e trágicos desta vida a que, por vezes, me assombra é a paixão. Queria ter o dom de transformar um grande erro de quatro anos em uma história no nível de Woody Allen, um roteiro para a arte, espalhado pelo mundo em forma de recuperação e cicatrização [não só esta história, mas todas as posteriores que ficaram muito longe de um final feliz]. Foram muitas feridas, muitas palavras duras e pontiagudas professadas em nome da clareza. No nível psicológico, ataques gratuitos por erros ou por desconhecimentos naturais cabíveis a qualquer ser humano; nível físico, também em palavras: o objeto, eu, que precisa manter a mesma forma, sem alma e coração, que ousou ter um acréscimo e teve que escutar pedras em forma de reprovações.

Claro, depois do choque e do afastamento da fonte de angústia e mágoas foi quase instintivo tentar achar diferentes modos de agir em diferentes pessoas. Nem sempre aqueles que parecem, no começo, gentis, amáveis, conservam por muito tempo essas características se isso tudo for só um embuste. Poderia agradecer ao fato de mudanças repentinas de comportamento, uma salvação da superficialidade dos dias de hoje, mascarada por gostos finos, subcultura pop, etc, etc. Uma vez foi-me permitido constatar que as melhores lembranças, mesmo as de um dia apenas, não necessitaram de lugares caros, passeios de carros... Bastaram apenas boa vontade, ônibus e uma pessoa disposta a tornar o dia leve, bonito e sem pressões.

Dizem que nada dura para sempre, nem mesmo a tristeza, porém, se houvesse permissão, desejaria que fosse o tempo de mudanças, onde finalmente há a permuta das estações.


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