Como sacerdotes da antiga Grécia em ruínas, os semeadores ainda espalham os grãos quase extintos. Todavia os frutos apodrecerão em uma estrada com muitos caminhantes. Se esse cenário se mantiver, em breve, lacunas que não poderão ser mais preenchidas serão uma realidade intransponível e as bases fortes e essenciais, consideradas antiquadas, logo serão derrubadas e substituídas. E será o fim daqueles que embelezaram o mundo apenas com a imaginação. E a dureza dos homens não poderá ser mais abrandada."
Colin Firth e Scarlett Johansson em Moça com Brinco de Pérola (2003) |
Em Os Contos Proibidos do Marquês de Sade (Quills
Kate Winslet em Contos Proibidos do Marquês de Sade (2000) |
Nos dois exemplos há a quebra do muro do status social - o poder da compreensão é independente de saber ler ou não, de ser rico ou pobre. É como um instinto, mas somente inerente ao ser humano que nasce com ele.
E na compreensão das artes e da poesia reside, de forma cromossômica, a essência da humanidade - os sentimentos. Não os de origem vil e sim os que emocionam, despertam o amor, a compaixão e fazem rir. Esta percepção tira-nos da escuridão de bases mais selvagens e primitivas - os de posse, os territorialistas, os de sobrevivência a qualquer custo e do possuidor e do possuído. É uma janela aberta que é capaz de manter nossa alma limpa, mesmo com todas as sujeiras ao redor.
Agora vivemos, depois de épocas de frenesi cultural, um verdadeiro estupor, onde prevalece a insensibilidade. Não existe entendimento total das artes e poesia, muito menos da literatura mais trabalhada, ou das músicas mais esplendorosas.
Se estamos em época assim, como haverá o despertar da compreensão naqueles que nasceram e nascerão com essa percepção? Todos precisamos de estímulos e situações para descobrirmos o que nos fazem seres humanos, assim como Griet tinha as pinturas de Vermeer e Madeleine tinha as obras do Marquês. A pergunta que fica é: o que essa geração e a geração vindoura terão? Os novos alicerces são castelos de cartas e as referências diluídas. Sabe-se tudo sobre tecnologia, porém quase nada sobre a escrita. Sabe-se muito sobre a vida dos outros e muito menos como os de perto sentem-se. Sim, os corações transformaram-se em silício, silicone, plasma e LED. Não há tempo e nem vocação para doçura - a praticidade não deixa e o novo não importa-se com o velho.
Porém, enquanto houver uma fagulha da chama que mantém viva as artes e a poesia, bem como sua compreensão, sempre existirá esperança - uma das poucas dádivas que restou nessa caixa de Pandora em que vivemos.
E mesmo encoberto e, por muitas vezes, imaginário, ainda é um mundo maravilhoso, esperando apenas ser descoberto e sentido.
"Amai para entendê-las..." Bilac diria.
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Palavras e frases latinas:
*Ferri durities temperatur igne, hominum poese et artibus - a dureza do ferro é abrandada pelo fogo, a do homem pela poesia e pelas artes.
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Fragmento extraído da parte XIII [Ora (direis) ouvir estrelas!] do poema Via-Láctea de Olavo Bilac, declamado por Juca de Oliveira, ator e dramaturgo brasileiro.
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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!