quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Da intrínseca relação entre Raskólnikov e Patrick Bateman - por que não um pouco deles em cada um de nós?

Caros (as) leitores (as), o texto contém revelações do enredo dos livros mencionados. 

Eles são personagens distintos de épocas diferentes - Raskólnikov, extremamente pobre, belo, inteligente, à beira da insanidade, com surtos de febres, suor e pesadelos na Rússia dos czares; Patrick Bateman, extremamente rico, belo, inteligente, talvez esquizofrênico, protegido e entediado nos Estados Unidos dos tubarões de Wall Street. Em comum? Muito mais do que os anos que separam seus autores e livros - Dostoiévski com Crime & Castigo de 1866 e Bret Easton Ellis com Psicopata Americano de 1991.

Ambos são assassinos, discrepantes nas ideologias motrizes e métodos - Bateman torna-se uma serial killer por não suportar a existência de alguém que tenha mais do que ele [posteriormente, outras mortes acontecem não por esse fator]. Raskólnikov, por sua vez, mata apenas duas vezes [uma não estava nos planos] em nome de uma ideologia que prega a existência de pessoas extraordinárias que estão acima da lei, do bem e do mal.


Ambos consideram-se superiores. Só que Bateman é egoísta e convive melhor com os crimes até o desespero no final - onde não há mais como esconder. Raskonilkov é bondoso, mas vira refém dos próprios atos, não por receio dos castigos humanos ou divinos, e sim porque sua consciência ainda está lá, mostrando os limites que uma pessoa extraordinária deve respeitar.

Os medos e sentimentos [excluindo 'as vias de fato' em si] desses dois personagens é, sem hipocrisia e falso moralismo, a essência principal de uma ideologia mais branda e benigna de pessoas que olham a vida através da lente da existência superior, desprezando as mesquinharias, a ignorância e, drasticamente, tudo em volta.

Em maior ou meno grau, cada um de nós já sofreu, ou sofre, com as mesmas angústias dos personagens - uma parte de Raskólnikov que acredita que o mundo seria melhor sem os seres ordinários e o restante de Bateman que está são e salvo por causa de uma imaginação fértil.

Figura 1 - Christian Bale [Patrick Bateman] em O Psicopata Americano (American Psyco)//EUA/Canadá/2000.
Figura 2 - John Simm [Raskonilkov] em Crime & Castigo (Crime and Punishment)/BBC/2002.

7 comentários:

  1. Um dos melhores posts que li nos últimos tempos em blogs!

    Perfeito esse parágrafo: Os medos e sentimentos [excluindo 'as vias de fato' em si] desses dois personagens é, sem hipocrisia e falso moralismo, a essência principal de uma ideologia mais branda e benigna de pessoas que olham a vida através da lente da existência superior, desprezando as mesquinharias, a ignorância e, drasticamente, tudo em volta.

    Bom demais!

    Beijoss

    Jim Carbonera

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  2. Olá, T.s..
    Ainda não assisti Psicopata Americano e também não li ainda Crime & Castigo (do Dostoievsky li só Os Irmãos Karamazov e achei muito chato).
    Acho que todos nós temos pensamentos insanos e raivosos vez por outra, mas para a nossa sorte conseguimos controlá-los; acho que isso faz parte do fardo de se ser humano.
    Abraço.

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  3. Ticy-Miga!
    Tudo bem?
    Nunca li 'Crime e Castigo', mas assisti ao filme. Do ponto de vista de comparação, portanto, não tenho como comentar.
    O que posso dizer é que existem coisas intrínsecas no ser humano, e que parecem que estão hibernando dentro de nós, dispostas em situações 'clic' de serem despertadas. Cabe-nos o controle ou não disso.
    No dia 28, vou postar um aviso por lá, tá bom?
    Beijos e ótimos dias!

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  4. Ticy, tudo bom?

    Sabe quem ficou muito, mas muito impressionado com Raskolnikov? Ninguém menos do que Sigmund Freud, que adorou "Crime e Castigo". De fato, Raskolnikov representava bem as teorias de dr.Freud - o Id, Ego e superego. O primeiro dizia "mate"; o segundo, "analise"; o terceiro, "arrependa-se". Essa obra de Dostoiévski (especialista em investigar as razões mais profundas do comportamento dos homens - leia "Notas do subsolo", se puder) traz o inusitado: um assassino e uma prostituta são os "heróis". Faz muito tempo que eu li "Crime e Castigo" e é uma obra impressionante, justamente por tratar da nossa pobre e rica ( sim, essa contradição que todos temos) condição humana.

    Já "O Psicopata americano" eu nunca li. E nem assisti ao filme. È uma boa indicação :)

    Ah! Na postagem anterior de Mr.MacManus não consegui comentar - não é o blog ou blogger, é o meu computador todo detonado e com problema na memória e processador - eu gostei das indicações. Nunca prestei tanta atenção ao trabalho do Elvis Costello, assim foi uma boa dica para conhecer um pouco mais. :)

    Beijos pra você e obrigado!

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  5. Ticy-Miga tão querida!
    Voltei para te dizer que não estou acabando com o Humoremconto, apenas abrindo uma temporada em off, tão necessária..., nem imagina como... Mas é apenas isso. Para voltar com mais motivação e ideias, tá bom?
    Seguiremos conversando, claro!
    Grande beijo e te cuida, gosto muito, muito de ti!

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  6. Oi Ticy,

    Tudo bem? Consigo plenamente verificar nossas falhas, excessos e certezas nos personagens.O que eles representam? A vida ou apenas a inercia de mudança frente ao que está posto.

    Bom domingo e beijos.

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  7. Olá.
    Postagem divulgada no portal Teia.
    Até mais

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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!