Caros (as) leitores (as), o texto contém revelações do enredo dos livros mencionados.
Eles são personagens distintos de épocas diferentes - Raskólnikov, extremamente pobre, belo, inteligente, à beira da insanidade, com surtos de febres, suor e pesadelos na Rússia dos czares; Patrick Bateman, extremamente rico, belo, inteligente, talvez esquizofrênico, protegido e entediado nos Estados Unidos dos tubarões de Wall Street. Em comum? Muito mais do que os anos que separam seus autores e livros - Dostoiévski com Crime & Castigo de 1866 e Bret Easton Ellis com Psicopata Americano de 1991.
Ambos são assassinos, discrepantes nas ideologias motrizes e métodos - Bateman torna-se uma serial killer por não suportar a existência de alguém que tenha mais do que ele [posteriormente, outras mortes acontecem não por esse fator]. Raskólnikov, por sua vez, mata apenas duas vezes [uma não estava nos planos] em nome de uma ideologia que prega a existência de pessoas extraordinárias que estão acima da lei, do bem e do mal.
Ambos consideram-se superiores. Só que Bateman é egoísta e convive melhor com os crimes até o desespero no final - onde não há mais como esconder. Raskonilkov é bondoso, mas vira refém dos próprios atos, não por receio dos castigos humanos ou divinos, e sim porque sua consciência ainda está lá, mostrando os limites que uma pessoa extraordinária deve respeitar.
Os medos e sentimentos [excluindo 'as vias de fato' em si] desses dois personagens é, sem hipocrisia e falso moralismo, a essência principal de uma ideologia mais branda e benigna de pessoas que olham a vida através da lente da existência superior, desprezando as mesquinharias, a ignorância e, drasticamente, tudo em volta.
Em maior ou meno grau, cada um de nós já sofreu, ou sofre, com as mesmas angústias dos personagens - uma parte de Raskólnikov que acredita que o mundo seria melhor sem os seres ordinários e o restante de Bateman que está são e salvo por causa de uma imaginação fértil.
Figura 1 - Christian Bale [Patrick Bateman] em O Psicopata Americano (American Psyco)//EUA/Canadá/2000.
Figura 2 - John Simm [Raskonilkov] em Crime & Castigo (Crime and Punishment)/BBC/2002.
Um dos melhores posts que li nos últimos tempos em blogs!
ResponderExcluirPerfeito esse parágrafo: Os medos e sentimentos [excluindo 'as vias de fato' em si] desses dois personagens é, sem hipocrisia e falso moralismo, a essência principal de uma ideologia mais branda e benigna de pessoas que olham a vida através da lente da existência superior, desprezando as mesquinharias, a ignorância e, drasticamente, tudo em volta.
Bom demais!
Beijoss
Jim Carbonera
Olá, T.s..
ResponderExcluirAinda não assisti Psicopata Americano e também não li ainda Crime & Castigo (do Dostoievsky li só Os Irmãos Karamazov e achei muito chato).
Acho que todos nós temos pensamentos insanos e raivosos vez por outra, mas para a nossa sorte conseguimos controlá-los; acho que isso faz parte do fardo de se ser humano.
Abraço.
Ticy-Miga!
ResponderExcluirTudo bem?
Nunca li 'Crime e Castigo', mas assisti ao filme. Do ponto de vista de comparação, portanto, não tenho como comentar.
O que posso dizer é que existem coisas intrínsecas no ser humano, e que parecem que estão hibernando dentro de nós, dispostas em situações 'clic' de serem despertadas. Cabe-nos o controle ou não disso.
No dia 28, vou postar um aviso por lá, tá bom?
Beijos e ótimos dias!
Ticy, tudo bom?
ResponderExcluirSabe quem ficou muito, mas muito impressionado com Raskolnikov? Ninguém menos do que Sigmund Freud, que adorou "Crime e Castigo". De fato, Raskolnikov representava bem as teorias de dr.Freud - o Id, Ego e superego. O primeiro dizia "mate"; o segundo, "analise"; o terceiro, "arrependa-se". Essa obra de Dostoiévski (especialista em investigar as razões mais profundas do comportamento dos homens - leia "Notas do subsolo", se puder) traz o inusitado: um assassino e uma prostituta são os "heróis". Faz muito tempo que eu li "Crime e Castigo" e é uma obra impressionante, justamente por tratar da nossa pobre e rica ( sim, essa contradição que todos temos) condição humana.
Já "O Psicopata americano" eu nunca li. E nem assisti ao filme. È uma boa indicação :)
Ah! Na postagem anterior de Mr.MacManus não consegui comentar - não é o blog ou blogger, é o meu computador todo detonado e com problema na memória e processador - eu gostei das indicações. Nunca prestei tanta atenção ao trabalho do Elvis Costello, assim foi uma boa dica para conhecer um pouco mais. :)
Beijos pra você e obrigado!
Ticy-Miga tão querida!
ResponderExcluirVoltei para te dizer que não estou acabando com o Humoremconto, apenas abrindo uma temporada em off, tão necessária..., nem imagina como... Mas é apenas isso. Para voltar com mais motivação e ideias, tá bom?
Seguiremos conversando, claro!
Grande beijo e te cuida, gosto muito, muito de ti!
Oi Ticy,
ResponderExcluirTudo bem? Consigo plenamente verificar nossas falhas, excessos e certezas nos personagens.O que eles representam? A vida ou apenas a inercia de mudança frente ao que está posto.
Bom domingo e beijos.
Olá.
ResponderExcluirPostagem divulgada no portal Teia.
Até mais