quinta-feira, 15 de março de 2018

Partidas & Reflexões - Uma carta de despedida para Ciência

Encerra-se aqui meu ciclo com o curso de Física. Faltam-me apenas as formalidades com a papelada do desligamento voluntário.

Bem, no começo desse blog, eu falava da minha paixão por Astronomia. Compartilhei minha alegria em passar para o curso de Física e também todos os dissabores que vieram depois e como a estrada foi penosa. É o famoso nadar e nadar e morrer na praia.

Entretanto a história é mais profunda e, talvez, sirva de alerta para quem pretende entrar neste universo ingrato e miserável de estudar Ciência no Brasil, pois ela não é feita só de pensamentos, teorias e experimentos, muito menos de ilusões com o Firmamento e as Abóbadas Estelares. É essencialmente composta por pessoas odiosas de todos os tipos, professores e professoras asquerosos (as), machistas, hipócritas e egocêntricos (as) e colegas de classe do mesmo feitio, mas em versão beta.

Estudar Física é uma boa alusão para a expressão cavar o próprio túmulo - ou você foge do algoz ou aceita a morte de todas as suas conquistas. Acredite, diante deles, esses monstros rotundos e infelizes, você é apenas um daqueles fardos que fica pedindo explicações e exercícios.

A Física não precisa de questionadores e exigências, precisa de máquinas submissas, de preferência, muito petizes, que não atormentem suplicando o modo de fazer e o desvendar do mistério - quem ousa entrar nesse lugar precisa, minimamente, sair de casa sabendo toda a Mecânica Clássica. E não tente aprendê-la na faculdade, finja que aprendeu ou terá sua cabeça guilhotinada logo mais.

E foi assim que aconteceu comigo.

Eis toda a história...

Os alunos de todos os cursos que passaram dos quatro anos tiveram suas matrículas canceladas pela minha agora ex-Instituição. Houve um tremendo pandemônio por causa disso devido a uma série de irregularidades e questionamentos e a Universidade, uma covarde, como qualquer órgão público brasileiro, jogou nas mãos do Colegiado de cada Departamento o destino dos alunos. Ao saber disso, muitos desistiram tão logo, pois é de conhecimento geral a forma como os professores de Física tratam seus discentes mais comuns.

Eu já pensava em sair e até expliquei isso em outros textos. Mas nunca acredita-se que a tempestade realmente virá.

Entreguei o meu processo para tentar cursar mais um período e dar uma nova chance a mim mesma, caso não aparecesse outro curso ou um trabalho (que já venho procurando). A Instituição deu a todos, de qualquer ano, o prazo de 2 anos para conclusão, mediante plano de estudos e aval dos professores do tão famigerado COLEGIADO.

Da Física, que mistura erroneamente Licenciatura e Bacharelado, 49 alunos tiveram suas matrículas canceladas, num total de 150 alunos. Isso mesmo, eu não digitei errado: no curso de Física, juntando Licenciatura e Bacharelado (meu caso), havia um total de 150 alunos ativos e de todos os anos que você possa presumir. Se você se perguntar o porquê do MEC já não ter fechado esse pequeno clã... Eu também faço-me o mesmo questionamento.

Desses 49, 12 apresentaram seus argumentos em forma de processo ao colegiado e 4 tiveram os seus, entre eles o meu, indeferidos.

Tudo bem... Você, leitor (a), deve pensar que  "Ela foi indeferida porque é de 2011 e todos os outros são mais antigos..."  Ah, não mesmo!

Desses 8 deferidos, três são de 2008. Imagine, a diferença de 2008 para 2011 são de 3 anos, praticamente um curso de qualquer área. Se um aluno de 2008, por menos cadeiras que ele possa ter, tem condições de voltar, já que ele estourou o tempo de conclusão em 6 anos, por que uma pessoa de 2011, ativa, que estourou o tempo de formar-se em 3 anos, não pode? Porque, repito, 4 semestres foram dados a todos.

Pois não é que verdades sobre esse mundo obscuro que cercava-me vieram à tona?

A notícia foi dada-me pelo coordenador do curso. Coloco aqui o que ele escreveu, na íntegra (recortes originais da conversa):


Esses mostressores, principalmente os que eu soube que tomaram conta do meu processo, não conhecem-me, praticamente. Se um ou dois deram aulas para mim, digo que foi muito. Neste caso... Como podem tomar uma decisão séria dessas? Baseados em quais fatos? Em históricos e números prejudicados por problemas de ordens diversas? Problemas esses que foram bem documentados e entregues.

Todavia nada supera a seguinte sentença:

QUE EU NÃO TERIA CONDIÇÕES DE VOLTAR COM TANTAS DISCIPLINAS DIFÍCEIS.

E eu concluo: ALEM DO MEU SONHO TER VIRADO PESADELO, OS PROFESSORES DUVIDAM DA MINHA CAPACIDADE. ALGUNS SERES QUE NUNCA SEQUER DERAM AULA PARA MIM NESSES SEIS ANOS. E COM O AVAL DO RESTANTE, ACHARAM QUE EU NÃO MEREÇO ESTAR ALI.


Claro, eu posso entrar novamente, fiz ENEM, tenho nota para isso, posso conseguir até mesmo por porte de diploma superior. Mas como continuar num curso que tem esse tipo de gente como professor? Uma coisa é você especular, saber por suposições... Outra bem diferente é alguém de dentro falar, melhor, escrever o que os professores acham de sua pessoa. Por que continuar a estudar com seres que pensam isso sobre seus alunos?

E eis a prova final de que eu não sou apenas alguém com o orgulho ferido - eu fui INJUSTIÇADA:

Olharam bem essa parte grifada? Então, é essa gente que não está nem aí para mim que formam os futuros da Ciência no meu estado. São essas pessoas que escolhem quem deve ficar e quem deve sair, como imperadores bufantes e maquiavélicos que fazem o famoso sinal para acabar com o gladiador na arena.

É uma melancólica história de um sonho bonito. Só que a vida é feita desses infortúnios, a minha até bem mais. É o que estava destinado e o que, de fato, aconteceu.

Meu balanço do curso de Física foi o pior. Dele eu não levo ninguém, não fiz amigos de verdade. Poderia dizer que é a diferença de idade... Eu sou bem mais velha que a maioria... Entretanto há muita falsidade e gente esperta, que fica em cima do muro o tempo todo, esperando uma boa oportunidade para se sobressair. Muita gente jovem extremamente astuta, que usa de todas as formas para passar e se formar. Muitas pessoas que diziam-se minhas amigas... E que depois descobri o mar de mentiras e deslealdade em que elas estavam metidas. Outras que vão e voltam... E eu, muitas vezes, sou ignorada. Não, não... Pensando bem, dessa forma não havia como continuar.

Sim, eu fui muito inocente, pois sou uma entusiasta de carteirinha. Cheguei com expectativas altas, achando que tinha encontrado o meu lugar e que todos falariam de Carl Sagan, nebulosas, filosofia de vida... Percebi que o curso de Contabilidade, ao menos, deixou-me com alguns amigos que sentem saudades de mim e dizem isso. De onde eu não queria é que eu construí algo, mesmo que pequeno.

Apesar do tempo que todos disseram que eu perdi... Penso...

É melhor a iconoclastia do que a adoração a falsos ídolos.

É melhor desvencilhar-me de uma relação falida e abusiva como essa.

Adeus, Física! Adeus, Ciência! 
Talvez em outra vida, eu consiga achar a sua real essência...

Deus, que eu não demore muito para reerguer meus olhos para as Constelações e a Astronomia.

E a minha vida segue!

2 comentários:

  1. Ticy, conseguiu da sua vivência narrar partes do meu pedido de socorro.
    E até digo isso: com essa dolorosa passagem, poderá auxiliar a muitos.
    Obrigada por existir.

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    1. Olá, querida Ana Paula! Esse curso de Física tornou-se um verdadeiro pesadelo ao longo do tempo. As vezes gostaria de ter ido direto para a História. Mas precisava passar por isso para não ficar pensando como seria. Não deveria ter sido tão sofrido e tão triste, mas já aconteceu. Sigo agora em frente, igual a você! Obrigada pelas palavras!!

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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!