Alguns néscios conseguem pintá-la com um tinta dourada esfuziantemente artificial que de tão brilhante poderia muito bem cegar viajantes distantes. E, como em um grande mercado lamacento, depois vendem-se enebriados por esse ópio em uma rede peçonhenta cibernética.
Como uma estúpida mortal, eu também acreditei nesse bilhete áureo que tiraria-me do cotidiano solitário, cheio de pesar e mágoas, e colocaria-me esplendorosa nos Campos Elísios.
E... Hoje, como bem sei, esse foi o cavar de minha própria sepultura.
Devia, se fosse sábia o suficiente, ter aberto meus olhos para a minha própria realidade e escapado, a tempo, de afogar-me em pretensões mortais. Por que mantive essas figuras pavorosas, esculpidas na necessidade, ao meu redor? A resposta não me é clara e, talvez, nunca será.
Minhas dores aumentam a cada dia, físicas e da alma. E meus algozes convivem diariamente comigo. Sinto o gosto amargo da derrota e do fracasso: é o conta-gotas do veneno que mais tarde levará-me desse mundo.
Minha imagem é distorcida e incrédula e para os outros sou um quasímodo, uma dúvida, uma falha, alguém odioso, que questiona até mesmo o diabo.
Não escolho morrer, como seria o mais lógico para os desesperançosos, pois, infantilmente, ainda carrego pequenos fragmentos de esperança. Contudo tenho que conviver com os que interpretam-me mal, com os pensamentos rasos alheios, com seres jovens e espertos, reluzentes como uma pirita e que, para seus circos e de vez em quando, mandam bilhetes de reaparecimento: ou para pedir, fuçar ou mesmo exibir-se falsamente compaixosos, numa clara manifestação da imundície das suas essências.
Óh, Deus, se dessa vida não posso esperar nada de imaculadamente genuíno, ao menos, suplico-te, afasta dos meus olhos essa gente que, barbaramente, assassino e arranco o coração em pensamentos tentadores.
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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!