"Lá fora, o céu conta-nos diversas fábulas. Eis que Marte, em sua fúria vermelha, passeia com divindade pelas garras do Escorpião. Seu brilho cega e hipnotiza-me! Antares, o antagonista e rival, observa-o, com quietude, pois não há nada que possa fazer para tirar-lhe o fulgor. Nesta jornada, o véu da madrugada, tecido em finíssimos grãos de sono, traz a trilha de Saturno. E, a Oeste, já adormece Júpiter. E quando a Aurora chegar, em luz e resplendor, Vênus brindará os amantes que completaram mais um ciclo juntos."
Vez ou outra, pedaços de memórias e sensações voltam. E hoje, ao olhar toda a beleza do céu, lembrei-me da época do meu próprio e incauto desejo maior.
Ah, a vida era boa e as expectativas giravam como moinhos em plena atividade. E disso tudo sobraram-me apenas fragmentos.
A vida traça caminhos tortuosos. E esses podem ser espinhosos a ponto de destruir nossos pés. E arrastar-se não é tão louvável como nas belas e trágicas histórias.
O curso de Física levou boa parte das minhas esperanças e alegria. Culpa minha, sim. Nunca o desejei, mas remendos são feitos quando os ávidos precisam alcançar o sentido da vida. Errei e padeço... E, conclusivamente, nunca mais serei a mesma.
Nesta jornada de auto mutilação, muitas histórias bizarras são vividas e a beleza deste firmamento trouxe, neste momento, uma delas...
Assim que ingressei no curso, entrei em um programa de bolsa estudantil para pesquisa. Para minha alegria momentânea, ilusoriamente, tratava-se de Astronomia. E foi um martírio do começo ao fim.
Céu do Sudeste - Marte em Escorpião, seguido por Saturno 15 de maio de 2016 Software Stellarium |
Afinal, eu estava no curso de Física e disparates desse tipo não podiam ser reais. Mas eram e massivamente. E foi o começo da minha ruína.
Tipos como este colega citado e seus pensamentos estapafúrdios estão agora na pós-graduação e serão os futuros professores e pesquisadores desta casa em que estou hoje. Exaltam seus mestrados e doutorados, desfilando como pavões pelos corredores, impressionando uma parcela tão vazia quanto eles mesmos.
Sinto-me a peça de outro jogo. E nada faz sentido.
Todos os dias ouço histórias relacionadas a esse curso - gente a gabar-se, a falar mal das deficiências de aprendizado dos colegas, mentindo sobre notas e aumentando seus feitos, professores estúpidos e grosseiros, alunos que apoiam esses professores, religiosos fanáticos, notas sobre tentativas de suicídios, depressão, choros... E eu, do outro lado, pensando em milhares de outras possibilidades... Em como escrever, por exemplo, sobre Federico Garcia Lorca. Falta-me empatia.
Nesta balbúrdia, o que preocupa-me é a minha pobreza e a possibilidade de ser jogada na sarjeta. Ou seja, meu futuro profissional e como sustentar-me com dignidade.
Em meu egoísmo imenso, raiz intrínseca do meu ser, a liberdade vem em primeiro lugar. E todos estão tão presos a sua própria ignorância que julgo-os como a pior das inquisidoras. Eis meu pecado e confesso-o.
Estou deslocada neste cenário. Não ensaiei esta peça e nem pretendo decorar as falas. Rendo-me a mim mesma - prefiro ler vários livros e aprender mais sobre as historinhas de gregos.
Fontes:
Conhecendo as Constelações - UFMG - Observatório Astronômico Frei Rosário - por Ariana França Clávia
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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!