domingo, 8 de fevereiro de 2015

Queen of Pain... A volta da dor nas costas e outras histórias...

"Às vezes eu me sinto uma mola encolhida..."
(Lulu Santos - Toda Forma de Amor)


Foi um fim de ano muito bom, em casa, com a família, longe das mazelas da Capital, seus transportes públicos sucateados, comidas caras e difícil cotidiano em pensionatos com pessoas estranhas e acontecimentos bizarros. Sim, 2014 não foi tão bom - relacionamentos conflituosos, amizades que não deveriam ter sido estabelecidas, sentimentos que nunca deveriam ter existido, pessoas e seus tratamentos ruins e muita dor física (e também da alma).

Uma caminhada longa - médicos e médicos, consultas, exames, emergências, agulhadas, ressonâncias, gastrite, intolerância à lactose e uma cirurgia minimamente invasiva para tentar aliviar a minha dor crônica (rizotomia). Estava na luta diária, um pouco mais animada, e, de repente, em uma segunda-feira azul (ao melhor estilo New Order), surge a dor que anuncia que todos os esforços foram, até o momento, em vão - a dor lombar - em seu grau maior, irradiando para perna, com grande dificuldade de locomoção. 

Foi e é um grande pesadelo. Sim, eu chorei muito, não há como negar. É uma situação tão desgastante que somente quem tem esse problema pode imaginar a montanha que se ergue ao horizonte. Sentir-se só é apenas um dos muitos problemas, além da dor persistente que só passa no repouso completo. É um desamparo descomunal, um abismo, uma sensação de nudez ao vento frio. 

Difícil recomeço do zero, do embrião das possibilidades de manutenção da qualidade de vida, afinal, apesar da teimosia de Pandora, no devido tempo, ela guardou o sentimento que salvou e salva muitas almas da completa escuridão: a esperança. 

Mas da dor surgem alguns frutos não totalmente amargos. O meu tempo de repouso serviu-me para muitos pensamentos. Lembrei-me que há um ano e meio estou com Moby Dick Vol. 1 encalhado e isso tornou-se uma verdadeira saga. Das outras minúcias da meditação, também veio-me o fato de que poucos escutam-me, porém acham em mim uma ouvinte nata e despejam suas frustrações, receios, opiniões esdrúxulas e raivosas. Na feira das vaidades, muitas vezes, eu pensei em cappuccinos com creme e cereja ou um café com leite e pãozinho francês. 

A dor deixa um rastro de melancolia. Então escrever, minha parte favorita da vida, esteve abalada por conta da letargia comum aos acometidos por tais eventos. Porém cessou brevemente. E eis aqui o fruto desse intervalo. 

Sinto saudades do vento boreal, o dono do crepúsculo que anuncia a noite, a melhor hora; detentor dos meus pensamentos mais românticos, mais sonhadores e mais audaciosos. 

Se eu pudesse recuperar boa parte daquela esfuziante alegria juvenil, restauraria muitas paixões que adormeceram ou se quebraram. 

O amor, em sua totalidade, pela vida, pelos outros, pelas metas, não sei foi, escondeu-se. No lugar, entrou a dor... Essa mesma, angustiante, física, que, junto com a dor do coração, murchou todas as flores multicoloridas da estrada de tijolos amarelos. 

"Há um pontinho preto no sol hoje
É a mesma coisa antiga de ontem
Há um chapéu preto preso no topo de uma árvore alta
Há uma bandeira rasgada e o vento não vai parar
Eu já estive aqui antes, debaixo de uma chuva incessante
Com o mundo girando em círculos, rodando em volta do meu cérebro
Acho que estou sempre esperando que você dê um fim a este reinado
Mas é meu destino ser o Rei da Dor..." 

(The Police - King of Pain)




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