sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Ano novo... E mais histórias...

"Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre." 

(Carlos Drummond de Andrade; fragmento de Receita de Ano Novo, texto extraído do Jornal do Brasil/Dezembro/1997.)

Sim, mais um ano para o Café Quente & Sherlock, mais um ano para mim e mais um ano para você, caro (a) leitor (a). 

Comemos bastante, ganhamos uns quilinhos (eu mesma, nenhum!), fizemos promessas, daquelas como dietas de segunda-feira. Talvez não fosse o bastante querer um ano novo cheio de peripécias e aventuras, das boas, sim! Almejamos o divinamente difícil, a redenção, as desculpas, os amores inatingíveis, um belíssimo e magnífico dez em Mecânica Teórica (Ai, ai... Suspiro...). Porém, se não fossem essas metas hercúleas, a graça dos dias definharia em um poço de amargura.  

Para mim, muitas tarefas. Descobri a inimiga dos docinhos: intolerância à lactose. E não aguento mais tomar vitamina de banana com leite de soja. 

Minha coluna ainda dói, muito menos do que antes, mas continua irritadiça. Passaram-se rizotomia e fisioterapias; agora, mais exercícios e remédios dignos da Lúcia no céu com seus diamantes. Continuo na luta para vencer a dor crônica - lágrimas e esperança. 

Do ano que passou, levo pouco. Ao menos muito aprendizado sobre o pior do ser humano, suas vaidades e preconceitos. São tantos casos. Alguns merecem o degradê do esquecimento - sim, a cura homeopática - e outros recentes são, ainda, de difícil digestão. 

Lembro-me de um... Resquício das eleições. Uma pessoa considerada altamente inteligente em uma área, erroneamente, invade outra com a propriedade fajuta de quem acha-se discípulo encarnado e esculpido de Platão (por isso dignos de admiração são os polivalentes que, ao menos, sabem o valor da Língua Portuguesa e da educação.) - surge do nada, fala-me uns montes, em uma rede social, porque critiquei um conhecido pseudocolunista (de uma revistinha direitista de quinta). Eu estava errada, era uma trouxa, pela definição dele. O pseudoescritor deveria ser criticado pelo que ele achava correto - "Cresça, garota, e você vai entender!". E olha que nunca trocamos uma palavra antes do ocorrido. Temos a mais nova receita de um pobre iludido - mula empacada ao molho pomarola! 

Outra bem peculiar e recente aborda um recém-doutorado, graduado nas entranhas da universidade em que estudo. O bom moço regurgitou todo o desprezo existente pelos ingressantes em Física via ENEM - "No meu tempo era assim e assado; o curso tem baixo índice por causa dessas criaturas; tem que fazer mestrado e doutorado fora; essa universidade não presta; esses que se dizem inteligentes e tiram boas notas não sabem de nada; esses cursos dessa universidadezinha que possuem conceito A estão se enganando...". E mais uma centena de impropérios [com tanto conhecimento matemático e físico, será que sobrou espaço em uma mente tão valiosa para conhecer o significado da palavra impropério?].

Física é um curso estranho com muita gente ainda mais estranha: professores mortos-vivos e divinos, alunos que fazem de conta que sabem porque não podem aprender em sala de aula - perguntar o trivial é uma ofensa. Se Halliday ou o Carl Sagan ainda existissem, perguntaria se é necessário ter dons especiais para aprender Física, pois o que se passa nessa faculdade é uma feira das vaidades digna de Luís XIV - muitos querem ser o Sol, mas têm a personalidade de uma anã negra. 

E por fim...

Espero escrever mais. De todos os amores, esse é o que mais recompensa-me. Os outros espalharam-se em fragmentos miudinhos - pedaços de coração e tentativas. 

Que seja um belo ano - o despertar do adormecido!  


4 comentários:

  1. Querida Ticy, de 2014 traga as coisas boas ( sempre há) e aprendizados - principalmente este aprendizado sobre o ser humano e as relações. Eu também fiquei surpreso ( no pior sentido) com o que as eleições despertaram em pessoas que eu considerava inteligentes e bem informadas: uma carga de preconceitos imperdoáveis além de opiniões absolutamente irracionais que não condiziam até mesmo com o "grau de escolaridade" da pessoa. ( daí você se pergunta: de que vale a pessoa ter um doutorado ou mestrado se ela usa tais títulos apenas para "dar carteirada" e tentar humilhar as pessoas? Lembrei-me de alguns juízes que se acham deuses do Olimpo) Eu confesso que não fiquei com raiva destas pessoas, apenas com pena... e pensativo: no fundo, é um carente que busca atenção e reconhecimento. Quem quiser cair na pilha, terá tamanho desgosto e alimentará o ego e vaidade gigantesca do "dotô/mestre".

    E, sim, escreva mais. Muito mais! :-) O amor pela literatura, ah, esse é correspondido - ao contrário de tantas outras tentativas e rascunhos de "amores".

    Beijos!

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    1. Feliz 2015, querido Jaime! O fator eleições abriu-me um leque de conhecimento sobre egos mascarados - o pior do ser humano. Como esquecer "a volta da ditadura"? Enfim... Assunto passado. Espero que o Brasil encontre o caminho que a luta da classe trabalhadora tanto frisa. Bem, esses eventos são importantes porque enxugam muitas "sobras" - ou seja - pessoas inconvenientes, mal-educadas e com síndrome de polímata. Sim, espero escrever mais, ler ótimos livros, ver mais bons filmes, séries... Os doces e pequenos prazeres cotidianos... Os melhores! Beijos!

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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!