terça-feira, 2 de maio de 2017

In perpetuum mobile

O que se faz com um punhado de felicidade?
Uns docinhos merengues coloridos
com um gosto tão enjoativo
que dá uma certa azia.

E o que se faz com um bocado de tristeza?
Uma poção azul metálica bem venenosa
de amargar toda a boca
e morrer só de desgosto.

O nada nunca será suficiente
e muito menos o tudo.
É um acabar-se de exagero
de muitos que querem o mundo.

Eu rejeito a felicidade
como um gato preto
que sabe por instinto
da morte na encruzilhada.

Eu abraço a tristeza
como um peregrino
cego em sua fé
e vazio de confiança.

Um extremo, o oriente
E na outra ponta, o ocidente.
E nunca quero eu o centro
por teimar em não desvelar.

Mas não há como negar
que se um não agir
o outro não existirá.

No fim, meu coração dramático
é um poço de alquimia
que explode todo dia.

A felicidade tem fim
e a tristeza, bem...
Quem sabe.

T.S. Frank




2 comentários:

  1. "O nada nunca será suficiente
    e muito menos o tudo
    […]
    A felicidade tem fim
    e a tristeza, bem...
    Quem sabe."

    São os versos que mais gostei.
    Esse é um tema recorrente, que guia os movimentos do homem sobre a terra. Artistica, emocional, comercial, industrial e espiritualmente - além de outros planos que não recordo agora. Concorda?

    Conheci seu blog outro dia, pesquisando sobre sirens e mermaids. Seu conteúdo é muito interessante. Obrigada por compartilhá-lo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Yorudesu! Eu que agradeço, primeiramente, pelo elogio ao blog. Você tem toda a razão, tristeza e felicidade são os combustíveis dessa grande roda da vida, girando sem parar, cheia de altos e baixos, em movimento contínuo. A arte, em geral, nada mais é do que uma montagem dos relatos, em diversas linguagens, das imersões nesses dois mundos. Abraços e muita luz! =***

      Excluir

Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!