domingo, 2 de fevereiro de 2020

O crônico e mórbido desânimo

Às vezes penso que a vida é um desses infortúnios eternos, que repetem-se em ciclos de existências. Esse parece ser o meu caso.

Dias complicados estendem-se em mim, alcalinos e sem graça. E são tantos os motivos para que eles sejam desse modo. Entretanto não são novos. Trata-se de uma grande árvore de dissabores, já anciã, ganhando novas folhagens com os problemas de cada época e com as respectivas pessoas de cada uma.

É difícil quando alguém importante está doente. Principalmente se esse já passou por uma fase preocupante há muito tempo. Mas dessa vez o diagnóstico demora muito e teme-se por más notícias. Esse definhamento físico é uma parte avassaladora. Sem uma causa detectada, não se pode agir para a cura ou para o alívio, ou mesmo para preparar-se para o mais temeroso. É um limbo.

Acordei hoje pensando no exame que foi feito e que sairá na segunda. Como comportar-se com um resultado devastador? Ou mesmo para um que não diz absolutamente nada e coloca-nos de volta no mistério? E assim vão passando-se os dias imersos em uma profunda tristeza.

Não há ninguém para conversar. Não há ninguém desse momento com que eu queira fazer isso. Talvez as minhas esperanças de viver um pouco mais alegre estão se esgotando e não deveriam sequer ter existido.

Preocupa-me a minha situação financeira. Às vezes penso que nunca vou conseguir um bom emprego nessa cidade. Só há concursos. Só há exploração. Agrava meu estado saber que só serei alguém (no sentido literal mesmo) quando falar que possuo um emprego estável. Ainda há o fator idade. A cada aniversário, é como envelhecer 10 anos, olhando-me no espelho e vislumbrando um ser disforme, derretido, quase repugnante. Tenho medo da miséria. Por isso não consigo mais iludir-me com o melhor. Parte de mim morreu em um tempo imemorial.

Antigamente ficava a pensar nas pessoas que eu poderia conhecer. Isso, hoje, tornou-se um desvario. Todos que olho e converso transformam-se em uma peça que não se encaixa. Alguns irritam-me com assuntos desagradáveis. Também há os jeitos, as bobagens de vida, a pouca idade... Sou tomada por um emaranhado de sentimentos frios como o resto de café do fim da tarde. A solidão é ainda mais sórdida em seu intuito quando joga-me em uma multidão incompatível. Esse sim é um dos piores modos de vivê-la.

A negatividade impera quase o tempo todo. E penso que terei que buscar uma compreensão mais efetiva e profissional sobre esse crescimento de melancolia. Entre altos e baixos, digo, somam-se uns oito anos. De fato, esse blog nasceu desse começo de perda de fé. Por isso tenho que escrever; para registrar sonhos trincados e os desencantamentos com o mundo, com o meu próprio.

Meus problemas com o sono continuam. Durmo muito de dia, às vezes não saio da cama. E isso tem me causado dor na coluna e nos quadris. E acomete-me, pela madrugada, a falta dele associado a uma angústia feroz. Há uns 35 dias apresento vertigem ao mover a cabeça (que começou quando descobri que uma pessoa da antiga escola particular que eu estudava possuía doutorado e um ótimo emprego. E isso me mostrou como custou-me o curso de Física. Possivelmente também a minha vida inteira. Como fui infeliz, parece que nunca vou recuperar-me disso!).

Fui ao oftalmologista. Encomendei um novo óculos. Era um dia chuvoso. E só conseguia sentir tristeza ao ver o meu rosto com aquela armação.

O dia mais próximo do normal (e até um pouco alegre) deu-se quando fui assistir 1917. Uma certa liberdade, longe de casa, e com uma das poucas coisas que ainda gosto. Todavia é um prazer muito caro. E mesmo que eu saia para almoçar ou tomar um café, ultimamente, não consigo afastar-me desse amargor de viver o agora.

Antes pedia remédios para a dor. Hoje sei que nem eles podem ajudar-me.

O mundo real é um mar turvo, cheio de perigos e desgostos.



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