que do berço ao túmulo
Não é uma jornada assim tão longa.
A vida é um Cabaret, meu amigo.
É só um Cabaret, velho amigo.
E eu amo um Cabaret." (Cabaret ou Life is a Cabaret/1966 por John Kander e letra de Fred Ebb)
A vida política atual é um inferno sem precedentes. Não há esperança onde planta-se o ódio. E essas religiões (ou qualquer uma delas) caçadoras de bruxas ou supostas outras entidades malignas (pobres de nós, os de pele vermelha!) ditam as regras. A coletividade esvaiu-se com seus propósitos. E sobraram apenas sonhos gananciosos de enriquecer rapidamente, mostrando-se um verdadeiro desprezo pelo o que é verdadeiramente intelectual, livre e criativo.
E é a minha vida que continua um filme do David Lynch. Pensei em não mais escrever. Isso muito seriamente. Repensei. Esse aqui é um registro de longos anos de minha personalidade e vivência. E é isso que poderá ajudar a reconstruir um eu do futuro, ou simplesmente mostrar quem eu fui nessa existência. Não. Tenho que continuar. De alguma forma.
Todos aqui em casa estão doentes: fisicamente e mentalmente. Fato. Uma atmosfera em preto e branco, com uma suave capa de neve. Nossos agasalhos são panos velhos de uma luz débil e todos os sortilégios parecem cair entre nós. Sinto que as minhas mãos estão amarradas e que não há ninguém para conversar de um modo satisfatório e delicioso (como coalhadas e maçãs). E esse ponto merece umas linhas a mais.
Achar pessoas para conversar é uma tarefa simples. O problema é que elas são demasiadamente desinteressantes e causam um pavor reprimido. Tenho sorte por conseguir estudar História. Contudo há uma vasta gama de dissabores pelas beiradas. Não é fácil aguentar essa nova geração espantosamente tola, infantilizada, sem charme e muito menos sabor. Até mesmo os mais próximos ou são bobos ou uma mistura disso com umas boquinhas que fazem umas críticas sem propósito, voltadas somente para a minha estrutura óssea, digamos assim. Já tive que aguentar falatórios sobre as minhas olheiras, sobre o meu cabelo (porque sempre vai ter alguém que vai dizer que ele está arrepiado), sobre a minha aparência às vezes cansada e sem maquiagem (porque estudar dá trabalho, óh!) e mais alguns outros impropérios. Nesse curso dessa universidade pública em particular não há uma vida social ou artística que possa ser partilhada; não para ser degustada e provocar regozijo. Posso ensinar uma ou outra pessoa e mostrar-lhe algo relevante. E tudo terminará em um poço de insatisfação. O que me conforta é somente a História e minha caminhada independente. Necessito achar pessoas que possam permitir-me sentir o prazer só de vê-las (e não ao contrário), por exemplo.
Sinto saudades do frisson, dos delicados rostos juvenis capciosos, dos olhares brejeiros e sedutores, da beleza da forma física como notas harmoniosas de uma sinfonia.
Ao meu redor só há um bléh.
Sigo em frente nesse mar e sua névoa. Mas dessa vez eu tenho um farol. Consigo guiar, consigo manter-me em linha reta. Gostaria de mais saúde, de mais cafés sem culpa, de admirar os queridos de outrora, de sentir-me um pouco mais viva. Bem, poderia até dizer que falta-me dinheiro, um emprego (digno). E sim, isso é desesperador. Só que para esse item só restar-me correr atrás, só por mim e por mim.
Talvez eu escreva mais esse ano, consiga um emprego, possa ir para a Galiza e chegar a Finisterra. Depois para A Corunha e visitar a Torre de Hércules e, finalmente, cantar em galego e recitar García Lorca bem alto, só para o mar.
São sonhos tão diferentes dos demais. Nada daqui pertence-me. O que preciso pode estar muito além, atravessando o oceano. Uma árdua realidade e muito a se fazer.
Há uma boa sensação no meu coração desses deleites que ficam guardados por muito tempo. Portanto tenho que enfrentar todo esses desprazer de agora.
E refugio-me no meu Cabaret, cantarolando Sally Bowlles.
Melhor parte, simplesmente um fato! "Achar pessoas para conversar é uma tarefa simples. O problema é que elas são demasiadamente desinteressantes e causam um pavor reprimido."
ResponderExcluirEssa frase rege minha vida até hoje, querido Hyago!!!
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