sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Monocromia

São as madrugadas mais quentes do ano. E o estilo veraneio estabeleceu-se de forma estridente. Dizem, então, as boas e más senhorinhas que é primavera, mas cá estou a duvidar muito, pois nem mesmo vejo as tão brancas flores e muito menos as coloridas, aquelas mesmas do campo, do sertão, que brotam nas estradas da vida e do consolo das lágrimas.

Não posso estender-me muito, pois sim. Tenho muitos afazeres e toda uma carga intelectual para absorver.

Saudades batem à minha porta; de quem? Bem eu não sei ao certo. Muitos rostos foram embora. E agora as faces são muitos jovens e fora do meu próprio contexto. Lá estão todos em uma linha muito à frente do meu horizonte.

Preciso de um ídolo, uma imagem de adoração, daquelas para desejar a carne e unir o espírito, sem nenhuma amarra dessas que prendem muitos seres humanos a dogmas e preceitos que apenas afastam e deixam muito amargor.

Tudo não passa de frivolidade e falta de berço. A polidez esvaiu-se e nem uma gotícula sobrou. Ou as moças bonitas são pura perfídia ou cristalina insipiência.

E o reino dos doidivanas e lunáticos continua simplesmente o mesmo.

Entretanto... Deixo para o final uma dessas canções, que, se fosse em outro mundo, já teria dado-me uma dança ou uma boa conversa a luz do luar. Só que aquele outro homem bonito, de outrora, de rosto faceiro, foi-se e nunca mais fez-se figura.

Só resta-me mesmo o desalento e o dissabor de uma vida monocromática adiante. 




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