domingo, 22 de janeiro de 2017

De quem é a culpa?

Eu tenho muitos sonhos recorrentes. A maioria é como ver um filme do David Lynch. Eu até já descrevi um aqui no Blog (link para a postagem aqui). Só que há um cenário que entra em um modo chamado looping.

Eis o relato...

"Eu acordei bem angustiada. De fato, o sonho todo foi sufocante e intenso. Eu estava revivendo um terror juvenil – a escola. Lá estavam as mesmas pessoas que um dia transformaram minha vida em um inferno sem precedentes, deleitando-se todos em pura maldade. Tudo era igual, a sala, as árvores, as ruas... Eu estava imersa no fracasso total, questionando os métodos, não entendendo o conteúdo, odiando os professores, faltando às aulas. Eu fui uma aluna exemplar na vida real. Só que, neste pesadelo, eu era um ponto fora da curva. A sensação de inquietude e desespero reinavam. Eu estava na ponta de um abismo de conflitos existenciais. Eu tinha medo que meus perseguidores arrancassem os meus desejos, afinal, eles estavam novamente ali, tão próximos. Parecia mais um jogo sádico. E, mesmo com toda a tristeza que pesava dentro de mim, eu estava perseguindo a Lua - grande e paradoxal - que estava aproximando-se. Meus olhos não saíam do céu. E era uma espera conflitante, cheia de dúvidas. Pedi a quem estava próximo para chamar-me quando ela surgisse. Mas não fizeram isso por mim - eu mesma tive que achá-la no firmamento. Eu, finalmente, estava prestes a colocar minhas mãos naquele astro imenso e significativo - tudo que eu sempre quis. Porém, de repente, saí e deixei para os outros, pois tinha medo e uma sensação de frustração. Eu estava abandonando as recompensas de toda uma espera. Não existia mais prazer e muito menos olhos para contemplá-la."

Após despertar, eu tive um lampejo de felicidade ao constatar que não era real. Só assim todo o peso e angústia foram dissipando-se. Fiquei horas pensando no que tinha acabado de acontecer e o que tudo aquilo significava. Então eu pesquisei no Google, achando alguns significados:

Sonhar com o passado - o sonho de viver no passado indica reflexão sobre alguma coisa que não foi resolvida e que, aos poucos, vai descortinando-se na própria mente. Sonhar vivendo no passado possui o significado de uma possível regressão e de uma vida diferente.

Sonhar com pessoas do passado - ver pessoas do passado em um sonho indica incertezas profundas quanto ao futuro. Somente quando estamos preocupados com o futuro é que nos voltamos para o passado. A incerteza é uma das maiores tiranas dos homens e os persegue para sempre, posto que a única coisa que temos de concreto é que um dia deixaremos esta vida. Sonhar com pessoas do passado é desnudar anseios e vê-los diante de nós com um ponto de interrogação enorme, fazendo a velha pergunta existencial: ser ou não ser!

Sonhar com a Lua - sonhar que procura a Lua e não a encontra significa que o seu momento é de baixa e de grandes decepções. Sonhar que está contemplando a Lua significa que sua alma está sentindo-se mais livre e espontaneamente carregada de boas energias. Neste contexto, pode-se abrir um precedente que nos faz refletir sobre a capacidade de evolução.

Apesar de todo o misticismo envolvido nas interpretações, não pude deixar de notar a grande semelhança com os acontecimentos atuais e o meu próprio estado de espírito.

Há um tempo eu venho fazendo-me a pergunta: de quem é a culpa pela tristeza da minha vida que reflete-se até mesmo no sono?

Se eu fosse uma religiosa fervorosa, eu diria que a culpa é totalmente minha. Talvez se eu fosse a um psicólogo, ele diria a mesma coisa, mas de uma maneira mais suave.

Quase cotidianamente, convidam-nos a achar que somos exclusivamente o nosso próprio inimigo. E que, para aniquilar essa personalidade destrutiva, perdoar em massa é a única solução. O resto é seguir em frente. Parte dessa cartilha de martírio e desnudez é necessária sim. Mas segui-la à risca é tornar-se um bobo desnecessariamente.

É claro que perdoar e apagar as mágoas passadas retira um peso do próprio corpo. Afinal ninguém quer ser Atlas. Contudo estes dois atos devem ser feitos com cuidado e refinamento justamente para ajudar e não deixar a sensação de vulnerabilidade e de uma pessoa que esquece tudo facilmente.

Eu não posso retirar o passado e a lembrança das pessoas más de mim. Eu gostaria, entretanto não posso.

Eu consigo, somente, amenizar algumas dores e desculpar algumas que mostraram merecimento. Tolice grande é perdoar aqueles que não admitem o erro, que acham que estão certos e orgulham-se de ser opressores.

Está semana, como comentei em uma postagem anterior, estava preparando-me para conversar e pedir desculpas para alguém que há muito não falava. De fato, eu também o perdoei por uma história do passado. E sabe por quê? Pois, passados 4 anos, eu descobri os que realmente foram responsáveis por incentivarem o rancor.

E sobre as outras pessoas? Talvez eu nunca as perdoe. Por que eu trataria a mim mesma como vilã quando na verdade fui vítima? É algo que muitos fazem e eu não consigo entender. Isso é bem diferente de quando há redenção, pedido de desculpas. É uma outra história quando você sente que magoou alguém.

Hoje mantenho-me o mais longe possível daqueles que um dia fizeram-me algum tipo de mal. Eu convivo bem com a solidão. O que não suporto é a proximidade dos iconoclastas, falsos admiradores e críticos destrutivos.

Concluí que a culpa não é minha somente.

E depois do devido reconhecimento, o que fazer?

Não sei, de fato. Tudo é tão incerto. É um sabor amargo, um desprazer...

Não sintam pena, seria humilhante. Se for para sentir algo, que seja empatia e compreensão.

E é isso que todos os que são magoados precisam...

E todo mundo se magoa às vezes.
Às vezes tudo está errado. (REM, Everybody Hurts, 1992)



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