Não é de hoje que comento minha paixão por dois escritores: Oscar Wilde e Hans Christian Andersen. Histórias de Fadas (1888) (crítica no CQ&Sherlock aqui), de Wilde, é recomendação primordial na literatura infanto-juvenil, enquanto Andersen é referência mundial neste gênero.
É quase certo que todos conhecem a adaptação de A Pequena Sereia, de autoria de Andersen (a história é tão importante para a Dinamarca que uma estátua de Ariel, em bronze, está localizada no porto principal da Copenhague), da Disney. Eu mesma gosto muito da animação. Porém ela não faz jus a história original. Contos de Fadas não foram feitos para serem felizes para sempre - eles são para educar e emocionar. E o filme para TV (que originalmente foi divido em duas partes, como uma minissérie) O Jovem Andersen (Unge Andersen/Dinamarca/2005) mostra exatamente onde floresceu a primorosa escrita do grande contador de histórias dinamarquês - na pobreza extrema e preconceito - traços marcantes em seus contos.
Com direção de Rumle Hammerich, o filme retrata a juventude de Andersen (nascido Hans Christian Andersen, Odense, 2 de abril de 1805 e falecido em 4 de agosto de 1875 em Copenhague) e sua luta para ter uma chance como escritor de peças de teatro. Rejeitado por todos por sua aparência paupérrima, origem humilde e jeito infantil, sua única salvação foi sua própria insistência (ao ponto de tornar-se chacota nos círculos de escritores). Só conseguiu algo substancial por intermédio de Jonas Collin e da boa vontade do Rei da Dinamarca, Frederico VI, que viu um possível potencial nele. E nesse ponto começa toda a jornada de sofrimento do jovem Andersen (com apenas 17 anos), ingressando no prestigiado Colégio Interno de Meisling, fora de Copenhague. A princípio, foi privado de escrever suas poesias e educado para ser apenas um auxiliar de escritório, para depois, gradualmente, quase mergulhar na loucura nas mãos do implacável diretor Meisling. A sua amizade com o empregado do diretor da escola, o garoto Tuck, é um dos principais focos da narrativa - cumplicidade, tristeza, injustiça e impotência permeiam esse laço. Em uma das cenas mais bonitas, onde a história entra no ápice, surge a narrativa que tornou Andersen o pai dos Contos de Fadas - A Pequena Sereia:
"Far out in the ocean the water is as blue as the petals of the loveliest cornflower, and as clear as the purest glass. But it is very deep too. It goes down deeper than any anchor rope will go, and many, many steeples would have to be stacked one on top of another to reach from the bottom to the surface of the sea. It is down there that the sea folk live..."
"Bem no fundo do mar, a água é azul como as pétalas das mais bonitas centáureas e pura como o cristal mais transparente. Mas é tão profundo, mais tão profundo do que qualquer âncora pode alcançar. Seria preciso empilhar uma quantidade de torres de igreja, umas sobre as outras, a fim de verificar a distância que vai do fundo à superfície. Lá é a morada do povo do mar..."
Trata-se de um filme altamente recomendado e digo eu: necessário, assim como as histórias de Hans Christian Andersen. Não importa a idade, no filme e contos, chorar não é um desafio, é o caminho natural da beleza que toca o nosso coração. E essa é a essência inexorável dos Contos de Fadas.
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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!