domingo, 10 de julho de 2016

Parentes

Quando estamos condicionados a pobreza e a impossibilidade momentânea de um sucesso que os parentes consideram digno, toda briga em família, mesmo que estejamos cobertos de razão, vira motivo para lembrar que somos um estorvo.

Eu considero parentes (até que seja abençoada pela exceção) a encarnação do próprio demônio - o aviso diário que qualquer que seja o meu passo, serei condenada até o fim dos meus dias.

Hoje minha paz foi abalada pela presença espinhosa dessa entidade que carrega consigo a discórdia e a espalha no núcleo familiar de maneira ardilosa.

Não considero parentes parte da família. Esta reduz-se somente a pais e irmãos, sejam eles também de consideração, e os pets da casa.

Este laço sanguíneo imposto muito mais pelas regras medievais da sociedade do que pela importância genética em si é o peso que muita gente carrega, inclusive eu.

Vivo em um limbo - sem ter para onde ir, sem poder ficar triste, sem quereres que não me causem dores de estômago de preocupação.

Desapeguei-me do agradar. Meus olhos enxergaram porque já sagraram muito.

Mas isto não livra-me de uma raiva interior sólida, uma muralha construída por cada dissabor feito por um parente intrometido.

Hoje gostaria de isolar-me, fugir de tudo isso, considerar-me dona de mim mesma. Esquecer as injustiças e de como a minha boca é silenciada por ordens.

Se pudesse, subiria ao topo de uma montanha onde a Lua brilha platinada e as vozes das almas perdidas sussurram canções de esperança. Não haveria dor, sofrimento e sentimentos de culpa - não existiria a viva memória de parentes.

Ouço lágrimas e mágoas causadas por esses seres maquiavélicos.

E odiar é a palavra da vez...

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