quarta-feira, 30 de maio de 2012

Quentin Crisp – história e estilo de vida, filmes e música

História e estilo de vida
Há muito eu queria falar sobre Quentin Crisp - uma das figuras que admiro pelo que mais prezo no ser humano – a polidez e educação (e, devido à escassez, posso até dizer tratar-se de artigos de luxo de extrema raridade). 

Talvez a maioria dos brasileiros nunca tenha ouvido falar no seu nome e acho que até mesmo a juventude inglesa. Alguns fãs do Sting mais aficionados podem saber sobre ele. A verdade é que Quentin ousou assumir-se, ter voz, falar sem abandonar os bons modos ou a alegria de viver. E, por isso tudo, também apanhou e sofreu com a discriminação.

Crisp nasceu sob o nome de Denis Charles Pratt em 1908, em Sutton, distrito de Londres. Frequentou os cursos de Artes e Jornalismo, porém sem se formar em nenhum. Foi garoto de programa e vítima de vários ataques homofóbicos. Apresentou-se ao exército, na primeira Guerra Mundial, mas foi declarado isento por Perversão Sexual. Depois foi modelo, do tipo nu artístico.

Tornou-se conhecido pelo seu livro, lançado em 1968, intitulado The Naked Civil Servant e este recebeu boas críticas (o livro não foi traduzido no Brasil).

Tornou-se ícone gay na década de 70 após o seu livro de 1968 tornar-se filme para televisão pela ITV (o filme também foi responsável pelo estrelato do ótimo ator inglês John Hurt que interpretou o próprio Crisp). Passou a apresentar-se em teatros, em Londres, como rancouter (palavra chic, em inglês, para contador de histórias), apresentando habilidade e inteligência nessa área.

Mudou-se para New York em 1981. Continuou a ser um rancouter. Porém envolveu-se em uma polêmica ao afirmar que a AIDS era uma doença da moda. Porém, mais tarde, conseguiu fazer as pazes com o público. Sempre bem humorado e com a habitual polidez, chegou a fim da vida aos 90 anos em 1999.

Filmes 

Vida Nua (The Nacked Civil Servant/Inglaterra/1975)

Baseado na obra de sucesso de mesmo nome, o filme traz John Hurt no papel principal. Ele retrata a vida de Quentin Crisp desde a casa dos pais até tornar-se um ícone gay da década de 70, ou como ele mesmo fala na película – um homossexual respeitado em toda Inglaterra.  

O filme feito especialmente para televisão pela ITV ficou em quarto lugar na lista dos 100 melhores programas de TV de todos os tempos da Inglaterra (2000) – BFI TV 100. Pelo papel, John Hurt ganhou o Globo de Ouro de melhor ator em 1976.

O filme é delicioso e bem-humorado. John Hurt está ótimo, retratando as peripécias de um Crisp destemido (a cena, por exemplo, em que se apresenta ao exército para a Primeira Guerra Mundial é memorável). No começo há o depoimento do próprio Crisp – com seus bons modos e aquele sotaque inglês inconfundível.

Um dos melhores filmes que já vi!



Um Inglês em Nova Iorque (A Englishman In New York/Inglaterra/2009)

A continuação de Vida Nua – aqui John Hurt repete o papel de Quentin Crisp quando este muda-se para Nova Iorque, em 1981, até seus últimos dias.

O título do filme foi inspirado na canção que Sting compôs em 1987 para Crisp.

Foi indicado ao GLAAD Media Awards (prêmio de Mídia da Aliança Contra a Difamação dos Gays & Lésbicas) como Melhor filme para TV.

O filme começa muito alegre – a sequência com a música da querida Donna Summer (R.I.P.) é muito gostosa de se ver. Porém as sequências de conflitos levam-nos a refletir sobre uma época em que os direitos homossexuais começavam a ganhar mais espaço, assim como a AIDS. Há cenas engraçada e uma delas é super – Quentin tentando ganhar, de forma perspicaz e inteligente, o ‘Resident Alien’ (Estrangeiro Residente). Em uma certa altura, Crisp ganha a antipatia do público, porém a recupera mais tarde. Na sequência final do filme (e a mais bonita), temos o discurso que ele faz para uma plateia, onde, ao término desse, o som da belíssima An Englishman In New York surge.

Filme muito bom!



Música

An Englishman In New York

Foi através da música An English In New York que conheci a história de Quentin Crisp.

Com uma ótima puxada de Jazz, a música é gostosa de ouvir e tem uma letra maravilhosa. O clip, em preto e em branco, além de Sting e os músicos, tem o próprio Crisp.

Sting visitou Crisp em seu apartamento, em Nova Iorque, em 1986. Durante o jantar, escutou as histórias e as brincadeiras de Crisp – uma delas era que ele esperava receber os papéis de naturalização, assim poderia cometer um crime e não seria deportado. Relatou também os problemas que enfrentou por ser homossexual durante a década de 20.

Sting disse sobre a música: - "Bem, é, em parte, sobre mim e em parte sobre Quentin. Mais uma vez eu estava procurando uma metáfora. Quentin é um herói para mim, alguém que eu conheço muito bem. Ele é gay e ele era gay em um momento da história quando era perigoso ser assim. Ele sofria agressões diárias, em grande parte, com o consentimento do público." 

A música foi lançada no álbum Nothing Like The Sun em 1987.

An Englishman In New York
#Um Inglês em Nova Iorque#
(Composição - Sting)


I don't drink coffee I'll take tea my dear
Eu não bebo café, bebo chá, meu caro
I like my toast done on one side
Gosto de minha torrada feita de um lado só
As you can hear it in my accent when I talk
Você pode ouvir no meu sotaque
I'm an Englishman in New York
Eu sou um inglês em Nova York


See me walking down Fifth Avenue
Você me vê andando na 5ª Avenida
A walking cane here at my side
Ando com minha bengala ao meu lado
I take it everywhere I walk
Eu a levo a todo lugar
I'm an Englishman in New York
Sou um inglês em Nova York

I'm an alien, I'm a legal alien
Eu sou um estrangeiro, sou um estrangeiro oficializado
I'm an Englishman in New York
Eu sou um inglês em Nova York


If "manners maketh man" as someone said
Se "os modos fazem o homem", como alguém disse
Then he's the hero of the day
Então ele é o herói do dia
It takes a man to suffer ignorance and smile
É preciso ser homem para sofrer ignorância e sorrir
Be yourself no matter what they say
Seja você mesmo, não importa o que digam


Modesty, propriety can lead to notoriety
Modéstia e propriedade podem levar a notoriedade
You could end up as the only one
Você pode terminar como o único
Gentleness, sobriety are rare in this society
Gentileza e sobriedade são raras nessa sociedade
At night a candle's brighter than the sun
À noite, as velas brilham mais que o Sol


Takes more than combat gear to make a man
É preciso mais que combates para fazer um homem
Takes more than license for a gun
É preciso mais que uma licença para armas
Confront your enemies, avoid them when you can
Confronte seus inimigos, evite-os quando puder
A gentleman will walk but never run
Um cavalheiro anda, mas nunca corre




Fontes:
Quentin Crisp - Wikipedia inglesa
Crisperanto: The Quentin Crisp Archives [os arquivos de Quentin Crisp] - Site em inglês

10 comentários:

  1. Ticy-miga!
    Menina... eu ia começar comentando que não conhecia o Quentin Crisp, até que percebi que assisti a um "inglês em Nova york", mas te confesso, faz um tempão, nem me recordo direito, mas ele é um cara que marca qualquer interpretação, pois o pouco me lembro é dele, e não de cenas quaisquer.

    Com certeza ele próprio é um marco, quase um desbravador. Excelente post e lembrança, que o faz memória viva para todos que passarem por aqui!

    Beijao, miga!
    Espero que você esteja bem!

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    1. Pois é, querida Cissa... Que bom que já assistiu An Englishman In New York. Ele é uma figura marcante mesmo!
      Beijos!

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  2. Boa noite, T. S..
    Confesso que não conhecia esta figura tão interessante e ímpar que foi Quentin Crisp.
    Se até nos dias de hoje os homossexuais sofrem discriminação, então só dá para supor que ele deve ter sofrido muito, sem dúvida.
    Também não conheço estes filmes, e acho John Hurt um ótimo ator.
    Abraço, T. S..

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    1. Pois... O primeiro filme, Vida Nua, retrata bem essa parte da vida dele - a violência permitida pelo público. Recomendo os dois filmes!

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  3. "i'm an alien, i'm a legal alien, i'm an englishman in new york"
    cresci com esta música; não conhecia as relações que estabelecia com outros mundos. soube-o hoje, aqui, neste teu post incrível.

    beijos, t.s.!

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    1. Pois... Esta música é um máximo! Uma das melhores do Sting. E a letra retrata bem o estilo e a filosofia de vida de Quentin Crisp.

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  4. Oi querida,

    Tudo bem? Assisti Inglês em Nova York e nunca me esqueci de sua atuação. Para mim, é clássico, embora, muitos cinéfilos não destaquem a sua atuação.

    No mais, agradecer pelas novas informações e seus comentários lá no blog.

    Bom final de semana!

    Lu

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    1. Eu gosto muito da atuação do John Hurt em A Vida Nua. Em Um Inglês em Nova Iorque está muito bem também, mas eu destaco mais a música do Sting.

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  5. Querida Ticy,

    eu realmente desconhecia Quentin Crisp, nunca tinha ouvido falar mesmo. E a música do "The Police" também não conhecia, mas é uma delícia de se ouvir! Obrigado!

    Se não é fácil para os homossexuais hoje, apesar de todo o avanço contra a homofobia, imagine na década de 20 naquele período de transição conturbado na Europa e EUA posteriormente.

    Bjs!

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    1. Olá, querido Jaime! Pois, Crisp é uma figura e tanto! Bem, pois é... Se faz muita confusão entre a carreira solo do Sting e do The Police! Cê pegou bem o espírito!

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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!