E, no dia 26 de setembro de 2022, me tornei Historiadora, ou Professora de História, ou mesmo, simplesmente, Licenciada em História. Foi uma caminhada peculiar em uma área segura para enfrentar os fantasmas que teimam em se fazer presentes.
E por que tudo ainda persiste no cinza? Talvez seja a falta de um emprego, ou exercer a profissão em um Museu ou Arquivo (o ideal), ou mesmo refletir sobre os desejos de um Mestrado e um Doutorado que podem não acontecer tão rápido assim.
Sinto falta de muitas pessoas que se foram. Seria muito interessante contar para as mesmas como é estranha a sensação de conquistar algo e, ao mesmo tempo, sentir-se uma injustiçada ou uma impostora. Como se nenhuma fatia do mundo pertencesse a mim. Avalio, algumas vezes, uma pequena nota de um suicídio imaginário. E endereçaria os meus preciosos livros para aqueles que saíram da minha vida como luzes débeis que se afastaram de um monstro.
Tudo é tão pesado e humilhante. Nos últimos dois anos, deixei de escrever sobre o que eu sentia, pois não há sentimento; nem mesmo a raiva que movia-me como um combustível inesgotável. Inexistem amores das esquinas ou das praças, com seus rostos misteriosos e chamativos, pois meus olhos se fecharam e só enxergam o mal ou o desinteresse. Sou vítima da minha idade, do meu corpo e de mim mesma.
E não os culpo. Afinal, há muitas pessoas jovens e notáveis por aí. Por isso afeiçoei-me ao conhecimento, aos estudos e a um outro universo. Melhor, apeguei-me aos mortos e suas narrativas de anos, décadas e milênios. Eles não podem me esnobar e deixam-me tocá-los gentilmente através das palavras escritas, fotos e outros acervos do passado.
Pudera eu resgatar aquela sensação de gosto de coalhada e maçãs e que, misturadas, criavam uma atmosfera de sabor ansioso e êxtase.
Contudo, não há chance mais para isso.
Assim, conformo-me e volto a pensar em uma nota sobre a morte da minha própria alma: condenada por merecimento.