quarta-feira, 4 de julho de 2018

Assassinos de dor



Acordei e tudo ao redor parecia redundante.  - Deus, como meus joelhos doem! E pergunto-me se as pessoas com mais de sessenta anos amanhecem melhores do que eu em relação a isso.

Os últimos três meses foram um tanto quanto complicados, começando pelos famigerados já mencionados joelhos, que romperam em dores num belo acordar de um final de abril muito aborrecido.

Fui a um médico e vi a fotografia dos meus ossos. E lá estavam eles, pobres coitados, com cara de desânimo, mas sem nenhuma lesão aparente. Cheguei em casa com um monte de analgésicos - sininhos mágicosE se o efeito for imediato, de fato, a impressão é que todas as pessoas na face da terra desapareceram e nada poderá me destruir. Entretanto, como qualquer prazer, o maravilhamento passa rapidamente. E cá estou eu, com os benditos piores e sem dinheiro, esperando a boa vontade dos que me cercam.

Como toda má sorte para mim é pouca, nesse ínterim, tive cálculo renal. Se a sensação da morte iminente fosse descrita com relativa fidelidade, essa seria a dor angustiante do final irremediável. Sem plano de saúde, fui para a emergência pública e lá mesmo fecharam o diagnóstico. Tomei derivados da morfina, e foi como ir a Lua por uma estrada de gelatina. Duas semanas depois, a maldita pedra já tinha ido para o ralo, literalmente.

O nome que mais gosto de escutar ultimamente é analgésico, cujo o significado em inglês é ainda mais forte e preciso - painkiller - o assassino de dor.

Nessa situação deprimente, o que me sobrou mesmo foi escrever... Para suavizar os tormentos. Porque receitas de remédios já se foram todas. E as drogas que eu gostaria de tomar precisam de folhas especiais que são dadas apenas uma vez a cada visita, caras e com baterias de exames.

Não tenho um vintém, meu trabalho ruim paga muito mal e meus opiáceos são difíceis de conseguir. Ou seja, tudo normal no Reino da Dinamarca.


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