terça-feira, 21 de novembro de 2017

Aprisionamento

Mais cedo tentei juntar algumas palavras. Não consegui. O ambiente não é tão favorável assim. E tenho que dizer que sou uma fraca por isso.

Ora! Dostoiévski escreveu Crime & Castigo e outras de suas fantásticas obras em condições extremamente angustiantes, como sua situação com as dívidas, a pobreza e a iminência da prisão. E eu mal redigi umas parcas linhas desconexas e logo tive um dissabor como resultado final. Eu sou uma grande piada!

Estou imersa em grande dilema. E queria contar tudo sem assemelhar-me a esta gente frívola dessa época.

É que... Sim... Eu perdi a vontade e o interesse no curso de Física. Eu não o quero mais! Soa simples, afinal, é só uma faculdade.

E o que eu estou fazendo para contornar essa situação? Pois bem, tenho colocado currículos incessantemente por aí e fiz o ENEM para uma possível permuta na Universidade. Estou prestes a completar trinta e dois e quero a minha vida só para mim. E pronto! Já tenho uma profissão, tenho registro e uma pós graduação prestes a terminar.

Parece muito e é de fato. Entretanto não é o suficiente para minha família. E nunca chegarei a alcançar as metas do sucesso ideal dela.

Eu tentei, por diversas vezes, descrever o meio no qual em cresci. E os rascunhos acabaram no cesto de lixo. Essa é uma tarefa, além de excruciante, difícil de realizar. Posso começar por dizer que é um povo muito religioso e temente a um Deus que castiga muito e ama fantoches.

Meu problema maior concentra-se no núcleo principal. Só que os entornos, assim por dizer, são a encarnação do mal em essência. E os dias são repletos por um falatório sem fim sobre esses familiares que, pelos dois lados sanguíneos, são vulgares e muito alienados em diversas áreas do conhecimento.

Eu simplesmente cansei! Estou farta! Sou um reflexo monstruoso da culpabilidade causada pelas miserabilidades alheias.

A verdade é que sinto que não poderei ter algo somente meu em matéria ou espírito.

Lembro-me de uma conversa em que falei que eu era incompatível espiritualmente com a família dessa existência. E esta sensação fica mais e mais clara à medida que envelheço. E ela estende-se para o círculo de conhecidos também.

Semana passada, um rapaz, da época da minha primeira faculdade e que está morando em outro estado, perguntou se não haveria a possibilidade de, alguma hora, eu passar alguns dias com ele por aquelas bandas. Minha primeira reação foi pensar comigo mesma: - Pobre coitado! Como ele ainda pode, depois de tanto tempo, ainda ter algum sentimento por mim? Eu nunca gostei dele e fico indagando-me sobre a minha real intenção, mesmo que brevemente e naquela época, em alimentar suas ilusões. Logo eu cheguei a uma cruel conclusão: Enganei muita gente! E para quê? Para obter prazer? Muito difícil. Nenhum homem conseguiu satisfazer-me e a recordação dos seus rostos são ondas amareladas, como tardes sufocantes pela fumaça das industrias. Com certeza ainda estou procurando por uma resposta plausível para estas empreitadas sem sentido.

Se eu amei? Todos amam um alguém. Mas acredito que esse meu sentimento puro, platônico, por uma alma parecida e íntima, não consumou-se por razões que estão além do meu entendimento atual. Espíritos que têm afinidades, talvez pelo chamado carma, encontram-se somente de passagem para assim evitar tragédias e tristeza. E isso foi há dezesseis anos. Tempo suficiente para ainda ser um pouco doce.

Eu também apaixonei-me - resultado de falha e da necessidade de preenchimento. E são esses os caminhos que levam a um entusiasmo doentio, incrustado pela toxidade. Eu ainda posso sentir o amargor do veneno...

Sou uma cativa que costura uma colcha de retalhos. E cada pedaço dela tem uma utopia -  êxtase, Supernova, romances, nebulosas, céus estrelados e um beijo ardente com Cassiopeia, ao fundo, no céu de um verão frio de dezembro.

Eu era apenas muito jovem e inocente... O tempo passou e tornei-me uma incrédula.

Vesti-me de Icarus. E neste momento estou em queda livre.

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