terça-feira, 25 de julho de 2017

Crítica da Semana: Universo no Olhar (I Origins)/2014

Um filme ruim com uma ideia ruim pode ser até divertido, mas quando temos um trabalho péssimo advindo de uma ótima ideia, o único sentimento que fica é de um grande aborrecimento. Eis a definição exata para essa película.

Meu Deus do Céu... Fazia um certo tempo que um filme não despertava em mim um sentimento de antipatia. Algo um pouco perto disso veio com À Noite Sonhamos (A Song to Remember/1945). Portanto Universo no Olhar (I Origins/EUA/2014) conseguiu superar todas as minhas expectativas negativas. Ele, arrisco-me a dizer, deveria ser uma cartilha para todos os alunos de cinema, pois é sempre bom ter exemplos vívidos de como desperdiçar uma ideia interessante no campo da Sétima Arte.

Apesar de ser muito elogiado por aí e até ganhar uns prêmios no cenário independente, o filme tem uma construção que peca pela não profundidade em temas que insiste o tempo todo em comprar para si, como o encontro de almas, a morte e o luto. E, de quebra, ainda trata a reencarnação muito superficialmente, tanto pelo lado da religião como pelo da ciência. E a culpa respinga para tudo que é canto: direção, elenco e, principalmente, roteiro.

Vamos por partes...


O diretor Mike Cahill erra a mão feio, viu! Com quatro filmes no currículo, o seu A Outra Terra (Another Earth/2011) já o colocava no cenário cult promissor sem muito merecimento. Sua assinatura é o apelo pelo dramalhão travestido com uma roupinha mais descolada, underground e jovial, digamos assim. Essa sua obra de 2014 ratifica isso. 

O elenco é bem mediano, salvando-se somente Archie Panjabi (que interpreta Priya Varma), que ganha no quesito carisma e faz um grande esforço para dar credibilidade ao seu personagem, mesmo que esse esteja relegado aos momentos finais da película. Michael Pitt (que interpreta Ian Gray) está deslocado e não causa empatia, piorando ainda mais quando um luto muito estranho, por parte dele, é revelado. Na primeira oportunidade, atraca-se com sua assistente porque essa leva-lhe uma sopinha quente. Seu personagem melhora no final apenas, quando liga-se justamente à personagem mais sensata do filme, Priya Varma. Brit Marling interpreta Karen, a personagem oportunista de pesares. Ela não destaca-se além disso. Uma analogia com um urubu caberia muito bem aqui.

Dedico agora um parágrafo a personagem Sofi (interpretada por Àstrid Bergès-Frisbey). Sua presença tem uma grande parcela de culpa no desastre que o filme é. Ela deveria ser a parte espiritual, iluminada e sensata, passando uma serenidade típica àqueles que estão em um nível mais elevado em suas próprias crenças. Só que ao invés disso, a moça é enjoativa por demais. Seu ar misterioso do começo beira o ridículo, muito ajudado pela sua tentativa de inserir sexo em um contexto bem falso. E daí por diante a ladeira é o caminho certo. Ela restringe-se a partes de seminudez e nudez. Seu jeito de modelo sem cérebro é parecido com alguém que foi criado dentro de um desses cultos malucos. Com frases saídas de livros baratos de auto ajuda, ela mira na parte divina e acerta o new hippie chic. A cena em que ela morre, pelo amor... Lembrou-me os filmes do antigo Cinema em Casa do SBT. Poxa! Se era para a garota passar dessa para outra por causa de um elevador, que fizesse com ele caindo, lentamente, dando espaço para analogias e reflexão. Cortá-la ao meio, deixando-a em uma poça de sangue foi uma mistura de gore com impacto zero.

O final é insosso. Nosso desbravador descontextualizado finalmente encontra a íris única de Sofi na Índia. O renascimento é a prova que abala um universo inteiro. Era para ser majestoso... Entretanto não é. 

Aqui não cabe-me julgar as crenças e a ciência. Se o filme fosse bom, assim como a ideia que o cerca, um debate razoável seria estabelecido. 

Se quer um conselho, melhor assistir outro filme, talvez Em Algum Lugar do Passado (Somewhere in Time/1980) na Netflix. Ao menos tem o Christopher Reeve e é de época. 



Trailer Legendado

2 comentários:

  1. Gostei muito de tua crítica.

    Posso soar apressado, mas só pelo trailer e sinopse dá pra sentir que é um filme cafoninha.

    Quando vi que o arquivo disponível no grupo de Facebook era dublado, foi quase certeza de que seria um filme padrão sessão da tarde 90' ou da lista dos "bombando" na NETFLIX.

    Tem cara de cilada, cheiro de cilada e trailer de cilada.

    Vou te acompanhar Bino!

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    1. Obrigada, Rui Ribeiro! Ele não chega a ser cafona. A temática da reencarnação nele trabalhada até que é válida. Porém é tudo tão mal trabalhado e as atuações são bem, bem medianas. O problema é o roteiro, para mim. Já vi filmes ótimos sobre o mesmo tema, como Café de Flore (2011) com a Vanessa Paradis. Esse sim vale a pena assistir. Entretanto, recomendo que veja o da crítica. Seria uma boa experiência e você poderia ver, do seu ponto de vista, se ele é tão ruim assim ou eu que sou chata. (hahaha!). Volte sempre a esse espaço!!!

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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!