sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Notícias do front... O que andas fazendo, óh, criatura?

Pois bem, pois bem, eis como nos primórdios do CQ&Sherlock...

Então é o mês das folhas que caem, das paisagens amarronzadas com aroma de madeira e canela e... Não, não é nada disso! Por aqui somente um calor escaldante dos trópicos, com um céu cegamente azul e uma sede sem fim. Penso que qualquer um desses dias será mais do mesmo - nenhuma gota de chuva e tampouco nuvens cinzas que façam-me sentir como nos velhos tempos do belos temporais que vinham do leste. Nossa, que saudade daqueles tempos imemoriais...

Mais do mesmo também é meu cotidiano. Estou tentando terminar o curso de Física, uma notícia mais velha que o próprio Matusalém.

 - Senhor, como está difícil!

São apenas duas cadeiras e dois cenários tão distintos e discrepantes que uma confusão e discussão mental fazem-me sair da sala em pensamento: um professor muito rígido, mas que mantém o diálogo um pouco mais aberto. O outro, um senhor que não sei bem como foi parar no magistério acadêmico. Um tédio absoluto em ambas - a primeira disciplina é tão abstrata que não sei por onde começar. E isso não me incentiva a abrir o livro, que por desventura é em inglês, para tentar entender. É como antecipar um futuro já sabido por todos - aquilo é extremamente complicado para se aprender e não há uma viva alma para concordar comigo; a segunda, pateticamente tão mal ministrada que não merece nenhuma linha a mais desta conversa. Das intempéries desse semestre, não sei mais o que profetizar. É apenas uma questão de espera.

No final do mês haverá o IV Simpósio de Estudos Celtas e Germânicos dos meus colegas do curso de História. E sim, escrevi-me nele sem pudores - será uma escapadela da realidade mórbida que cerca o meu prédio de exatas. Digo a muitos (e poucos compreendem) que é como cruzar o portal para dois mundos extremos - em apenas uma travessia de passarela, ou escadas, desvencilho-me do ar pesado e sabichão dos arrogantes para adentrar em uma reunião dos seresteiros, cancioneiros e trovadores da noite. Pode parecer vadiagem sem precedentes, mas eu prefiro assim.

Continuo a tocar as minhas flautas nativas. Mas uma tem dado-me um pouco de dor de cabeça - parece desafinar em uma das últimas notas e tem um "vento" que rivaliza com o som. Conversei com o luthier, mas ele insiste em dizer que é sopro em demasia. Desanimei um pouquinho, só que irá passar.

As dores na coluna vão e voltam. Eu não tenho hérnia de disco, apenas degeneração discal. Acho que já estou bem acostumada a esse ritmo. Claro, nos dias de dores, tudo parece sem esperança. Ajuda muito a piorar esse quadro a TPM, esses sim são péssimos momentos. E conversando com o meu médico, optei por fazer pilates e fitdance (a famosa zumba) e tomar alguns medicamentos menos agressivos. Tudo isso foi cuidadosamente pensado depois que ele passou-me um antidepressivo que também age nas dores crônicas e juro, depois de tomado um comprimido apenas, a morte parecia mais perto do que nunca. É como não sentir-se mais a mesma pessoa, uma sensação de letargia, respiração quase parando, o mundo girando e pensamentos infernais. Resultado: o ortopedista concluiu que sou uma pessoa demasiadamente sensível a antidepressivos.

Depois de completados 30 anos... A contagem já não importa mais.

Estou endividada até a alma (ha, ha, ha). Tive que cortar o plano de saúde e minha boa vida acabou. Estou procurando um emprego e, pelos céus, como está intricada esta parte. Esta cidade é estranha para quem quer entrar no mercado de trabalho depois de muito tempo. Resolvi tentar o setor das aulas particulares, mas também é um cenário difícil. Depois de 4 anos fora de órbita, vivendo apenas com as bolsas de iniciação científica, não há mais como sobreviver desta maneira. Depois da última bolsa, em que o Professor chamou a mim e outros colegas de vagabundos que não queria trabalhar, decidi que é melhor ir para outro ramo.

Estou viciada nos documentários do Investigação Discovery. Os programas que mais assisto são A Sangue Frio e Casos Arquivados. É uma sensação de alívio saber que os assassinos foram punidos com o rigor da lei no final de cada episódio - algo que não teria espaço aqui no Brasil - o país mais escrachado, nesse aspecto, de todos.

Estou quase acabando (de verdade!) Moby Dick Volume I, faltam apenas 24 páginas. E como já relatei em outras postagens, isso tornou-se uma saga de quase 3 anos. E o Volume II promete seguir a mesma rota.

São dias calmos, bem tranquilos, eu diria. Quando você toma conhecimento da sua quebra financeira e encara isso de frente, não há mais ansiedade e compulsividade, ou mesmo ira. É um fato consumado e ponto final. Claro, todos pensam em sucesso e dinheiro para mostrar o poder adquirido alguma vez na vida ou em toda ela - não passando de uma ilusão neon; a nobreza encontra-se na simplicidade. A palavra mais adequada para nossas ambições seria estabilidade, porém, para a maioria, esta não tem validade se não for uma vaca gorda que jorre leite espumante em bicas. Talvez percamos muito tempo em uma busca desenfreada pelo ter para satisfazer apenas caprichos, deixando essa passagem incompleta e levando lacunas para a próxima. Só que não estou dizendo que quero viver dependente dos outros, como estes filhos que acomodam-se. Longe de mim! A procura diária do saber quem eu sou levou-me por caminhos mais místicos. Percebo que a vida é mais promissora para aqueles que tentam desprender-se das imposições da sociedade, um monstro faminto e impiedoso - prepara o indivíduo para ser devorado, fazendo-o acreditar que o que a nutre também o nutrirá, quando na verdade, a criatura não passa da próxima refeição.

Tenho mais passatempos agora - traduzo legendas do Inglês para o Português de minisséries, séries e peças de teatro inglesas ou de outras línguas que são raríssimas de encontrar no Brasil. Eu já traduzi e aprontei uma legenda para o filme dinamarquês O Jovem Andersen (que fiz a crítica aqui), agora trabalho com duas obras - todas com o ator que amo, Sir Derek Jacobi (que eu falei aqui) - Little Dorrit, de Charles Dickens, de 1988, e a peça Hamlet, de Shakespeare, de 1980 - ambas da BBC. Tais legendas são extremamente dificultosas. Quando você trabalha como legender, percebe a diferença entre um bom trabalho e um péssimo. Little Dorrit tem 6 horas de duração, divida em duas partes, e Hamlet tem 3 horas, sendo assim, a pressa não tem vez. Nesses casos, traduzir bem também significa conhecer as obras e um pouco do universo do autores. E boas legendas podem demorar até dois meses para ficarem prontas. No caso de Hamlet, com uma linguagem altamente rebuscada em inglês, tenho que usar livros, duas traduções em Português (Brasil e Portugal), e a peça no original, em Inglês, para saber o que foi utilizado e o que foi cortado para em seguida passar para as legendas. É como um grande quebra-cabeça que monta-se dia após dia.

Tenho dois temas para escrever nos próximos dias - A série Stranger Things, que já havia prometido, e o Nobel do Bob Dylan. Talvez o tema Dylan saia primeiro, pois foi um burburinho sem sentido para algo que eu considero fantástico e totalmente justo - eu sempre quis falar sobre os trovadores e eis uma bela oportunidade.

Lembre-se:

"Se não há vento para seu barco, reme!". 

E dito isso, desejo-te, leitor (a), uma ótima e agradável noite.


T. S. Frank


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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!