sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Vicious - minha série perfeita

Vicious é a minha companhia da noite ou daqueles momentos mais melancólicos que eu preciso rir despretensiosamente. E por quê? Por que ela é hilária e possui o enredo e as tiradas das comédias que eu aprecio. Se eu for contar quantas vezes vi todos os episódios das duas temporadas dessa sitcom inglesa, muitos números farão parte desse índice.

Há séries que ficam guardadas na memória e outras que vão além disso: ficam guardadas para serem assistidas a qualquer momento. Vicious é uma delas. Depois de The Mentalist e Fringe, não pensei que iria achar uma série para fazer parte desta família sentimental assim tão facilmente. Só que foi amor no primeiro episódio.

Vicious é puro talento. Não por menos, afinal, o casal principal da série britânica é composto por dois monstros sagrados da interpretação: Sir Ian Mckellen e Sir Derek Jacobi. E não é nenhum exagero: eles são tesouros nacionais, como dizem os britânicos.

O enredo da série gira em torno do casal Freddie Thornhill e Stuart Bixby. Há 50 anos juntos, eles vivem uma verdadeira relação de amor e ódio, dessas que a gente conhece das histórias de todos os dias.

Freddie é um ator com um excesso de confiança extremo. Ele trabalha, geralmente, em papéis pequenos. Já Stuart é um ex-gerente de um bar, dedicado a casa e até bem mais paciente que seu companheiro. Os dois vivem a trocar farpas, numa espécie de jogo. Mas no fim, um não pode viver sem o outro. 

Lógico, como pede a estrutura e enredo de uma sitcom, há também os amigos e parentes que entram nos conflitos e cotidiano do casal: 

Violet Crosby (Frances de la Tour), uma amiga muito próxima do casal. Vi (como muitas vezes é chamada por Freddie e Stuart), vive saindo e entrando em relacionamentos bizarros, metendo-se em situações extravagantes. Muitas vezes comporta-se como uma ninfomaníaca e tem uma queda pelo vizinho dos amigos, Ash.

Elenco da série Vicious
Ash Weston (Iwan Rheon), é o vizinho jovem e atraente do casal. Ele tem uma complicada situação familiar, com pais criminosos que estão presos. Mas isso não abala tanto a sua confiança. Vez ou outra ele aparece com um emprego estranho e novas namoradas. Contudo isso não impede as investidas de Violet. 

Penelope (Marcia Warren), uma velha amiga de Freddie e Stuart que está sempre muito confusa sobre as coisas mais simples. Já teve um brevíssimo relacionamento de duas noites com Stuart na juventude. Para Freddie, ela não passa de uma louca. 

Mason Thornhill (Philip Voss), é o irmão genioso de Freddie. Está sempre a queixar-se das mesquinharias do casal (pura falta de dinheiro mesmo!). Sempre aparece na casa acompanhado por Penelope, quando essa não esquece dele... 

Mildred Bixby (Hazel Douglas), a mãe de Stuart. Todos os dias ele liga para saber como ela está, porém isso nem sempre é feito de bom grado. Ela acredita que um dia o filho se casará e terá um filho e que Freddie é apenas o colega de apartamento do Stuart. Segundo Freddie, nem mesmo Jesus quer passar um tempo com a Sra. Mildred.

Balthazar, o cãozinho quase múmia da casa. Às vezes é necessário borrifar água para que ele reaja a algum acontecimento.

Vicious é da ITV, foi criada por Mark RavenhillGary Janetti, escrita por Gary Janetti e dirigida por Ed Bye.

Ela esteve no ar de 2013 a 2016, com duas temporadas e dois especiais. 

Primeira temporada
Sir Ian Mckellen e Sir Derek Jacobi
Freddie e Stuart

1 Wake - 29 de abril de 2013
2 Cheat - 06 de maio de 2013
3 Audition - 13 de maio de 2013
4 Clubbing - 20 de maio de 2013
5 Dinner Party - 03 de junho de 2013
6 Anniversary - 10 de junho de 2013
7 Christmas Special -  27 de dezembro de 2013

Segunda temporada

1 Sister - 01 de junho de 2015
2 Gym - 08 de junho de 2015
3 Ballroom - 15 de junho de 2015
4 Stag Do - 22 de junho de 2015
5 Flatmates - 29 de junho de 2015
6 Wedding - 06 de julho de 2015
7 Special - 19 de junho de 2016

Vicious é nostalgicamente engraçada e divertida. Não é difícil apaixonar-se por ela. Basta uma olhada e os sorrisos e gargalhadas começam a aparecer.

Recomendadíssima!

A habitual troca de farpas entre Freddie e Stuart
(Sem legendas, áudio em inglês)


Erros de gravação
(Sem legendas, áudio em inglês)



Agora vamos falar sobre Sir Ian Mckellen e Sir Derek Jacobi...

Ian e Derek nos tempos de Cambridge

Bem, Sir Ian Murray Mckellen (nascido em 25 de maio de 1939, Burnley, Lancashire, Inglaterra, 77 anos) é conhecido pelos personagens Gandalf e Magneto. Mas isso é apenas para quem limita-se a explorar essa ínfima parte de sua história como ator.

O Jovem Mckellen
Ele já foi indicado ao Oscar pelos filmes Deuses e Monstros (Gods and Monsters) de 1998 e Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring) de 2001. Já ganhou um Globo de Ouro, 4 BAFTAS e teve 5 indicações ao Emmy Award. Entretanto essa não é nem de longe a parte grandiosa pela qual ele é considerado um tesouro nacional. 

Sir Ian Mckellen
Ian Mckellen é um monstro sagrado dos palcos. Já ganhou 6 Laurence Olivier Awards e 1 Tony Award. Sua especialidade é Shakespeare.

Ele é abertamente homossexual. Conhece Sir Derek Jacobi há tempos. Ambos estudaram em Cambridge, onde Ian ganhou uma bolsa para o curso de Inglês e Literatura. Os dois conheceram-se em 1958 e, na época, Mckellen admite que tinha uma queda pelo amigo, mas não era correspondido.


Uma entrevista de Mckellen, em 1984, por Brian Linehan 
(legendas somente em inglês, áudio em inglês)



E a minha parte favorita...

Jacobi é o meu querido. Sim, isso mesmo. E vou explicar o porquê. 

Derek em Hamlet, 1980
Sir Derek George Jacobi (nascido em 22 de outubro de 1938, Leytonstone, Londres, Inglaterra, 77 anos) é uma lenda dos palcos. Seu papel mais aclamado na televisão é a estupenda série Eu, Claudius (I, Claudius, adaptada pela BBC, em 1976, da série de livros do escritor inglês Robert Graves), onde fez o papel título e por ele recebeu o BAFTA. Tem outros sucessos na televisão, como Cadfael (1994-1998), Last Tango in Halifax (2012-2014), Breaking the Code (1996; no teatro, em 1986, teve o mesmo papel, interpretando Alan Turing) e Little Dorrit (1988) - este com o também espetacular ator inglês Alec Guinness.

Só que sua consagração veio através do teatro, tornando-se referência em Shakespeare, tendo dois Laurence Olivier Awards, 1 Tony Award e 1 Primetime Emmy Award.

Formou-se em História no St. John's College/Cambridge.

Jacobi é, também, abertamente homossexual.

Derek como Claudius
em Eu, Claudius, 1976
Minha paixão por Derek Jacobi é enorme; claro, começou por causa de Vicious. Ele é extremamente charmoso e quando mais novo, era muito bonito. Hoje é um senhor bem apessoado, de cabelos brancos, cor-de-rosa e muito elegante.

Seu jeito de falar e expressar-se hipnotiza, como na expressão "sair algodão de sua boca". Sua voz pode ser tanto eloquente, que poderia, facilmente, reger trovões, como ser suave e meiga, como um leve toque aveludado, que faz o coração derreter-se.

E eu fiquei tão ávida por ele, que comecei uma maratona dos seus trabalhos, partindo de Eu, Claudius, para, somente agora, terminar Little Dorrit. E tem muito ainda pela frente...

Sempre estou a procurar novas e antigas atividades de Jacobi. Por exemplo, em uma entrevista (material bônus do Box de Eu, Claudius), ele fala sobre os papéis mais importantes para ele. O curioso é que apenas um pertence a televisão, que é justamente a adaptação dos livros Robert Graves. O restante é todo de teatro - ele é um homem dos palcos e vive para isso.

Sir Derek Jacobi
Só que mesmo os grandes nomes e lendas da atuação não estão a salvo dos problemas que podem abalar suas carreiras. Depois de uma turnê mundial de Hamlet, em 1980, o ator sucumbiu ao que chamou de verme da dúvida e começou a ter medo dos palcos e foi assim por dois anos. Como ele mesmo disse em uma entrevista ao Jornal The Guardian, em 25 de julho de 2016:

"Eu estava cansado e não estava mais apreciando aquilo por um tempo. Houve um verme da dúvida na minha cabeça. Eu simplesmente não podia mais fazer aquilo. E eu não entrei nos palcos por dois anos."

Quando ele estava em Munique, no fim desse período de dois anos, recebeu um convite para interpretar Benedick na peça shakespeariana Muito Barulho Por Nada. Ele aceitou e foi através dela que veio a salvação para perder o medo de entrar novamente nos palcos.

Bom, sorte a nossa que esse momento difícil foi superado. E, dessa maneira, podemos ver suas maravilhosas interpretações com a maestria que somente ele possui.

E vida longa a estes dois gênios!

Derek Jacobi em fragmento de Hamlet, Príncipe da Dinamarca, BBC, 1980
 Ser ou Não Ser - Ato 3, cena 1
(Sem legendas, áudio em inglês)


Uma copilação de cenas com Derek Jacobi no filme Henrique V, de 1989, onde ele é o narrador. Sua interpretação é memorável nesta película!
(Sem legendas, áudio em inglês)


Entrevista com Derek Jacobi (material bônus do Box de Eu, Claudius), em 2010. 

sábado, 24 de setembro de 2016

Anoitecer (Dusk) - Flauta Nativa Americana - NAF


Ao anoitecer, todos os espíritos saem das florestas rumo as montanhas vermelhas. E seus passos vão de norte a oeste, deixando rastros azuis de encantamento e gotas de lágrimas incandescentes - são as estrelas que cintilam no boreal. (T. S. Frank)

***

Anoitecer
Flauta (em bambu) Nativa Americana, chave em F, pentatônica

Tocada por T.S. Frank
Música incidental: Dusk pt. 1, Sound of the Earth - Dusk.

Dusk
Native American Bamboo Flute, Key F, pentatonic,
Performed by T.S. Frank
Incidental music: Dusk pt. 1, Sound of the Earth - Dusk.





quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A bissexualidade, a não maternidade, maternidade tardia e outras questões...

Ah, esses nefastos dias de opressão, golpistas e republiqueta. O mundo tornou-se um caos por culpa do medonho embuste por trás da moral e dos bons costumes... Que blasé!

... E por esses dias estava eu a discutir sobre a bissexualidade.

Acredito piamente, o ser humano é bissexual. O amor não faz escolhas. E isso seria tão natural se o mundo não amargasse em questões religiosas extremistas.

Até o momento, nunca apaixonei-me por uma mulher. Mas isso não tira-me a possibilidade de que talvez um dia isso ocorra. Afinal, o amor e o desejo fazem distinção entre quem tem um pênis ou uma vagina? Ou a enraizada culpa religiosa e machista amarga qualquer pensamento sobre isso? São perguntas pertinentes em um mundo ainda em suave transição.

Esta foi uma semana reveladora. Muitas pessoas que eu gostei ou namorei, de fato, já experimentaram ambos os lados. E, pelo que sussurram, talvez, fiquem na oposição. Uma delas é um conto bem triste, com suicídio, disfarces e assuntos que foram escondidos por aqueles que eu confiei. Para este eu desejo uma felicidade plena.

Relacionar-se é um bocado difícil, seja com homens ou mulheres. Não importa. É o cotidiano sufocante em um mesmo ambiente que aniquila qualquer possibilidade de paz e satisfação. Quase um filme Veludo Azul: a face bizarra de um mundo coberto pelas cores artificiais de tulipas esfuziantes que escondem existências tão degradantes como a pior sarjeta existente - sem tirar e nem por.

Eu já passei pela experiência de ficar uma semana na minha casa e uma semana na casa do meu ex-namorado, alternando durante uns seis meses. Meu Deus do céu... Que patético. Aquilo definitivamente não é para mim. Uma grande sensação de estrangulamento, deslocamento e todos os mentos. E como a vida flui, eu tive que dar um ponto final nessa tragédia anunciada. E, posso afirmar por agora, que não quero esse tradicionalismo nem pintado com o orvalho dourado da manhã. Sim, eu quero um living apart together, assim como escrevi aqui, nesse blog, há 5 anos.

Não posso ser acusada de não tentar. Afinal, todos os religiosos, machistas e românticos ensandecidos gostam de dizer que não se encontrou a pessoa certa e blá, blá, blá... E sobe-me uma certa quantidade de sangue para a face quando escuto algo do tipo. Padronização desenfreada e empurrada garganta abaixo não há como tolerar. É como calçar sapatos comprados em lojas: eles são feitos para vários números iguais ao seu, mas seus pés são únicos e uma hora um deles vai machucar muito e deixar sequelas.

Aliás, há um certo misticismo em várias questões femininas. Exemplo? Virgindade. Nunca entendi o porquê dessa aura dourada e fantasiosa em torno dela. Na prática é bem mais simples - não há mortos e nem feridos - um pedacinho de pele foi-se - não existe nenhuma obrigação. Como a vida era difícil quando por causa desse famigerado hímen muitas mulheres tinham que viver com um canalha por um longo tempo...

Outra questão é a maternidade. E essa causa-me calafrios. Não pelo desejo de não ser mãe tão cedo, que é algo que grita dentro de mim (eu só tenho 30 anos e nenhuma vocação e vontade, não há útero e hormônios que mudem minha concepção por agora.), e sim pelo fardo que é um acordo (ou uma intimação) unilateral. Está extremamente longe o ideal de parceria neste caso - a paternidade ainda significa uma liberdade maior do que a maternidade. E não venha-me com essa história de que o homem trabalha para sustentar filho e mais umas lorotas. A sociedade aponta no seu rosto todos os dias. Quem conforma-se com isso, tudo bem, padeça no seu paraíso. Mas o número de inconformadas aumenta a cada dia, o que é um alento. Temos aqui uma balança em desequilíbrio visível. E ainda há os riscos de morte na gravidez e a criminalização do aborto. Por isso que amo os pinguins e os cavalos marinhos - a natureza redimiu-se comigo apenas nestes casos.

Por outro lado, a maternidade tardia e a adoção causam burburinhos. Hoje há a tendência de engravidar aos 40 anos. Mas com toda a certeza você já ouviu, ou ouvirá, chiados por todos os lugares. Eu mesma já escutei cada barbaridade de colegas que não valem perder o meu tempo. E a balança novamente pende para um lado - um homem que tem um filho aos 40 anos será abençoado por um bocado de gente. A adoção segue a linha da família tradicionalista putrefada - "eles não são seu sangue.", mas se o casal é gay, há uma virada de casaca: "o que será dessa criança!".

A vida é injusta com as mulheres desde os primórdios. Mas o que ocorre-me é que não há como voltar para o estado em que éramos escravas do mundo e do lar, monitoradas pelas famílias, pelos homens e pelos juízes e juízas moralistas. Só que não aproveitaremos a igualdade como desejamos, que bem mais tarde ocorrerá. A mortalidade não nos permitirá. Nosso papel é lutar, dizer não e revidar - e isso é desgastante e necessário. É seguir em frente com os ideais, mesmo que o machismo velado diga que você é louca, mal amada, encrenqueira, um monstro por não querer ser mãe, defender o aborto e uma série de barbaridades que a sociedade prega como verdades absolutas para uma cidadã de bem.

Sinto-me um ser amordaçado, recorrente a pantomina. Tudo é enfadonho e bem cinzento. Ser mulher é entrar em um campo de batalha minado todos os dias, muitas feridas ao longo da guerra em nome da liberdade...

... A liberdade para amar pessoas, de não ser mãe, decidir sê-lo bem depois...
... Liberdade de ser eu mesma em minha essência - sem o peso das correntes alheias.