domingo, 14 de agosto de 2016

Um sonho sobre assassinatos

O título é assustador e macabro - um sonho sobre vários assassinatos que poderia ser (se sonhos fizessem sentido) um conto do Edgar Allan Poe.

Prólogo

Um dos meus sonhos recorrentes é com assassinatos. Sim isso mesmo! O meu, por assim se dizer. Sonhar com a morte é comum entre nós, porém, nos que eu tenho, ela é sempre causada pelos outros.

Se eu fosse utilizar a Astrologia, que oferece uma gama confusa de diversos significados, ficaria, além de desacreditada, com dúvidas extremas. Foi assim que essa alternativa foi deixada de lado, pois não há nada de místico e verdadeiro em algo que enche, também, sua tela de spams.

Um dia, talvez, eu recorra ao Espiritismo sério. Afinal de contas, eu acredito em reencarnação e carma. E de todas as religiões, incluindo a minha atual que é a Católica, ela é que desperta em mim a sensação de que há, realmente, algo que não pode e nunca poderá ser provado cientificamente, mas que coexiste desde o princípio de todos os universos, invisível para a maioria e para todos os instrumentos, inerente em nossa essência.

Minha mente então fantasia, tornando-se uma roteirista que trabalha enquanto eu durmo. E nela os cenários das angústias tomam corpo e rosto. E filmes horrendos, cheios de pesar, começam a ser rodados.

Sonho
14 de Agosto de 2016 - Tarde

Prelúdio  

Outro sonho frequente é com uma casa antiga e de madeira. Essa casa, muitas vezes, é o primeiro sonho, de curtíssima duração. Eis sua descrição:

Uma casa velha de madeira, enorme, com três ambientes - subsolo, térreo e sótão. Ela está condenada. Muitas tábuas estão soltas. Precisa-se tomar um certo cuidado ao pisar. Não posso afirmar a época a qual ela pertence. Há uma escada em espiral feita de ferro e ricamente decorada. Ela liga o primeiro andar ao segundo. Pela fresta, percebe-se que ela fica em um lugar isolado, pois há um grande descampado com uma grama um pouco desbotada. No sótão há móveis - cadeiras, principalmente. Eles parecem antigos, não apenas no estado, mas de uma época muito distante.  

***

Tudo começa com um navio amarelo parado na beira de uma praia, onde, um pouco longe, pode-se ver um posto de gasolina. No convés, uma mulher conversa com outra - as duas possuem cabelos pretos e são brancas. A primeira parece solitária e um pouco triste e a segunda, distante e não inspira confiança. Estou observando a cena, assistindo em primeiro plano, mas não posso dizer se eu sou ou não a primeira mulher. 

Todos estão indo embora. A impressão é que algo aconteceu com esta embarcação e ela não poderá mais seguir viagem. Apesar de parecer muito fácil apenas descer e ir para a areia, a primeira mulher não vai embora como os outros. Ela decide ficar e, aparentemente, espera a ajuda da segunda que, assim como quase toda a tripulação, foi embora. Ao que tudo indica, essa segunda prometeu algo. Mas, de alguma forma, eu sabia que ela não iria retornar e fazer o que foi combinado. 

A primeira mulher desaparece dentro do navio.

Agora há uma outra cena, dentro do navio, em um ambiente totalmente branco. Desta vez sou eu, do jeito como conheço-me hoje. Estou com pessoas conhecidas e desconhecidas. Somos hóspedes. Mas o navio continua parado. Estamos desfazendo as malas para ficar. É como se conhecêssemos a mulher que sumiu e estamos investigando o seu desparecimento. De repente, uma outra cena: dois contêineres brancos são avistados. Estou lá para abri-los. O primeiro está cheio de água turva e contém vários gatos pretos mortos que encobrem um corpo que não pode ser imediatamente reconhecido. Só é possível saber que é uma mulher e que tem cabelos pretos. Há uma sensação geral que aquela é a mulher que sumiu. O segundo, ao ser aberto, revela uma água clara com um corpo de uma outra mulher com a cabeça decepada e a cabeça está ao lado do corpo. Não há vestígios de sangue na água. Ele parece ser de alguém conhecido no sonho, mas que não conheço na minha vida presente. 

A atual tripulação fica desesperada com a descoberta dos corpos. E deduz-se que aquilo foi obra de um serial killer - pelo modo como foram mortas e onde foram colocadas. Depois de muito se discutir, decide-se sair do navio às pressas e ir para um hotel, pois o assassino poderia estar naquele lugar. 

O cenário muda novamente. O navio agora é a minha antiga casa da infância e eu estou no meu quarto. Continuo a arrumar a minha mala para ir embora, pois o assassino poderia chegar a qualquer momento. E assim que finalizo, ouço um assovio, como um canto assustador, que ecoa por entre a fresta da janela de madeira. Saio correndo, chamando pelos outros, e quando passo pela porta, posso ver o assassino - uma mulher negra e de cabelos cacheados, que segura uma faca pontiaguda e pequena. Ela fala sobre humilhações sofridas e parece ter sede de vingança. Nesse intervalo, ela adentra a casa e uma das pessoas que ficou consegue escapar. Tento abrir a porta da frente, um portão preto, mas a chave está amolecida. Consigo, finalmente, abri-lo. Corremos todos para a rua. A assassina está a nos perseguir incansavelmente. Há uma grande escuridão naquela parte e nossos vizinhos recusam-se a ajudar. A única parte iluminada, onde tenho a impressão que podemos ficar a salvos, fica na rua alta, perto da praça da Igreja. Estamos na direção dela.... 

Mas não sei se conseguimos chegar, pois acordei. 


Epílogo


O blog, ao longo desses anos, está repleto com meus relatos de como a vida tornou-se bem mais difícil há, exatamente, cinco anos. Tudo começou com a mudança de uma cidade para outra, um curso universitário (Física) tardio e difícil de terminar, desemprego, falta de dinheiro, relacionamentos amorosos falidos, amizades falsas, moradias suspeitas, uma cidade extremamente violenta, câncer na família (já superado), estafa mental e uma doença na coluna sem cura: degeneração discal. Eu passei de uma vida ruim com esperança para uma terrível com quase nenhuma gota de ânimo. Hoje eu vivo no que eu chamo limbo. Mudei de casa, vivo com a família, mas sinto-me o tempo toda pressionada e com a sensação de fracasso. Não terminei o curso ainda, não exerço minha profissão da outra graduação, minhas dores na coluna voltaram bem fortes, fiquei sem bolsa da Iniciação Científica e terei que cancelar meu plano de saúde que está caro por demais. Não tenho um bom relacionamento com minha família e todos os dias estou aborrecida. Percebi que os poucos amigos que tenho têm outras prioridades e seus sentimentos nessa ligação são mais ralos que sopa de orfanato. Tudo parece uma tragédia sem precedentes, com uma cor cinza morfética e cheia de bolor.

Todos esses anos e nada mudou - uma prisão fria, onde pode-se ouvir o pingar da água e o vento gélido por entre as grades enferrujadas. Minha consciência é viva e ativa, ansiando por ir velozmente em direção a um mundo novo. Só que meu corpo cheio de dores, a realidade ao redor e todas as pessoas tornaram-se meus carrascos.

Para entender esses sonhos, um psicanalista poderia servir. Aliás, como diz uma prima: psicólogos e psicanalistas são os únicos que nos ouvem porque são pagos. Talvez, um dia, eu descubra o significado desses pequenos filmes sombrios.

Por enquanto, registrá-los já está de bom tamanho.

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