quinta-feira, 14 de julho de 2016

Filho da Lua (Hijo de La Luna)

“Tolos são aqueles que não entendem...”

Uma lenda conta que uma mulher cigana conjurou a Lua até o amanhecer. Ela, chorando, pediu que, ao chegar o dia, se casasse com um cigano. E, do céu, a Lua cheia respondeu:

- Você terá um homem de pele morena. Mas em troca eu quero o primeiro filho que vocês conceberão.

A Lua sabia que aquele que sacrificaria seu primeiro filho para não ficar sozinho, de certo, não iria amá-lo o suficiente. Ela queria ser mãe e não encontrava um amor que a tornasse mulher.

A cigana, por fim, aceitou a oferta. No entanto não parava de pensar: "O que a Lua irá fazer com uma criança de pele?".

O tempo passou, e a mulher teve um filho tão branco como o lombo de um arminho e com olhos cinzas – este era, de fato, o filho albino da Lua.

Entretanto o pai da criança, de pele morena, amaldiçoou a aparência do recém-nascido:

- Esse não é um cigano! E isso não vou tolerar!

Pensando estar desonrado, foi até a sua mulher com faca em punho:

- De quem é este filho? Diga-me! Tu enganaste-me!

E, assim, com a morte a feriu.

Depois foi para as montanhas com a criança nos braços. E ali mesmo a abandonou.

E os antigos dizem que nas noites de Lua cheia a criança renegada está feliz. E quando ela míngua, é porque está a acalmar o choro de seu filho em um berço.

E, dessa forma, contada de pai para filho, a história do Filho da Lua perdura através do tempo.


***

O conto foi extraído da música do grupo espanhol Mecano. Mecano foi uma das bandas espanholas mais relevantes dos anos 80 e 90. Constituída pelos irmãos Ignacio Cano e José María Cano, com a voz de Ana Torroja. A canção chama-se Hijo de La Luna, do álbum de 1986 - Entre el Cielo y el Suelo. De fato, uma das letras mais belas da língua espanhola.



domingo, 10 de julho de 2016

Parentes

Quando estamos condicionados a pobreza e a impossibilidade momentânea de um sucesso que os parentes consideram digno, toda briga em família, mesmo que estejamos cobertos de razão, vira motivo para lembrar que somos um estorvo.

Eu considero parentes (até que seja abençoada pela exceção) a encarnação do próprio demônio - o aviso diário que qualquer que seja o meu passo, serei condenada até o fim dos meus dias.

Hoje minha paz foi abalada pela presença espinhosa dessa entidade que carrega consigo a discórdia e a espalha no núcleo familiar de maneira ardilosa.

Não considero parentes parte da família. Esta reduz-se somente a pais e irmãos, sejam eles também de consideração, e os pets da casa.

Este laço sanguíneo imposto muito mais pelas regras medievais da sociedade do que pela importância genética em si é o peso que muita gente carrega, inclusive eu.

Vivo em um limbo - sem ter para onde ir, sem poder ficar triste, sem quereres que não me causem dores de estômago de preocupação.

Desapeguei-me do agradar. Meus olhos enxergaram porque já sagraram muito.

Mas isto não livra-me de uma raiva interior sólida, uma muralha construída por cada dissabor feito por um parente intrometido.

Hoje gostaria de isolar-me, fugir de tudo isso, considerar-me dona de mim mesma. Esquecer as injustiças e de como a minha boca é silenciada por ordens.

Se pudesse, subiria ao topo de uma montanha onde a Lua brilha platinada e as vozes das almas perdidas sussurram canções de esperança. Não haveria dor, sofrimento e sentimentos de culpa - não existiria a viva memória de parentes.

Ouço lágrimas e mágoas causadas por esses seres maquiavélicos.

E odiar é a palavra da vez...

sábado, 9 de julho de 2016

Colors of the Wind - Flauta Nativa Americana - NAF


Cá estou eu com mais uma gravação em minha Flauta Nativa Americana de bambu.

A música de hoje é um clássico da Disney - Cores do Vento (Color of the Wind), tema principal da animação de 1995 - Pocahontas.

Ela foi composta por Alan Menken e Stephen Schwartz. Venceu a categoria de melhor canção original no Oscar e Globo de Ouro. No Grammy Award, de 1996, foi premiada na categoria Best Song Written Specifically for a Motion Picture or for Television.

No filme, a personagem Pocahontas canta a versão da música que foi gravada pela cantora Judy Kuhn. A versão principal da canção, que foi lançada como single, foi gravada pela atriz e cantora norte-americana Vanessa Williams. O single recebeu uma indicação ao Grammy Award na categoria Best Female Pop Vocal Performance e foi certificado como disco de ouro pela Recording Industry Association of America (RIAA).

Eu, desde pequena, sou apaixonada pela canção. Eu vim de um lugar onde 70% do território é indígena, então, o filme e a música, que ressaltam a importância da natureza e do valor de glorificá-la por tudo que nos oferece, expressam um pouco do meu cotidiano naquela época. Lembro-me que fui assistir em um cinema caseiro e improvisado, afinal, ali era bem distante da DITA civilização...

Colors of the Wind também é uma fixação para os flautistas de NAF. É bem provável que quase todos, nos mais variados níveis de aprendizagem, a toquem nos mais diversos estilos.

Minha Flauta Nativa Americana feita em bambu
Para esta eu tive que usar arduamente a Tablatura Nakai. Em todos os sites especializados, não havia nenhuma tablatura para flauta de 5 furos, somente para as de 6. Tive que adequar todas as notas. O resultado você confere abaixo.

Espero que gostem!

P.S.: antes eu usava o player do 4Shared. Infelizmente, este não quis funcionar hoje aqui na plataforma Blogger. Então, minha gravação está no meu canal do Youtube.



Atualização em 10/11/2016
Player do 4Shared


Colors of the Wind
Flauta (em madeira) Nativa Americana, chave em F, pentatônica
Tocada por T.S. Frank

Colors of the Wind
Native American Flute (wood), Key F, pentatonic, 

Performed by T.S. Frank









Um flautista NAF profissional tocando Colors of the Wind (flauta em madeira)



Para matar a saudade do filme e da música...



terça-feira, 5 de julho de 2016

A megera domada

Dentro do meu peito caberia outra de mim.
Tão leve e cheia de intensidade,
reluzente a milhas de distância.
Um farol incandescente
e transbordante em desejo.

Em mim, tracejados e rabiscos
desse eu altivo e audacioso.
Em tons de ruge,
sedento em cores,
dos mais quentes e selvagens
amores.

Intrépido ser enjaulado,
ferido, acuado e agora
desmotivado.
Febril e doente,
convenientemente
domado e desmitificado.

Dos nuances flamejantes,
restos de cores azuis,
fúnebres e medrosos,
altamente pueris
e jocosos.

Meu eu é metade de mim,
do antes vívido e esfuziante futuro.
Que nunca foi vivido,
mas nunca esquecido.

Sou sombra, passado e
decadência.
Transformei-me em quimera,
sou meu tormento
e minha ruína.

Sou cisma
e solidão.

T.S. Frank