quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Por que ainda escrevo?

Tenho este blog há seis anos. Ele evoluiu, adquiriu corpo e consistência e não houve um ano sequer que não tenha escrito algo por aqui. Este nasceu da necessidade de partilhar tristezas, angústias e dissabores da minha própria vida e assim o faz desde então. Mas há a parte informativa, compartilhando o que sei sobre cinema, música, história, ciência e alguns ramos que não são tão populares assim. Escrever de forma coerente e seguindo a proposta que defini é um prazer trabalhoso. São necessárias muitas consultas, revisão, reformulação e até abandono de textos. E para quê? Eis aqui a constatação um pouco dolorida.

Escrevo para pessoas como eu. E onde elas estão? Aqui neste mesmo mundo quantitativo. Nele, os comuns estão quase sempre sorrindo e contentes com seus lagos rasos. 

Aqui está meu monólogo e pantomina...

Ler não é mais um deleite tão popular. Leituras fáceis, talvez, juntamente com sucessos instantâneos. O mundo é dos youtubers, dos famosos e descolados. Sinto que é o pior momento para ter o talento da escrita - um atestado para a fome, pobreza, anonimato ou, com muita sorte, um nome no rol do clube cult. Falar sobre tristezas e amarguras não causa mais tanta empatia. Falar sobre a alegria dos momentos simples e descrevê-los elegantemente, muito menos. Isso pertence a livros centenários empoeirados e aos poucos saudosistas que anseiam por mudanças que nunca virão.

Seis anos são de uma persistência sem tamanho, ou a palavra mais bonita que conheço: perseverança. Agora, mais do que nunca, escrevo para mim. Um ato que salva-me do fundo das cavernas escuras diárias e dos pensamentos mais sombrios. É uma fuga em minha própria mente, já em seus primeiros sinais de cansaço e estafa. A realidade é demasiada feia para que se viva enrolada, a todo instante, em seus espinhos. E passeios sorrateiros longe disso evitam desastres. 

Aqui há toda uma história de vida, não bonita, muitas vezes triste, injustiçada e ferida. É a colcha de retalhos que fiz de cenas do meu cotidiano, dos amores perdidos, dos não correspondidos e dos maléficos. 

Sento-me aqui para escrever sobre meus próprios motivos em persistir e lá fora há um entulho de tarefas esperando para serem cumpridas. E essas, desinteressantes e frustrantes, são o muro frio de um castelo construído com erros e culpas. 

Perdi quase todo o contentamento com a vida, até mesmo com alguns imaginários. E, para transformar em uma metáfora amena, tenho tencionado ser um raio de luz, sem forma, nem corpo. Gostaria de ser livre, livre de toda a rede depreciativa que moldou um ser a partir dos seus próprios restos e que não teve tempo para fortalecer-se. 

Sinto-me escrava dos meus caprichos e dos enganos que cometi para alcançá-los. Sou nada mais que fragmentos de alguém que desejou respeito, amor e quietude. 

E agora só possuo a minha escrita que ascende somente aos meus olhos. São minhas cartas para além oceano, engarrafadas, que ainda esperam ser encontradas e abertas. 

***

Eu fecho meus olhos e falo com Deus
E rezo para que você possa salvar a minha alma
Eu olho para você a brilhar
Antes que a escuridão se instale
Eu tenho demônios
Eu tenho demônios tentando me pegar
Mas eles nunca irão me derrubar
Sou apenas humano
Por baixo da minha pele, os cortes são profundos
Só preciso de um tempinho para lidar com eles...
(James Morrison - Demons - Higher Than/2015)

4 comentários:

  1. Olá querida,
    Por mais que imaginemos sermos uma voz no deserto, incompreendida e incompreensiva, nossos ecos reverberam nessa caixa de ressonância maravilhosa chamada blogosfera. Claro, sem a pompa e a majestade de outrora, mas ainda um instrumento maravilhoso para alcançarmos aqueles que, tal como nós, se angustiam com esse mundo imagético e acelerado.
    Aqueles que ainda apreciam a pausa de ler um bom texto saboreando um bom café nas noites sossegadas.
    Talvez não sejam mais tantos, mas nós, escritores de blogs, abrimos mão da quantidade pela seletividade qualitativa daqueles que nos leem. E acredite, eles estão por aqui, mesmo em silêncio, tentando buscar um canto acolhedor de empatia e compreensão, num mundo cada vez mais supérfluo e artificial.
    Continue nos brindando com os textos desse blog, porque ele tem muito significado pra mim. Foi um dos primeiros que eu conheci e acompanhei, na época em que tudo era novidade na blogosfera. Muitos daqueles "pioneiros" se foram daqui, mas os heróis da resistência precisam continuar esse bonito trabalho.
    Um grande beijo!

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    1. Olá, querido Almir! Saudades de você! Sim, a pompa de outrora foi-se, ficou em um tempo saudoso. Mas é o ciclo da vida. Obrigada pela força e pela amizade! E continuemos na luta! Beijos***

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  2. Pela primeira vez li seu post...lindo...leve...gostoso de ser lido, belas palavras...bom dia����

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    1. Olá, Cidinha! Que bom que gostou do texto! Espero que volte mais vezes para um café!=***

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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!