quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Crítica da Semana: Brilho de uma Paixão (Bright Star)/2009

Uma explosão de cores em tons pastéis e o fulgor de azuis vivazes. A suavidade do amor expressado através das palavras e construído com primor e delicadeza. Nesse tempo que presenciamos a imposição do amor carnal como o único verdadeiro e possível, a beleza dessa película mostra-nos o que há de mais puro, singelo e (por que não?) revigorante no sentimento primordial que o último grande poeta do romantismo inglês retratou em cada verso de seus poemas.

Produções inglesas de época sempre carregam consigo grandes expectativas. Pudera! Na terra onde reinam os melhores canais de televisão, BBC e ITV, as brigas por audiência são produtivas e trazem trabalhos estupendos. E com os filmes não seria diferente. Eis uma belo exemplo, Brilho de uma Paixão (Bright Star/Austrália/Reino Unido /França/ 2009).

Nos romances, os riscos de cair em um enorme clichê são sempre altos. Porém, nesta película, o amor não consumado em sua totalidade ganha a forma da poesia do inglês John Keats (1795-1821). Keats é um jovem poeta que, pela morte dos pais e da busca pelo reconhecimento de seus trabalhos, vê-se endividado e sem muitas chances imediatas de estabilizar-se. Seu irmão, Tom, há muito tempo doente, acaba morrendo e John muda-se definitivamente para a casa de seu amigo e companheiro de trabalho, Mr. Brown. Brown mora na metade da casa da família de Fanny Browne (1800-1865). John já havia conversado algumas vezes com Fanny em reuniões e festas sociais. Agora como vizinhos, pouco a pouco, o relacionamento transforma-se em um amor puríssimo.

Quem conhece o mínimo de Keats, sabe que ele morreu cedo em decorrência do agravamento da tuberculose que adquiriu um pouco antes. Contudo o modo como o filme apega-se a sutileza do amor entre os dois jovens foge à armadilha do melodramático e carrega uma beleza ímpar de colorir (literalmente) os olhos.

Fanny é interpretada de maneira formidável pela atriz Abbie Cornish e Keats perfeitamente por Ben Whishaw. Wishaw é um ator belíssimo, com traços delicados. Sua figura cativou-me. Não poderia esquecer tal rosto desde Perfume - A História de um Assassino (Perfume: The Story of a Murderer/2006).

A fotografia do filme é primorosa, a trilha sonora é inebriante e a direção é certeira. Aliás, a diretora é responsável, também, pelo filme O Piano (The Piano/1993), que é um dos meus favoritos e conta com a trilha sonora maravilhosa de Michael Nyman.

Brilho de uma Paixão é visualmente espetacular e possuidor de um enredo belíssimo. O amor, com sua enorme gama de ser, é mostrado como um bálsamo. Seus olhos cativantes são capazes de conquistar a mais incrédula e seca das criaturas. Simplesmente obrigatório assisti-lo - um deleite imensurável!


Curiosidade

O título do filme vem do poema de Keats, Bright star, would I were stedfast as thou art (Estrela brilhante! Gostaria de ser fixa como tu és). O original e a tradução encontram-se abaixo.

Bright star, would I were stedfast as thou art
Not in lone splendour hung aloft the night
And watching, with eternal lids apart,
Like nature's patient, sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft-fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors
No – yet still stedfast, still unchangeable,
Pillowed upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft fall and swell,
Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever – or else swoon in death.

Estrela brilhante! Gostaria de ser fixa como tu és
Não em um solitário esplendor como agora,
Velando como estás, com grandes pálpebras,
As águas movimentadas em torno das praias humanas,
Como um austero eremita da Natureza.
Ou contemplando a agradável máscara da neve por sobre as Montanhas e os Pântanos.
Não – Quieta, imutável como sempre,
Parada sobre o seio maduro de minha amada,
Para que eu sinta eternamente seu calmo respirar,
E acorde um dia numa doce inquietação.
Quieta, fixa, para que eu ouça sua terna e calma respiração,
E assim viva para sempre, ou desfaleça na morte.

Trailer - Brilho de uma Paixão



Fontes

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