sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Crítica da semana: Sede de Viver (Lust for Life)/1956

"Van Gogh foi o gênio incompreendido, marcado por falhar em aspectos importantes de uma época ainda fechada para a liberdade de expressão. Apenas desejou achar seu lugar no mundo, um mundo em tons de amarelo energético. E com Sede de Viver, Kirk Douglas transforma-se na vivacidade de Vincent - sua vida e suas histórias com a essência de seus quadros - muita intensidade."

Pintores (as) e escritores (as) têm muito em comum - o reconhecimento póstumo. E os (as) maiores (as), quase sempre, são os (as) que enlouqueceram pelo meio do caminho ou sucumbiram à pressão de uma sociedade não preparada para a gama de ideias e opiniões dos mesmos (as), por exemplo: Edgar Allan Poe, o grande escritor dos contos de terror e suspense, que influenciaria Arthur Conan Doyle e Agatha Christie mais tarde, acabaria retirado da sarjeta, delirando antes de morrer; Vermeer, o pintor da luz e perfeição técnica, viu-se na pobreza e, por dever muito e não ter mais condições de sustentar a família, morreu de um ataque do coração. Sendo assim, não foi diferente com Vincent van Gogh. Sua vida curta, cheia de histórias e incompreensão, terminaria de forma trágica aos 37 anos. E coube ao filme Sede de Viver (Lust for Life/EUA/1956) retratar com maestria essa trajetória. A película traz atuações espetaculares de Kirk Douglas (Vicent van Gogh) e Anthony Quinn (Paul Gauguin).

O filme merece ser comentando desde a abertura, com o emblemático Leo The Lion da MGM (em sua época de ouro), passando pelas mãos firmes e certeiras do diretor Vicente Minelli (sim, o pai da Liza e, na época do filme, já divorciado da Judy Garland) e terminando com um mosaico das obras originais de van Gogh vindas de museus e coleções particulares.

A história começa em 1877, mostrando o serviço religioso de Vincent em uma vila de mineiros na Bélgica. Vivendo em condições deploráveis e sem dar notícias, van Gogh preocupa o seu irmão Theo que aparece e o leva novamente para a Holanda. Van Gogh aos poucos recupera-se, porém uma desilusão amorosa o faz mudar para Paris, onde seu irmão Theo trabalha como negociante de artes. Na grande cidade, ele faz contato com diversos artistas impressionistas e conhece aquele que viria a ser seu maior amigo, Paul Gauguin. Influenciado por Gauguin, van Gogh vai atrás de lugares ensolarados para pintar e muda-se para a Bretanha. Algum tempo depois, Gauguin vai morar com ele. A situação precária em que os dois vivem e a deterioração mental de van Gogh fazem com que os dois não continuem juntos. Theo vai em socorro do irmão que pede a ele para ser internado em um manicômio.

O filme possui cores altamente vivas que caem como uma luva no enredo. É como enxergar através dos olhos do próprio Vincent e sentir sua agonia e seu desespero (desconfia-se que o pintor via tudo em amarelo, a chamada Xantopsia, talvez por beber absinto demais, ou fosse daltônico; também há a suspeita de que sofria de esquizofrenia ou de transtorno bipolar). Despojado dos bens materiais, ele estava onde o povo estava, vendo e pintado os agricultores colhendo, os ventos soprando nos campos, a boemia embriagada, as estrelas incandescentes, luzes e mais luzes.

Todo este trabalho rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para Anthony Quinn, além das indicações nas categorias de Melhor Ator, Melhor Direção de Arte e Melhor Roteiro Adaptado. Kirk Douglas recebeu o Globo de Ouro de Melhor Ator Dramático daquele ano por seu papel no filme.

Há pouco para reclamar, a não ser minúcias, desta bela obra: a falta da cena completa da orelha cortada (uma das melhores do filme e a mais emblemática da vida de van Gogh) que geraria a concepção de Autorretrato com a Orelha Cortada. Sabe-se que este famoso quadro do pintor foi concebido em 6 de janeiro de 1889 e a orelha foi-se antes, em 23 de dezembro de 1888. Porém a pintura não é vista em parte alguma do filme, nem mesmo no mosaico final.

Não há como finalizar sem mencionar o trabalho da grande lenda das trilhas sonoras: Miklós Rózsa. Responsável pelas composições dos épicos Ben-Hur e Quo Vadis, Rózsa criou para Sede de Viver uma das trilhas mais belas do cinema. Infelizmente a trilha não foi indicada ao Oscar. Um grande erro!

Se você é amante das artes ou só conhece van Gogh porque alguém na sala de aula um dia quis cortar a própria orelha, este é um filme altamente recomendável. Uma das grandes maravilhas de uma época salpicada com o amarelo dourado dos grandes atores, atrizes, estúdios, diretores e composições musicais.

Trailer


Trilha sonora [parte final - a parte da abertura é ainda mais bonita, mas ainda não foi disponibilizada no youtube]

6 comentários:

  1. Olá, Ticyana.
    Ainda não assisti a este filme, valeu pela indicação.
    Kirk Douglas é realmente um dos maiores atores de sua época, já que conseguia passar a emoção e o sentimento que seus personagens exigiam.
    Finalmente assisti Sherlock; série excelente.
    Abraço.

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    1. Olá, querido Jacques! Pois é, Kirk Douglas é um máximo. Os atores da Era de Ouro eram um outro nível. Ah, Sherlock é um máximo. A terceira temporada vem aí no dia primeiro de janeiro. Abraços.

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  2. Oi,

    parece que realmente é um épico né. a história é interessante e sua descrição aguçou ainda mais a temática do filme.

    Te convido a visitar meu blog em novo endereço e, se quiser, voltar a seguí-lo. Será uma honra.
    grande abraço.

    http://minhacabecablog.blogspot.com.br/

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    1. Olá, querida Marcela! O filme é maravilhoso! Eu recomendo! Sim, já vou colocar no hiper cafeinados do blog. Beijooos***

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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!