domingo, 25 de março de 2012

Poeminha do abalo noturno

Lá, ao longe, a minha alma caminha pelos ladrilhos bonitos de uma vida que nunca existiu.
Há flores amarelas tulipando as cercas que recobrem campos verdes de voraz calmaria.

Mas, aqui, a verdade, a feia verdade, impõe a escuridão do medo, da vergonha de ser...
Alguém perdido onde não deveria estar.

A morte e as feridas, cortes abertos - exagero em vermelho.
Barquinhos que flutuam em meio a águas turvas formadas por lágrimas noturnas.

A mesma rotina, dia após dia, nada a esperar.
Assim eu vejo a cidade velha da minha mais velha janela.
E meu mundo desaba em gotas de desespero silencioso.

As moças alegres que contam seus dias, todos os dias, pelos corredores.
[eu pergunto-me se a felicidade é um dom]
E os rapazes que esbanjam sorrisos de vitalidade:
São as idades douradas da juventude.

Meu tempo perdeu-se em meio a altas fantasias
De amores que nunca existirão.
Amores físicos notáveis, intransponíveis, intangíveis e inexistentes.

E eu caio lenta e vertiginosamente
Rumo às folhas secas
Que prenunciam
Que a alma que lá atrás ficou
Precisa muito mais
Do que esperanças baratas
Forjadas no caos da dor.

2 comentários:

  1. Belo poeminha noturno! Tomara que você tenha muitas insônias pra poder escrever mais poeminhas desses!

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  2. Miga, linda!
    Que saudades de ti!

    Poema muito intenso e interessante, ao mesmo tempo delicado e doce, creio que esta frase sintetiza tudo que pensei:

    "Barquinhos que flutuam em meio a águas turvas formadas por lágrimas noturnas."
    Lindo!

    Beijos, Ticy, te cuida, tá bom?
    Ótima semana!

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Querido (a) leitor (a), obrigada por ler e comentar no Café Quente & Sherlock! Espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Até a próxima postagem!